Mundo Negro

Tia Maria, a guardiã do Jongo da Serrinha

Por Leonne Gabriel *

Foi lá na Serrinha de Madureira, na Zona Norte do Rio, que uma mulher fez história. Maria de Lourdes Mendes, filha de Zacarias e de Etelvina, nasceu no dia 30 de dezembro de 1920 no “berço do samba” carioca. Tia Maria do Jongo, como ficou conhecida, foi a guardião do jongo da Serrinha, uma das genuínas expressões da cultura afro-brasileira. Como diz o samba desse ano da Mangueira, precisamos ouvir as Marias, Mahins, Marielles e Malês. A nossa Maria levou a história desse país no braço ou melhor nos pés que nunca cansaram de dançar. E foi dessa forma que ela se despediu, em uma roda de jongo na manhã do dia 18 de maio.

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Tia Maria do Jongo era uma imperiana das primeiras horas. Junto aos seus oito irmãos fundou o Império Serrano, em 1947, que veio a se tornar uma das escolas de samba mais tradicionais do Rio de Janeiro. A imperiana de coração saia todos os anos na Ala das Baianas e era a única fundadora viva da agremiação.

Tia Maria recebendo o prêmio Sim à Igualdade Racial, no dia 14 de maio (Foto @humbertosouza)

Na última terça-feira (14/05), Tia Maria ganhou o mais que merecido Prêmio Sim à Igualdade Racial na categoria Arte em Movimento.

Ela subiu ao palco emocionada e deixou o seu recado: “O jongo da Serrinha agradece e terá um grande prazer se vocês um dia puderem passar uma tarde com a gente lá. O jongo é bom. Vocês vão gostar”. Foi uma passagem de bastão, precisamos preservar o jongo para manter viva a memória de Tia Maria.

Ela cresceu em ambientes de muita alegre e era amante de carnaval e de festas juninas. A sua família sempre foi presença obrigatória entre os sambistas do Império, mas desde criança sua paixão maior era o Jongo.

Em 1977, o Mestre Darcy convidou Maria de Lourdes para entrar no grupo Jongo da Serrinha. A partir daí, ela se tornou Tia Maria do Jongo e nunca mais parou.

Nos últimos anos, a casa da jongueira tornou-se o local de confraternização do grupo, que ensaia e festeja antigas tradições como a feijoada em homenagem aos pretos-velhos no dia 13 de maio e a distribuição de doces de São Cosme Damião. Apesar do pouco estudo, Tia Maria foi dona de uma imensa sabedoria e passou a compor pontos de jongo.

* Leonne Gabriel é um jovem jornalista em formação, graduando em Comunicação Social Jornalismo na PUC-Rio. Atua na área de comunicação e relacionamento do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR). Participou do projeto Geração Futura (2019) do Canal Futura de produção de conteúdo para TV e do Common Purpose Student Experience (2019) na Fundação Dom Cabral (FDC).

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