“Branca demais para ser preta, preta demais para ser branca”. Foram com essas palavras que Rayza Nicácio, uma das primeiras mulheres a falar sobre cabelos crespos no Youtube, divulgou o vídeo em seu canal no Youtube, onde ela tenta colocar um ponto final na polêmica sobre a sua cor/ etnia. Eu particularmente comecei a segui-la bem no começo do canal sempre achando que ela era negra. Porém me chamou a atenção, quando vi em alguns grupos de discussão, um pessoal fazendo duras críticas a Youtuber pelo fato de ela não se assumir negra.
Sempre fiquei meio cismada com essas cobranças de assumir cor e orientação sexual, digo, como se falar que faz parte do grupo dos oprimidos e estar sujeito a ofensas e agressões, on e offline, fosse algo simples e fácil. Nós nos descobrimos em relação ao nosso gênero, orientação sexual, nossa cor, crenças entre outra coisas. E todo processo de construção interno não tem um tempo cronometrado ou estabelecido como “normal”. Cada um tem o seu e há quem apesar de todas as evidências vai morrer velhinho achando que é moreno.
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Rayza felizmente descobriu ainda jovem e está muito bem com isso. Ela inclusive assume ter ficado em cima do muro em muitos momentos onde poderia ter dito que era negra, mas com bom humor e humildade ela confessa que estava perdida sobre quem ela realmente era e as pessoas a definiam, não ela mesma. “O meu pai é um homem negro, mas eu só sei disso hoje. Quando eu era criança nunca tinha pensado sobre isso”, explica Rayza.
A Youtuber disse ter sido coagida por alguns seguidores para que não se assumisse negra. Outros comentários vindos de pessoas negras também a intimidaram e dificultaram seu processo de “sair do armário”. “Recebia mensagens privadas de pessoas de pele escura dizendo que eu não era negra por ter estudado em escola particular e nunca ter sofrido racismo”, desabafa Nicácio que disse, eu seu vídeo, que sofreu racismo sim, até por conta do seu cabelo, que ela por muito tempo odiou.
Ela assume tranquilamente sua ignorância em relação a temas, que sejamos sinceros, estão fora do alcance da maior parte da população negra que não usa Facebook como fonte de informação para assuntos de conotação social e política, que são colorismo, feminismo negro e racismo reverso.
Feliz na própria pele
Por meio de vídeos de Youtubers negras, como Nataly Neri e Gabi Oliveira, Rayza disse que começou a entender quem ela era, e que se assumir como mulher negra passou a ser inevitável. “Eu sempre soube que eu era negra, mas tive medo até por conta da posição de alguns militantes do movimento negro, mas hoje quero conversar e aprender com eles. Eu tenho muito orgulho do que eu sou e ninguém pode tirar isso de mim, mesmo tendo a pele clara” finaliza Nicácio que ainda sugere que seus seguidores assistam Dear White People (Netflix), para como ela, entender melhor o que é ser uma pessoa negra no mundo.
Ninguém é obrigado fazer um vídeo dizendo que descobriu que é negro, mas no caso de influenciadores, atitudes como essa ajudam seus seguidores quem também têm questionamentos similares. Nossos jovens negros precisam não só do rosto negro bonito, mas de discursos empoderados como o que Rayza fez em seu vídeo. Ela não precisa mais falar sobre raça ou racismo, mas sendo uma mulher negra com mais de 1 milhão de assinantes no seu canal no Youtube, ela se torna uma das nossa maiores referências afro-brasileiras da atualidade.