O espetáculo “Solano, Vento Forte Africano” apresenta a trajetória humana e artística de Solano Trindade permeada por música, dança e poesia no ano em que o poeta recifense completaria 111 anos. Com dramaturgia de Elisa Lucinda e Geovana Pires (que também assina a direção), direção musical de Beá e direção de movimento de Valéria Monã, a temporada vai até dia 29 de setembro, sextas, sábados e domingos, às 19h no Teatro Dulcina.
A peça é permeada por música, canto, dança e sapateado, conduzindo o espectador de forma lúdica à trajetória de Solano. A narrativa evidencia episódios marcantes, como seu convívio com a atriz Ruth de Souza, amiga que o abrigava após as manifestações políticas pelos direitos dos trabalhadores; e o momento em que “Mulher Barriguda”, cuja letra é de Solano e compreendida como canção de protesto à ditadura militar, foi gravada pelo grupo Secos e Molhados, em 1973.
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“A voz de Solano se faz necessária neste momento porque, infelizmente, tudo que ele falou há 70 anos segue em pauta. O Brasil ainda sofre com essa ferida aberta que é o racismo; os direitos dos trabalhadores estão caindo por terra e o povo vem sendo massacrado. A luta de Solano se dava com armas como a poesia, a palavra e o amor”, diz Geovana, diretora e idealizadora do projeto.
O elenco e a equipe técnica do espetáculo são predominantemente formados por profissionais negros. “Solano tem profunda importância na unificação dos movimentos negros”, reforça.
Nordestino como Solano, o ator Val Perré foi escolhido para dar vida ao “poeta do povo”, que foi ainda fundador do Teatro Popular Brasileiro, companhia formada basicamente por domésticas, estudantes, comerciários e operários na década de 1950.
“Tive a dimensão da importância da obra do Solano ao receber o convite para interpretá-lo e, como ator negro e nordestino, fico pleno de prazer e reconheço esta responsabilidade. Temos uma missão de levar a obra de Solano a todos, dando voz e continuidade, percebendo a mensagem de liberdade e o amor que é latente na sua obra”, ressalta o ator, que começou a carreira no Balé Folclórico da Bahia até ser descoberto por Gabriel Vilela e estrear em “O Sonho” (1995).
Embu das Artes (SP) foi o local escolhido para o espetáculo realizar sua primeira apresentação, em 13 de maio deste ano. “A família acompanhou todo o processo e tivemos a honra de ter seu filho, Liberto Trindade, como consultor das músicas populares que Solano usava em suas peças. Contaram-nos muitas histórias que não sabíamos e as inserimos na dramaturgia. Foi um momento mágico e emblemático”, relembra Geovana.
“Este espetáculo é um grito de liberdade. Creio que a mensagem mais importante é a consciência de que estamos em guerra, que o Estado está dizimando nossa juventude negra e que temos que nos unir para vencer. É urgente e todos estão envolvidos”, finaliza.