Série Anos Incríveis terá reboot com família negra

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Série Anos Incríveis terá reboot com família negra

A rede estadunidense ABC anunciou que fará um reboot da série Anos Incríveis, só que desssa vez, existe uma diferença primordial. Assim como a série original, essa versão também se ambientará nos anos de 1960. Mas pela ótica de um menino negro, de uma família de classe média, no sul do país.

Pra quem tá ligado, é justamente a época e a região dos EUAses onde o racismo se apresentava de modo feroz, direitos civis e tals. Mas nem é isso que me deixa curioso pra ver a coisa toda acontecer. É mais uma renovação de esperanças e ver uma família negra lidando com situações de modo mais real e com uma abordagem que saiba lidar tanto com questões mais genéricas, como convívio na escola quanto assuntos inevitáveis, como o próprio racismo.

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E que os deuses das séries permitam iluminar a mente dos produtores. Aliás, um detalhe é que um dos produtores e diretor do episódio piloto, é Fred Savage, o protagonista da série original. Então, ter negros na frente e atrás das câmeras pra produzir uma série com participação do ator principal de antes é mais do que otimista a minha expectativa.

E digo isso porque o período histórico tem tudo pra dar substância à série enquanto representatividade. Até referência em como as coisas eram, como são, o que pode vir a ser a partir do que é feito, o que fazer, como reagir diante dessa ou aquela situação, saca? E porque eu acho isso? Porque uma série que poderia ter se aprofundado, mas deu foco mais na comédia e menos na relação dos personagens com a vida foi Todo Mundo Odeia o Chris.

Veja bem, não acho a série ruim e nem um desserviço. Tem mais pontos positivos batendo no placar, mas a situação é a seguinte: Eu, um infantonerd juvenil dos anos 80/90, que cresceu sendo chamado de Cirilo ou filho do Mussum, já era um marmanjo quando a série de Chris Rock estreou. E ali eu vi muito do que eu mesmo passei, claro, guardando as devidas proporções entre uma vida real e uma série. E é isso que me incomodava na série.

A série poderia ter dado um alívio pra quem assistia, pelo menos, de vez em quando, nos dando a chance de ver o protagonista contrariar a expectativa do título e reagir com alguma fala ou ação. Ficava sempre no pastelão e aquele arquétipo do protagonista loser. Lembro que, há alguns meses, assistindo uma live da querida cantora Teresa Cristina, ela relatou que orientada pela filha, foi conhecer a série do filho do Julius. E ficou chocada.

Acho que ela teve a mesma reação que eu, só que depois de a série estar concluída. Eu acompanhei por um tempo. Não estou falando mal, eu rio bastante, mas enquanto peça de comunicação de grande alcance, acho que poderiam ousar mais na abordagem do racismo, por exemplo. Pra se ter uma ideia, em algum texto meu de anos atrás, no meu blog de Samba, alguém se prestou a ir comentar contra um texto meu antirracista dizendo que eu deveria ser um negro mais bem resolvido, como Chris Rock.

Tem noção? Obviamente ele não entendeu nada, nem da série nem da carreira de Chris Rock. Tomou vacina anti-ironia nitidamente e ficou imune. E porque eu acho isso? Porque além de um grande problema de cognição, aquele cara não devia conhecer o stand up do criador da série. E pela série em si, conheceu um menino que falava em off, mas não reagia. Passou uma mensagem subliminar involuntária de que era só um menino bonzinho, mas azarado e seguia a sua vidinha feliz.

Então, fica meu apelo a Anos Incríveis, que saiba lidar, mesmo que de forma leve e família, com as questões sérias que não podem ser banalizadas numa piada em nome do puro entretenimento desapegado dos subtextos que pode acabar gerando. Não falei de outras produções protagonizadas e produzidas por negros porque Todo Mundo Odeia o Chris é a série mais recente (?!) que eu acompanhei com essa pegada de contador de história adulto lembrando sua infância. Falando nisso, pra se ter uma ideia do que eu quero dizer (e digo) lembremos de Um Maluco no Pedaço.

Em termos de produção, era bem menos avançada e, pra falar a verdade, certas coisas, além de datadas, envelheceram muito mal. É só lembrar ou reassitir que a gente vê um bullying sobre altura, forma física e situações próximas a assédio que mesmo lembrando a época e a idade retratada do protagonista, dá pra se encolher um pouco no sofá de vergonhazinha. Mas tinha episódios inteiros sobre paternidade, abordagens policiais, direitos civis, Luther King, Malcolm e relacionamentos interraciais. Sacou, onde eu quero chegar com isso?

No frigir dos ovos, torço pra que dê muito certo e inspire novos reboots e novas produções com o nosso olhar e feito por quem vive ou viveu na pele, pra arrebentar na abordagem sobre quem e pra quem está tudo sendo exibido.

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