O Ministério Público do Trabalho (MPT) denunciou Sérgio Camargo, presidente da Fundação Cultural Palmares, por assédio moral, perseguição ideológica e discriminação. Em matéria exibida no Fantástico deste domingo (29) um trecho da ação, protocolada após o MPT ouvir depoimento de 16 funcionários e ex-servidores, mostra que Camargo perseguia servidores considerados “esquerdistas” e não alinhados com as pautas bolsonaristas.
Em um dos trechos da ação destacados pela reportagem, o MPT diz que Sérgio Camargo “contaminou todo o ambiente de trabalho e gerou terror psicológico” dentro da Fundação Palmares. Todos os depoimentos coletados apontam para prática de assédio moral por parte do presidente da Fundação Palmares
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Após a veiculação da matéria pelo Fantástico e repercussão no Twitter, Sérgio Camargo usou as redes para dizer que os críticos são “afromimizentos” e, nas palavras dele, “massa de manobra que pensa com a cor da pele”. Em declaração ao Fantástico, o líder da Coalizão Negra por Direitos, Douglas Belchior aponta o desserviço de Camargo no cargo de presidente da Fundação Palmares: “Ao invés de fomentar, defender, promover o imaginário, a contribuição histórica da população negra para formação da cultura nacional, ele faz o contrário. Ele está prestando serviço para nossos algozes históricos”, disse.
Em entrevista ao Site Mundo Negro, Patrícia Santos, CEO da EmpregueAfro, Executiva de Gestão de Pessoas e Especialista em Diversidade Étnico-Racial ressalta a importância de denúncias para combater a prática de assédio moral no ambinte de trabalho: “A gente sempre fala que é importante denunciar porque o MPT é 100% comprometido em apurar as denúncias. É comum que as pessoas se sintam acuadas e com medo. Para denunciar em delegacia é preciso que haja duas testemunhas no mínimo, enquanto que no site do Ministério Público do Trabalho a denúncia pode ser feita de maneira anônima”, diz Patrícia, que acredita que através da denúncia o bolsonarista será punido.
Sérgio Camargo tem atacado ferrenhamente tudo que representa a Fundação Palmares e se coloca como um soldado bolsonarista em uma cruzada contra as conquistas do povo preto. “Não conheço a história dele a fundo. Tenho algumas hipóteses. Acredito que falta de amor próprio, reprodução de auto ódio, entendimento real das questões raciais. Infelizmente ele, Fernando Holiday e outros que se destacaram no bolsonarismo provam que não basta ser negro, é preciso consciência negra, amor próprio, auto estima”, diz Patrícia. Opinião parecida com de Douglas Belchior, que postou em seu Twitter respostas às recentes postagens de Camargo: “Parece que o presidente da Fundação Palmares tá surtando nas redes sociais. Mas como há tempos me bloqueou em todas, não consigo ver. Camargo cumpre o vergonhoso papel de serviçal de Jair Bolsonaro e desse governo supremacista branco. Fora Camargo! Fora Bolsonaro!”, postou.
Para Belchior, Sérgio Camargo só aprenderá diante de algum choque. “Se aprender. Aprenderão na dor. Ou não aprenderão. Perdem familiares, amigos e respeito, como aconteceu com Camargo. O que será dele ao fim desse governo? Porque ou derrubaremos Bolsonaro ou o derrotaremos nas urnas. Ele acha que será acolhido pelos brancos racistas depois desse tempo de ocupação da máquina pública? Em algum momento ele se decepcionará. E vai sentir. É inevitável”, concluiu.
O Mundo Negro perguntou se há chance de pessoas pretas radicalizadas como Camargo terem algo próximo de uma redenção.
Patrícia Santos: Acredito no que Nelson Mandela dizia, que se as pessoas aprendem a odiar, elas podem aprender a amar É possível que ele possa ter algum lapso de consciência e entender todo cenário e estar do lado correto da história. Nesse momento tão importante para o movimento negro em que a gente cresce com as demandas, já ocupa a grande mídia, fala sobre nossas dores e inclusão nas grandes empresas. Esse tipo de comportamento de um homem negro é um retrocesso. É possível enxergar além do umbigo e mudar de atitude.
Douglas Belchior: Nossa crítica ao Camargo não é por ser uma pessoa negra. Mas por ser um gestor que destrói políticas e instituições que deveriam servir ao interesse da comunidade negra. Por ser apoiador de um governo racista e genocida. Ser um membro que trai sua comunidade é um elemento a mais. E tudo bem. Pessoas negras têm o direito de ter o posicionamento político que quiserem, assim como brancos tem. Não somos iguais. E cada um que pague o preço de seus posicionamentos.