Não é muito comum aqui no Brasil, mas Outubro é considerado pelos estadunidenses como o mês da Ficção Científica ou Ficção Especulativa Negra (Black Speculative Fiction Month). Essa data faz muito sentido quando a gente olha para o que podemos chamar de “Tradição da Ficção especulativa” e entende que os maiores nomes dessa produção eram apenas pessoas brancas, eram, porque nas últimas décadas os ficcionistas negros começaram a ocupar uma fatia muito grande do imaginário popular com livros, filmes, séries e Histórias em Quadrinhos.
Nos últimos anos você deve ter assistido no mínimo uma das produções de Jordan Peele, como os filmes “Corra” ou “Nós”, acompanhou o sucesso estrondoso do filme Pantera Negra, viu as obras de Ficção da Octavia Butler traduzidas por editoras Brasileiras e assistiu produções afrofuturistas como a produção do Spike Lee na Netflix, “A Gente Se Vê Ontem” ou de heróis como Luke Cage e Raio Negro.
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Se você já conhece algumas dessas obras então entendeu que a Ficção Especulativa Negra só tem crescido como tendência cultural e audiência. Claro que a produção Negra Brasileira não fica de fora, por isso eu vou indicar algumas obras e autores nacionais pra você compartilhar nesse mês da Ficção Especulativa Negra.
Eu Sou Lume de PJ Kaiowá
Essa HQ conta a história de Ludmila, uma jovem com um talento sem igual para dança, aos poucos vai descobrindo outras habilidades das quais podem trazer problemas aos invés da fama e sucesso. Sua vida muda totalmente quando seus poderes eclodem ao se deparar com seres poderosos e perigosos chamados TREVAZ. Agora Mila vai lutar para manter seu lado humano e como LUME, assume a missão de trazer luz onde a sociedade insiste em manter na escuridão
O roteiro e as ilustrações são do artista PJ Kaiowá, ele é uma das minhas maiores referências quando penso no poder de um ficcionista negro brasileiro, o cara simplesmente já trabalhou com alguns das maiores editoras de quadrinhos e games do mundo: Legendary Comics, Capcom, Warner, Dark Horses Comics e Devils Due Comics. Alguns trabalhos de destaque com quadrinhos foram PACIFIC RIM: TALES FROM YEAR ZERO, HOW TO PASS HUMAN.
Ìségún de Lu Ain-Zaila
Não dá pra falar de fantasia e ficção negra no país sem citar a Lu Ain-Zaila. Em 2015, após uma visita a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, a autora percebeu que não haviam livros em que poderia ser identificar, resolveu então criar uma história de ficção científica semi-distópica na Duologia Brasil 2408, composta pelos romances In) Verdades (2016) e (R) Evolução (2017), lançados de forma independente, os romances contam a história de uma heroína negra chamada Ena, que luta contra a corrupção no Brasil do século 25. Essa parte da história da Lu é muito parecida com a mãe do afrofuturismo, a Octavia, que começou a escrever após assistir um filme e pensar que poderia fazer melhor e mais próximo a realidade dela.
No livro Ìségún a autora constrói uma literatura ousada que já considera uma evolução na sua própria produção afrofuturista: “Ìségún é meu passo além no afrofuturismo à brasileira, no campo da literatura especulativa negra, que mescla entre abebés e ofás pensadores negros e encruzilhadas epistemológicas, literatura periférica e poética social, pessoas negras que entendem o poder contido em suas raízes ou estão a conhecer”
O Nó do Diabo com Gabito Martins
Esse filme traz cinco contos de horror com histórias que se entrelaçam em um período em que a escravidão ainda era vigente no Brasil e uma série de fenômenos estranhos passam a acontecer e cenas de morte passam a ser evidentes. São Vários diretores nesse longa: Ramon Porto Mota, Ian Abé, Gabriel Martins e Jhésus Tribuz. Aqui gostaria de destacar o Gabriel Martins, o Gabito Mineiro que é um dos sócios da produtora Filmes de Plástico. Sua trajetória no cinema tem ganhado bastante reconhecimento com produções como “No Coração do Mundo”. https://www.filmesdeplastico.com.br/no-coracao-do-mundo
Junto com os outros diretores ele consegue entregar uma obra realmente assustadora em Nó do Diabo. Se você tiver estômago para horror sobrenatural e colonial, dá o play que não vai se arrepender.
Foram apenas três nomes aqui, mas fica o convite pra você vasculhar as redes sociais e encontrar outros ficcionistas negros pra celebrar com a gente este mês.