Mundo Negro

“Retrocesso para a vida de todas as mulheres e meninas”, critica Anielle Franco sobre aprovação da PEC que proíbe aborto

Foto: Thay Alves/MIR

A aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que pode restringir os direitos ao aborto no Brasil foi criticada por ativistas que invadiram a sessão e líderes feministas, incluindo a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Em uma publicação nas redes sociais, Anielle denunciou o que considera um grave retrocesso para os direitos das mulheres e meninas, especialmente no que diz respeito ao direito ao aborto em casos de estupro, risco de vida para a gestante e anencefalia.

Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

“A aprovação da PEC do Estuprador na CCJ da Câmara dos Deputados é um retrocesso para a vida de todas as mulheres e meninas. Mais uma vez, querem revitimizar meninas, as principais vítimas de estupro, e colocar em risco a vida de milhares de mulheres”, afirmou Anielle. Ela também reafirmou o compromisso com a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, de garantir os direitos reprodutivos das mulheres e meninas no país.

Notícias Relacionadas


A proposta foi aprovada na última quarta-feira, 27, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, com 35 votos favoráveis contra 15. A PEC, de autoria do ex-deputado Eduardo Cunha, visa alterar o artigo 5º da Constituição para garantir a inviolabilidade da vida desde a concepção, o que pode resultar na proibição do aborto nos casos atualmente permitidos pela legislação brasileira, como em casos de risco para a vida da gestante, de gravidez resultante de estupro e de anencefalia do feto.

A aprovação ocorreu após protestos de manifestantes que ocuparam o plenário da CCJ, interrompendo a sessão com gritos como “criança não é mãe” e “estuprador não é pai”. A presidente da comissão, deputada Caroline de Toni (PL-SC), tentou dispersar os manifestantes com o auxílio da polícia legislativa, mas a ação gerou tensão, com parlamentares mudando de plenário para evitar confrontos.

O debate sobre a PEC tem gerado intensas divisões entre os parlamentares. A deputada Dani Cunha (União-RJ), filha de Eduardo Cunha, defendeu a proposta, alegando que o aborto é “o assassinato de um bebê indefeso”. Já a deputada Sâmia Bonfim (PSOL-SP) se posicionou contra, destacando que a PEC obrigaria mulheres e meninas vítimas de violência sexual a manterem gestações, além de colocar em risco a vida das gestantes.

Agora, a PEC segue para análise de uma comissão especial, que terá até 40 sessões para emitir um parecer sobre o tema. Caso seja aprovada, a proposta seguirá para votação no plenário da Câmara, onde precisará do apoio de 308 deputados, em dois turnos, para avançar ao Senado. Se aprovado pelo Senado, sem alterações, a emenda será promulgada, sem a necessidade de sanção presidencial.

Aborto colocado em pauta mais uma vez

Essa é a segunda vez que o tema do aborto ganha os holofotes na imprensa neste ano. Em junho deste ano, a Câmara dos Deputados aprovou um requerimento de urgência do Projeto de Lei 1904/24. O projeto, de autoria do deputado federal, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), é visto como uma penalização das meninas e mulheres vítimas de estupro que optaram por interromper a gestação decorrente da violência já que equipara o aborto após 22 semanas ao crime de homicídio. A elas seria imposta uma pena mais severa do que as aplicadas aos estupradores.

Em entrevista ao site Mundo negro, a advogada Fayda Belo explicou as consequências da aprovação da PL para as mulheres e meninas brasileiras, sobretudo para meninas negras: “Mais da metade dessas meninas vítimas de estupro de vulnerável são meninas negras, o que demonstra que esse projeto de lei é claramente misógino, mas também tem cunho racista, já que visivelmente duplamente penalizará em sua maioria meninas negras violentadas sexualmente. É preciso lembrar que as violências mais graves, segundos os dados, são praticados contra mulheres e meninas negras, que é claramente o grupo mais vitimizado”.

Notícias Recentes

Participe de nosso grupo no Telegram

Receba notícias quentinhas do site pelo nosso Telegram, clique no
botão abaixo para acessar as novidades.

Comments

Sair da versão mobile