Mundo Negro

Relatório aponta aumento de 12,4% na violência contra mulheres em 2024 e expõe impacto desproporcional sobre mulheres negras

Um relatório divulgado pela Rede de Observatórios da Segurança revelou um aumento de 12,4% nos casos de violência contra mulheres em 2024, nos estados monitorados, em comparação com o ano anterior. Foram registrados 4.181 eventos de violência, sendo que o dado inclui o estado do Amazonas, que passou a integrar a rede em 2024. Quando considerados apenas os estados que já faziam parte da rede em 2023, o número de casos chegou a 3.577, mantendo a mesma taxa de crescimento de 12,4%.

O estudo também destacou que a violência de gênero atinge de forma mais severa as mulheres negras, evidenciando a interseccionalidade entre machismo e racismo. Segundo o relatório, mulheres negras sofrem uma violência “duplicada ou triplicada” devido às múltiplas discriminações que enfrentam, o que as coloca em uma posição de extrema vulnerabilidade.

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Dados por estado e desigualdades raciais

Na Bahia, apesar de uma redução geral nos casos de violência contra mulheres, 19,6% das vítimas com raça/cor identificada eram negras, o que reforça o papel do racismo na perpetuação da violência. No Pará, as mulheres negras foram as mais afetadas pelos feminicídios, representando 12 dos 41 casos registrados em 2024. No entanto, a falta de dados raciais consistentes em vários estados dificulta uma análise completa do problema. No Amazonas, por exemplo, 97,5% dos casos não tinham informação sobre raça/cor da vítima, enquanto na Bahia esse índice foi de 73,9%, no Maranhão de 93,7% e no Piauí de 97,2%. No Rio de Janeiro, 33 das 63 vítimas de feminicídio não tiveram sua raça/cor registrada.

Fatores estruturais e desafios

O relatório apontou diversos fatores que contribuem para a violência contra mulheres, como a persistência de uma sociedade machista, a centralidade da figura masculina como agente das violências e a interseccionalidade com outras formas de opressão, como racismo, homofobia e transfobia. Mulheres trans, indígenas e com deficiência também foram destacadas como grupos especialmente vulneráveis.

No estado de Pernambuco, o relatório destaca que, entre os nove estados monitorados, é a região do país que registrou mais casos de transfeminicídio entre todos os estados – seis do total de 12. O relatório também aponta que mulheres trans são especialmente vulnerabilizadas pelas violências institucionais, que dificultam a denúncia e o acesso à rede de proteção e até mesmo à coleta de dados.

Dados gerais

Feminicídio e Transfeminicídio:

Violência Sexual e Estupro:

Outras formas de violência:

Dificuldade de acolhimento institucional às vítimas de violência

A falta de políticas públicas eficazes e a dificuldade de acesso a serviços de denúncia, como as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs), foram apontadas como barreiras significativas. Além disso, a morosidade do sistema judiciário, a impunidade dos agressores e a falta de treinamento adequado para profissionais da segurança pública e saúde contribuem para a subnotificação e a perpetuação do ciclo de violência.

O relatório reforça a necessidade de políticas públicas que considerem as especificidades das diferentes formas de violência, especialmente aquelas que afetam mulheres negras e outros grupos vulneráveis. A falta de dados raciais consistentes e a subnotificação de casos são desafios que precisam ser superados para que haja uma resposta mais eficaz do Estado.

A Rede de Observatórios da Segurança destacou ainda a importância da luta feminista na visibilização das violências e na conquista de direitos, mas alertou para a necessidade de maior investimento em serviços de apoio às vítimas e em ações de conscientização masculina. “A violência de gênero é um fenômeno complexo que exige respostas igualmente complexas e intersetoriais”, concluiu o relatório.

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