
Em partida pelo Campeonato Brasileiro da Série B, Goiás e Londrina se enfrentaram, no último sábado, 17, na capital do time goiano. Em um determinado momento da transmissão da Rádio Bandeirantes de Goiânia, o narrador Romes Xavier e o comentarista, Vinícius Silva travaram o seguinte diálogo na narração:
Romes Xavier: Celsinho sentiu, hein, Vinícius. Tomou uma pancada ali no tornozelo esquerdo, tá levantando… Mas o cabelo dele deve pesar demais, né Vinícius?
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Vinicius Silva: Exatamente, rapaz, olha, parece mais uma bandeira de feijão, né Romes, do que um verdadeiro cabelo. Não é porque estou perdendo os meus cabelos que eu vou achar um negócio imundo desse bonito.
A conversa foi sobre o cabelo de Celsinho, um frondoso Black Power. Ou seja, se existiu algum problema durante o jogo, deveria ser notado como um drible, um ato violento, antiético, um passe errado, um chute pra fora… Mas cabelo? Não tem outra explicação que não seja o puro suco do racismo. Veja bem, acontece sempre e é o mesmo sistema: O jogador é ofendido por algum traço característico da negritude e não pelo futebol e depois, quando não são os anônimos pseudo protegidos da internet, os públicos pedem desculpa.
Nem vou perder meu tempo relatando aqui os pedidos de desculpas porque já vimos isso quantas vezes? Pede desculpas, diz que se arrepende, lamenta o ocorrido e que quem os conhece sabe que não são racistas. Pra mim, tudo balela, mas pode ser um pouco da fé que eu perco em seres humanos assim. Quem apanha muito, um dia fica cascudo, saca? Então, essa defensiva espinhosa é meu instinto de sobrevivência. Lembra do Rodolffo, do BBB, que se disse em processo de aprendizado e pouco tempo depois demonstrou não dar a mínima?
Outro fator bem gritante dessas falas é o momento que Silva diz que não é porque está ficando calvo que acharia bonito um cabelo Black Power. Aí está o suprassumo do racismo estrutural. Ele careca ainda se acha superior ao cabelo crespo assumido, por assim dizer. Digo isso porque ninguém critica a maioria de cabelos bem curtos, raspados até. Aliás, se é um Neymar da vida, nem crítica tem. Porque é muito patrocinador envolvido, né? Até porque, Neymar já postou foto comendo banana no episódio “somos todos macacos”.
Então, é isso, o racista se achando superior por qualquer coisa, ninguém aprende que pega mal, que patrocinador larga mesmo, que o patrão afasta pra não se queimar e tudo começa de novo na semana seguinte. Há quantos dias foi a final da Euro e a Liga Inglesa tava cobrando atitudes contra o racismo pra cima dos afro ingleses da seleção deles? Mas, vamos em frente, um dia melhora, né? A certeza que eles têm, por enquanto, é a de que a gente não percebe a naturalidade com que nos ofendem pra manterem a gente por baixo. Mas de processo em processo, o processo maior prevalece.
A emissora por sua vez, postou uma nota de repudio no Twitter e disse ter afastado os jornalistas em questão.
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