Mundo Negro

Racismo, homofobia e intimidade exposta: Adolescente do Colégio Mackenzie é hospitalizada após episódio grave dentro da escola

⚠️ Alerta de Gatilho: Este conteúdo aborda temas sensíveis e deve ser lido com cautela

Uma aluna de 15 anos, estudante do 9º ano do Colégio Mackenzie, em São Paulo, está internada na ala psiquiátrica de um hospital público da capital paulista após um episódio grave ocorrido dentro da escola. Segundo relatos, a adolescente foi alvo de ataques com conotação racista e homofóbica por parte de colegas, além de ter tido sua imagem exposta por meio de um vídeo feito por um aluno mais velho, do ensino médio.

Notícias Relacionadas


O caso aconteceu na última terça-feira, 29 de abril. A estudante foi encontrada desacordada no chão do banheiro da escola por uma colega. A mãe da jovem, contou que a filha estuda na instituição desde 2024 por meio de uma bolsa filantrópica do Instituto Presbiteriano Mackenzie.

“Minha filha sofria bullying com palavras como ‘lésbica preta’, ‘cigarro queimado’”, relatou a mãe em entrevista ao Mundo Negro. Ela também mencionou que a filha foi envolvida em situações de manipulação emocional por parte de colegas, descrevendo relações que classificou como “amizades abusivas, em que ela tinha que participar de algumas ações para ser aceita”.

A adolescente encontra-se internada em uma ala destinada a casos graves, dividindo espaço com pacientes em estado terminal. Um laudo sobre seu estado clínico deve ser emitido na segunda-feira, 5 de maio. Segundo a mãe, mesmo sob medicação, a filha “está em um estado lamentável”.

A mãe relatou que uma das situações mais traumáticas envolveu a gravação de um vídeo, no qual sua filha aparece em um momento íntimo com um estudante mais velho. O episódio teria ocorrido a pedido de três colegas da própria turma da jovem. “O que a psiquiatra relatou é que minha filha está sendo ameaçada, sofreu racismo e tem uma amizade abusiva na escola, e por conta disso ela planejou o ato”, contou. Segundo ela, o vídeo teria sido registrado sem o consentimento da adolescente. Embora ninguém saiba do paradeiro da gravação, a mãe encontrou no celular da filha uma conversa com o rapaz envolvido, na qual ele afirmava que havia “acabado com a reputação dela”. “Eu não sei o que tem no vídeo, mas com certeza essa conversa a afetou profundamente”, disse.

A mãe afirma ainda que dois alunos chegaram a ameaçar sua filha em relação ao suposto vídeo, fato que foi comunicado à coordenação da escola.

Fernanda, que tem outros dois filhos mais novos também matriculados na instituição, descreve a filha como “uma menina boazinha, que sempre ajudava, mas não aguentou a pressão do colégio”. O maior medo da mãe é que sua filha seja encaminhada para o CAPS (Centros de Atenção Psicossocial).

Posicionamento do colégio

O Mundo Negro teve acesso a um e-mail enviado por Fernanda ao colégio em agosto do ano passado. Na mensagem, ela relatava que a filha era alvo de xingamentos de cunho racista e que chegava a entrar em pânico ao ir para a escola, chorando diariamente.

A mãe da menina relatou que, apesar das reiteradas tentativas de comunicar à escola situações preocupantes envolvendo sua filha, a resposta institucional foi de negação e omissão. Segundo ela, “a coordenadora responsável, que era a Lucie, falava que não acontecia isso na escola”, minimizando ou desconsiderando os relatos de bullying. Em busca de apoio psicológico, a mãe procurou ajuda no campus universitário onde a escola está localizada, mas foi informada de que “não tinha acesso” ao serviço. Além disso, mencionou que participou de reuniões presenciais nas quais teve que assinar documentos, afirmando: “eu vou assinar termos quando eu ia nessas reuniões presenciais, sobre essas reclamações”, sem que, no entanto, medidas concretas fossem tomadas para proteger sua filha. Esse cenário gerou um profundo sentimento de impotência e culpa por parte da mãe, que, por algum tempo, chegou a duvidar do relato da filha diante da ausência de acolhimento por parte da instituição.

Após a internação da filha, ela relata que o Colégio Mackenzie enviou uma psicóloga à unidade hospitalar no mesmo dia do ocorrido, seguida pela chegada do coordenador pedagógico. Segundo ela, a escola demonstrou desconhecimento sobre a gravidade do que vinha acontecendo com a aluna. “Ele falou que não estava sabendo de nada. Mas eu mandei e-mail no ano passado contando que minha filha estava sofrendo racismo e quase repetiu o ano por causa disso”, afirma. A mãe conta que, durante uma conversa com a psiquiatra da filha, na presença do coordenador, foram apresentados prints de conversas e detalhados episódios de ameaças, discriminação e pressão por parte de colegas. No dia seguinte, a escola retornou com um pastor para orar pela estudante, dizendo que “tudo ficaria bem”, mas, segundo Fernanda, nenhuma medida concreta foi tomada desde então. “Na quinta-feira, eu pedi ajuda para conseguir um hospital mais adequado, e até hoje não me responderam. Deixaram a gente na Santa Casa, e agora querem transferi-la para o CAPS. Nada contra, mas foi dentro do colégio que tudo aconteceu, então eles têm responsabilidade. Minha filha precisa de tratamento digno”, desabafa.

O Mundo Negro entrou em contato com a assessoria de imprensa do Colégio que afirmou que durante o episódio, ela foi socorrida pela equipe da escola. Segundo o assessor, um relacionamento entre a garota e um colega do ensino médio foi publicizado, o que a levou ao ato. “Não sei de onde surgiu o negócio de homofobia e racismo”, afirmou. A escola também afirma que deve se posicionar após conversar com a garota, o que ainda não tem data determinada, considerando que a adolescente está hospitalizada.

Ajuda financeira

A mãe da adolescente trabalha na área de educação e cultura, e por conta da saúde da filha está afastada das atividades profissionais por tempo indeterminado. A mulher, que é mãe solo de 3 crianças.

Onde buscar ajuda

Se você estiver enfrentando um momento difícil e precisar de ajuda imediata, o Centro de Valorização da Vida (CVV) está à disposição. O CVV oferece um serviço gratuito de apoio emocional e prevenção ao suicídio, disponível para qualquer pessoa que precise conversar. Para falar com um voluntário, você pode enviar um e-mail, acessar o chat pelo site ou ligar para o número 188. O atendimento é confidencial e está disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana.

Além disso, o CVV, em parceria com o UNICEF, disponibiliza um canal de escuta exclusivo para adolescentes entre 13 e 24 anos chamado “Pode Falar”. Este serviço, também anônimo, é voltado para adolescentes que precisam de acolhimento e desejam conversar sobre suas dificuldades. O atendimento pode ser feito via chat online ou WhatsApp. Para mais informações sobre horários de atendimento, consulte o site.

Notícias Recentes

Participe de nosso grupo no Telegram

Receba notícias quentinhas do site pelo nosso Telegram, clique no
botão abaixo para acessar as novidades.

Comments

Sair da versão mobile