“Quem deve ser vigiado? Quem tem a bolsa revistada e quem não? Eles não estão nos manuais, não aparecem nos treinamentos, mas agem nas entrelinhas de cada experiência de compra”, disse o ator, diretor e escritor Lázaro Ramos, em uma fala impactante durante o evento de lançamento do “Código de Defesa e Inclusão do Consumidor Negro”, realizado no Rio de Janeiro, nesta terça-feira (28). O documento, que nasceu da parceria entre a L’Oréal Luxo, divisão do Grupo L’Oréal no Brasil, o MOVER (Movimento pela Equidade Racial), e a rede global de advogadas negras Black Sisters in Law, com dez normas sem validade jurídica, mas com efeito moral.
Lázaro Ramos compartilhou uma vivência comum entre os consumidores negros. “O que mais chama atenção é o olhar, aquele olhar de desprezo. Ou às vezes você chama um vendedor para te ajudar e ele não vem. O segurança alto na entrada da loja abre a porta antes mesmo de eu alcançar a maçaneta, recebendo-me sem qualquer amistosidade e marcando presença de maneira quase intimidadora”.
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E completa: “Há um acompanhamento quase constante, como uma segunda sombra e um olhar vigilante durante o manuseio dos produtos, o que inevitavelmente me faz sentir desconfortável e cercada ao tentar fazer uma simples compra, me fazendo calcular cada movimento a fim de evitar um possível mal entendido”, desabafou.
O “Código de Defesa e Inclusão do Consumidor Negro” surgiu como resposta a uma pesquisa encomendada pela L’Oréal em 2024, “Racismo no Varejo de Beleza de Luxo”, que identificou 21 práticas discriminatórias contra consumidores negros. Entre elas, a revista de bolsas sem justificativa (18% dos entrevistados relatam ter passado por isso), a demora no atendimento (69% dizem ter sido questionados sobre poder de compra) e a falta de produtos para tonalidades de pele e tipos de cabelo negro.
O código inclui diretrizes como: Capacitação antirracista: Treinamento obrigatório para funcionários em letramento racial; Prontidão no atendimento: Reparar a lógica excludente que ignora consumidores negros; Garantia de livre acesso: Vedação a barreiras físicas ou simbólicas que restrinjam circulação; Regras para revistas: Só permitidas com provas inequívocas, não com base em estereótipos; Estoque inclusivo: Disponibilidade de produtos para pele e cabelos negros.
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