Um filme sobre a espiritualidade, ecologia e conflitos do cotidiano urbano. Jardim das Folhas Sagradas oferece o debate sobre bissexualidade, intolerância religiosa e preconceitos étnicos, ao mesmo tempo em que expõe a intimidade do Candomblé e discute a degradação das áreas verdes nas cidades vitimadas pela especulação imobiliária. O longa já estreiou em algumas cidades e chega à região sudeste neste final de semana.
O que se vê na tela é o resultado de um amplo projeto de pesquisa a respeito da religião afro-brasileira, um olhar revelador da sua intimidade. Parte de um conceito analítico, até crítico, sobre o Candomblé, e revela detalhes de uma crença pouco conhecida além dos círculos da sua existência. É nítida a espiritualidade dos personagens enquanto vivem dramas cotidianos. Aborda, com originalidade, assuntos expostos em O Amuleto de Ogum e Tenda dos Milagres (ambos de Nelson Pereira dos Santos) até Barravento, de Glauber Rocha.
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Segundo Pola Ribeiro, uma das metas do filme é trabalhar acerca do mistério que envolve a cidade de Salvador e o Recôncavo baiano, falar da cultura da sua gente negra que, infelizmente, sempre foi vista e tratada com superficialidade. “Cada gesto, cada som, cada traje, comida, conceito e religião. A convivência com um mundo que se protegia nos seus fundamentos e que era ao mesmo tempo tratado como invisível pela mídia e pela sociedade, aguçava os meus sentidos”, afirma o cineasta.
Jardim das Folhas Sagradas traz no elenco excelentes atores baianos, desde nomes conhecidos como João Miguel (Estômago (2007) e Melhor Ator no Festival do Rio 2005 por Cinema, Aspirinas e Urubus (2005)), aos estreantes no cinema nacional, mas de longa carreira no teatro baiano, a exemplo de Érico Brás (atualmente no quadro fixo do programa Tapas&Beijos, da TV Globo), Harildo Deda e Antônio Godi – que encarna o protagonista da trama. Temos ainda Evelin Buccheger, Sérgio Guedes e experientes atores do Bando de
Teatro Olodum. A surpresa fica por conta das participações especiais das cantoras Mariene de Castro, debutando enquanto atriz, e Virgínia Rodrigues, tida pelo The New York Times como “uma das mais impressionantes cantoras que surgiu no Brasil nos últimos anos”, numa cena particularmente marcante dentro do filme.
Contradições e conflitos – Além de ter um ator negro enquanto protagonista, Jardim das Folhas Sagradas surpreende ao mostrá-lo como um profissional bem sucedido. O ator Antônio Godi vive o bancário Bonfim, casado com Ângela (Evelin Buchegger) – uma mulher branca e de crença evangélica. Bonfim conserva uma relação homossexual com Castro (João Miguel), mas depois de um acontecimento trágico, bombardeado por sonhos místicos e com a vida de cabeça pra baixo, resolve cumprir uma missão recebida no Candomblé: fundar o terreiro Ilê Axé Opô Ewê (Casa das Folhas Sagradas).
O local é afastado da cidade e apesar de estar em área bastante degradada preserva o contato entre natureza e religião. Porém, a segmentação ecológica enfrenta resistência de setores do próprio Candomblé, já que, segundo a tradição, a maioria das sessões é realizada com o sacrifício de animais – aspecto determinante para que o terreiro permaneça protegido pelos orixás – e a desobediência a isto traz consequências funestas. Mas é esta a tradição que o moderno terreiro de Bonfim pretende confrontar.
Por meio de diversos conflitos, Bonfim experimentará o sabor do amor e do desprezo, da amizade e da traição, compartilhando o aprendizado da força e sabedoria ancestrais do Candomblé para a superação dos obstáculos, numa Salvador marcada pela expansão e especulação imobiliárias.
No blog está disponível a tabela de estreias nas cidades brasileiras. A mesma será atualizada à medida que novas praças definirem contrato de exibição.
Serviço
O Jardim das Folhas Sagradas
A estréia na região Nordesde foi em 04/11
Estréia na região Sudeste 25/11
Site Oficial
www.jardimdasfolhassagradas.com.br