Matéria exibida na terça-feira (12) no programa Hoje em Dia na TV Record, traz penteados tradicionais de regiões da África como “Prático e barato: O ‘penteado coronavírus’ com tranças em forma de antenas que é moda em África”.
A Youtuber Rízia Cerqueira, assistia ao programa no momento em que a reportagem foi ao ar e publicou a seguinte declaração em seu Instagram: “Ontem pela manhã enquanto eu tomava meu café, me deparei com uma matéria do programa Hoje em Dia, da emissora RecordTV, falando que crianças africanas estavam se inspirando no símbolo do novo corona vírus (COVID-19), como penteado. Eu preciso explicar o por quê essa matéria não faz sentido nenhum? E por quê foi uma grande falta de respeito com o povo africano”.
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A matéria foi replicado por alguns sites e nela diz que o “estilo tinha saído de moda nos últimos anos”.
“Fico indignada em ver pessoas que estudaram para informar um população com qualidade e verdade, mas a record tv nunca consegue atingir essa excelência e não é de hoje.
E não digo só a Record, depois dessa matéria, vários lugares repassaram a mesma informação.
Qual a lógica em mandar uma pessoa branca fazer uma matéria sobre cultura preta”, questionou a estilista e diretora criativa Suyane Ynaya.
Essas tranças são chamadas de trança de linha ou trança de cana, na República Democrática do Congo são chamadas de Suki Ya Singa e são muito usadas em dias de eventos africanos específicos. Todos os estilos de tranças e penteados de origem africana exerceram uma importante função no início do século XV, com a escravidão, o cabelo era um condutor de mensagens e parte integrante de um complexo sistema de linguagem.
As divisões e reconhecimentos de cada um era feito devido a seu penteado que continha sempre um mapa para ajudar nas suas longas caminhadas e traçados.
No Brasil, temos o rapper Sabotage usava esse cabelo e em 2018 a rapper Karol Conka reproduziu o mesmo penteado em homenagem ao cantor com uma nova versão da música “cabeça de nego”.
Penteados com tranças abrangem um amplo terreno social: religião, parentesco, estado, idade, etnia e outros atributos de identidade, esses penteados não surgiram com a moda e não estão sendo inspirados pelo Coronavírus. O ato de trançar o cabelo transmite valores culturais entre as gerações.