Texto: Pra Preto Ler
Com a ampliação das redes e o acesso a informações, bem como a pressão feita pelo movimento negro, temos nos mobilizado coletivo e individualmente para o reconhecimento da potência da nossa comunidade.
Mas é preciso refletirmos sobre como algumas premissas elaboradas de forma superficial tem nos impossibilitado de romper ciclos violentos unicamente por serem protagonizados por pessoas negras. Assim, constrói-se um falso ideal de contradição entre aquilo que acreditamos e o que fazemos ao apontar um sujeito negro como sendo violento, tóxico e/ou descuidado.
A construção de senso de comunidade deve nos conectar a uma noção de integração, pertencimento, verdade e justiça que nos permita manejar os conflitos e trabalhar as diversidades. Também é fato que a negação de direitos básicos tem nos impedido de trabalhar as complexidades do nosso povo. Assim, a crença de ausência de conflitos é característica de relações saudáveis nos impede de ampliar e reconstruir a nossa comunidade.
A equívoca ideia de que não podem haver conflitos entre nós promete nos aproximar, mas só causa distanciamento, superficialidade e desumanização. Dentro desse “pacto”, no qual não podemos responsabilizar outras pessoas negras, seguimos usando ferramentas brancas que trazem, por exemplo, a culpa e o perdão como ferramentas solucionadoras.
Observar o território antes de abrir as feridas do nosso povo, vigiar o uso das palavras, questionar velhas elaborações são marcas do compromisso histórico e político que assumimos ao iniciar o nosso processo coletivo e individual de tornar-se sujeito e reconstruir o senso de comunidade. A lógica da violência branca não cabe à nossa comunidade, especialmente a dicotomia de vítima e algoz, mas também este lugar de suposta proteção, no qual desresponsabilizamos os indivíduos em nome de um pacto que nos desconsidera enquanto sujeitos.