Por que falar sobre esse tema é importante às vésperas do Dia do Trabalhador?
Texto: Luciano Ramos
Notícias Relacionadas

O Brasil é um país profundamente marcado pela desigualdade racial, e isso é especialmente evidente no mundo corporativo. Embora pessoas negras representem mais da metade da população brasileira (54%, segundo o IBGE), elas ainda são minoria nas posições de liderança e gestão. A escassez de negras e negros nos cargos de tomada de decisão revela não só um reflexo da exclusão histórica, mas também as barreiras visíveis e invisíveis que continuam a existir no ambiente empresarial.
De acordo com o Instituto Ethos, apenas 4,7% dos cargos de liderança nas grandes empresas no Brasil são ocupados por pessoas negras, uma disparidade alarmante, considerando a representatividade da população negra no país. Isso ocorre em um contexto onde a representação racial no mercado de trabalho formal tem ganhado visibilidade, mas ainda se limita a posições de entrada ou operacionais, longe da elite decisória.
A Falta de Inclusão Real
Embora muitas empresas apresentem políticas de diversidade e inclusão, a presença de negros e negras em cargos de gestão continua muito aquém do esperado. E essa ausência não é apenas numérica. Ela revela um racismo estrutural que vai além da contratação. Está enraizado nas oportunidades de crescimento, no acesso a mentorias, na falta de redes de apoio e, muitas vezes, na invisibilidade nos espaços de poder.
Ainda que algumas grandes empresas apresentem programas de diversidade ou até mesmo cotas para cargos de liderança, a inclusão de pessoas negras não se resume à mera presença física. Para que haja uma representatividade verdadeira e transformadora, é necessário criar ambientes onde as vozes negras sejam ouvidas, respeitadas e realmente influenciem as decisões estratégicas. Isso implica em mudanças estruturais, com foco na criação de um ambiente corporativo que desafie os padrões elitistas e predominantemente brancos.
A Importância da Representatividade na Gestão
A presença de negros em cargos de liderança não é apenas uma questão de justiça social, mas também de inteligência estratégica. Diversidade na gestão é um dos pilares para inovação e melhoria no desempenho organizacional. Estudos mostram que equipes mais diversas têm maior capacidade de resolução de problemas e tomam decisões mais equilibradas e inclusivas.
Empresas que investem em diversidade racial têm maior capacidade de inovação e conseguem se conectar melhor com um público consumidor também diversificado. Ter uma liderança negra significa garantir que diferentes perspectivas e experiências de vida estejam representadas na elaboração de estratégias e políticas, resultando em um ambiente mais inclusivo e adaptado às necessidades da sociedade contemporânea.
Desafios para a Inclusão de Pessoas Negras em Cargos de Gestão
Os obstáculos enfrentados pelas pessoas negras nas empresas são múltiplos. Desde a falta de acesso a oportunidades educacionais de qualidade, até a resistência no ambiente corporativo, marcada por uma cultura de redes fechadas que favorece os grupos tradicionais. As microagressões raciais também são um fator importante: constantemente, profissionais negros enfrentam preconceito disfarçado de críticas à sua competência ou capacidade de liderança.
Outro ponto relevante é a dificuldade de ascensão profissional. Segundo uma pesquisa realizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), profissionais negros precisam trabalhar, em média, 10 anos a mais para alcançar cargos de liderança em comparação com seus colegas brancos. Isso evidencia não apenas a falta de oportunidades, mas a resistência estrutural dentro das organizações.
O Caminho para a Mudança
Para mudar esse cenário, as empresas precisam de um compromisso genuíno com a transformação estrutural. Isso inclui:
- Investir em programas de mentoria e desenvolvimento profissional para negros e negras com potencial de liderança.
- Desafiar práticas de recrutamento que mantenham barreiras invisíveis, como exigências acadêmicas que não correspondem às competências exigidas para a função.
- Promover uma cultura organizacional inclusiva, onde as lideranças negras sejam visíveis e ouvidas de maneira igualitária.
As empresas também precisam reconhecer que a diversidade racial nas lideranças não é um favor, mas uma necessidade para o fortalecimento do mercado e o alinhamento com os valores de justiça social e equidade que a sociedade demanda cada vez mais.
A luta por uma gestão diversa, representativa e inclusiva vai muito além de números e quotas. Trata-se de construir uma sociedade mais justa e igualitária, onde todos — independentemente da cor da pele — tenham as mesmas oportunidades de protagonizar e transformar.
Notícias Recentes
