Mundo Negro

ONG Me Too Brasil não apresenta dados detalhados à Polícia Federal sobre denúncias contra ex-ministro Silvio Almeida

Foto: Tânia Rêgo/ABr

A ONG Me Too Brasil não forneceu à Polícia Federal (PF) informações detalhadas sobre os canais utilizados ou os dados das supostas vítimas que estariam acusando o ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, de assédio sexual. A ausência de detalhes consta em relatórios da ONG que integram o inquérito, ainda em andamento, segundo informações publicadas pelo TAB Uol na manhã desta segunda-feira (10), que também revelou que a ONG brasileira não tem ligação com a organização Me Too, fundada por Tarana J. Burke nos Estados Unidos. Almeida depôs à PF no dia 25 de fevereiro.

Silvio Almeida foi exonerado do cargo em 6 de setembro, um dia após o portal Metrópoles publicar uma reportagem baseada em informações do Me Too Brasil. A matéria afirmava que a ONG havia recebido denúncias de assédio e importunação sexual contra o ex-ministro, e que havia ouvido de 14 fontes que um dos relatos seria da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. No mesmo dia, o Me Too Brasil emitiu uma nota pública confirmando a coleta das denúncias, mas os registros anteriores à exoneração de Almeida não foram repassados à PF.

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A confirmação da ONG serviu de base para a instauração do inquérito pela PF. No entanto, até o momento, a organização não apresentou detalhes sobre como as denúncias foram coletadas ou os canais oficiais utilizados para isso. Em ofício enviado à ONG em 9 de setembro, a PF solicitou “todo o material” relacionado às denúncias. A resposta do Me Too, enviada em 13 de setembro, informou que a organização entrou em contato com as vítimas que utilizaram seus canais oficiais, mas apenas duas responderam, sendo que uma delas já havia prestado depoimento à polícia. Em 18 de fevereiro, a PF cobrou novamente o envio de “todo o material” sobre as denúncias. Dois dias depois, a ONG encaminhou um relatório de duas páginas, sem logomarca, com informações genéricas sobre cinco supostas vítimas, sem especificar datas, canais de denúncia ou detalhes dos contatos. Todas as informações apresentadas referem-se a contatos posteriores à exoneração de Almeida.

De acordo com o UOL, a decisão de confirmar as denúncias contra Silvio Almeida não foi submetida ao conselho da ONG, composto por quatro mulheres: Maria Amélia Teles, jornalista; Kenarik Boujikian, ex-desembargadora; Neon Cunha, ativista; e Silvia Pimentel, professora de direito. As conselheiras souberam das acusações pela imprensa e foram orientadas a não comentar o caso. Algumas delas, segundo a reportagem, também não sabiam que a ONG brasileira não tinha ligação com a organização norte-americana antes de integrar o conselho do Me Too Brasil.

Processo por difamação

Além das acusações de assédio sexual feitas pelo Me Too Brasil, o ex-ministro dos Direitos Humanos agora tornou-se alvo de uma denúncia-crime no Supremo Tribunal Federal (STF), apresentada pela ONG, segundo o colunista de O Globo, Ancelmo Góes. A ação acusa o ex-ministro de difamação e de uso da estrutura pública para ataques contra a entidade e sua diretora-presidente, Marina Ganzarolli. A denúncia foi motivada por declarações feitas por Almeida após a divulgação de denúncias de assédio sexual contra ele. Depois das denúncias, Almeida fez uma publicação nas redes sociais onde acusou a ONG de agir com interesses políticos e financeiros.

A ONG também acusa Silvio Almeida de ter divulgado uma nota oficial nos canais do governo federal, acusando a organização de tentar interferir em um processo licitatório do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), sob sua gestão na época.

Estrutura e origem da ONG

O Me Too Brasil foi criado em 2019 pela advogada Marina Ganzarolli, de São Paulo, e possui CNPJ registrado desde junho de 2022. A ONG tem sede em um apartamento residencial na Vila Buarque, região central da capital paulista, e atua principalmente na defesa de direitos sociais. Em seu site, a organização afirma ter participado de denúncias importantes, como as que levaram à aposentadoria compulsória do juiz Marcos Scalercio e à condenação do empresário Saul Klein, fundador das Casas Bahia.

A defesa de Silvio Almeida afirmou que não comenta processos em segredo de Justiça. Ao UOL, o Me Too Brasil reiterou, em nota, que “segue firme em sua única missão de apoiar, preservar e cuidar das vítimas, mantendo em sigilo todas as informações que envolvem as vítimas do ex-ministro”.

O inquérito continua em andamento, e a PF aguarda novos esclarecimentos da ONG para prosseguir com as investigações.

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