Por muito tempo, o mercado tentou nos convencer de que sucesso e maternidade não podiam andar juntos. Afinal, o tabu de ser mãe sempre foi visto como um obstáculo, algo que compromete a eficiência, o foco e até mesmo a ambição de uma mulher. Mas quem definiu essas métricas? E, mais importante: quem disse que elas estão corretas?
Eu, mãe de dois filhos e executiva, posso afirmar que a maternidade não “atrapalha” o caminho profissional — ela redesenha esse caminho. Ela desafia as estruturas lineares do mercado e nos convida a pensar além da dualidade “casa ou carreira”.
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Por outro lado, precisamos reconhecer que para as mães negras, a questão é ainda mais complexa. A elas é imposta uma dupla jornada de enfrentamento: primeiro, precisam romper com os estigmas que todas as mães enfrentam no mercado; e, depois, lidar com o racismo estrutural que ainda permeia a vida profissional. A maternidade nos confere um olhar ainda mais sensível e estratégico, mas essa potência é invisibilizada por um sistema que as enxerga de forma estereotipada e que muitas vezes as relega a postos subalternos.
Por que o mercado trata a maternidade como algo que diminui uma mulher? E, mais importante: por que insiste em delimitar ainda mais o espaço de mães negras em importantes posições de liderança? Por que o tempo que passamos cuidando, educando e moldando seres humanos é visto como uma pausa na carreira e não como uma extensão das nossas competências?
A verdade é que todas as mães — e, especialmente, as mães negras — são penalizadas por trazer para o mercado algo que ele mais precisa: humanidade. Nas mãos destas mulheres, o trabalho evolui para algo maior, mais coletivo, mais inclusivo.
Infelizmente, enquanto você lê esse texto, uma mãe negra está enfrentando não apenas barreiras invisíveis e violências silenciosas ligadas à maternidade, mas também os desafios de ser vista e ouvida em um espaço onde o privilégio branco determina as barreiras de entrada. Sendo questionada sobre sua “dedicação” e tendo que provar que não só pode desempenhar múltiplos papéis com excelência, mas que esses papéis são válidos.
E, enquanto o mercado não reconhece a capacidade única das mães nas suas habilidades inatas de adaptação, resolução de problemas e inteligência emocional, a maternidade segue sendo uma fortaleza. Ela treina todas as mulheres, e em particular as mães negras, para enfrentar negociações complexas, gestão de crises e planejamento estratégico, num nível que nenhum treinamento corporativo poderia simular.
Do lado de cá, eu sigo lutando para que o cenário corporativo, ao invés de se “preocupar” em como uma mãe vai conseguir equilibrar maternidade e trabalho, se conscientize em como reestruturar suas bases para que o sucesso não seja medido pela exclusão de quem somos — principalmente nós, mulheres negras, periféricas e mães.
Afinal, o verdadeiro obstáculo nunca foi a maternidade, mas um mercado que insiste em exigir que as mulheres deixem partes fundamentais de si para serem consideradas inteiras.
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