A presença de mulheres negras em posições de liderança carrega um peso histórico repleto de desafios, vitórias e, infelizmente, muitas cobranças irreais. É um cenário que combina a luta pela afirmação com o enfrentamento de um sistema estruturado em padrões que não nos favorece.
A Cobrança Invisível da Excelência
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Mulheres em posição de liderança, especialmente negras, carregam não apenas a responsabilidade de exercer seu cargo, mas também a expectativa de serem impecáveis. Fortes, mas não inflexíveis; estratégicas, mas acessíveis. Essa dualidade impossível não apenas desafia o bem-estar mental e emocional, mas também cria uma falsa narrativa de que estas mulheres precisam ser excepcionais para merecerem seus espaços.
Para mulheres negras, a interseccionalidade torna o teto de vidro ainda mais resistente. Elas enfrentam tanto o machismo quanto o racismo, reforçando a sensação de que precisam trabalhar duas vezes mais para serem reconhecidas. Segundo dados do Instituto Ethos, apenas 3,4% das mulheres negras estão em cadeiras de liderança nas maiores empresas do Brasil. Esse número alarmante reflete o abismo de oportunidades e a desigualdade persistente.
A Falsa Meritocracia da Exaustão
Historicamente, foi incutido na mente de muitas mulheres que ocupar espaços de liderança exige provar sua competência incessantemente. Essa ideia, enraizada na meritocracia, transforma a exaustão em troféu. Mas a que custo?
Em um estudo realizado pela Women @ Work 2022, da Delloite, 44% das mulheres brasileiras se sentem esgotadas. A taxa aumenta para 54% quando se trata de minorias étnicas no nosso país em suas jornadas profissionais. Muitas delas relatam que a pressão nas suas funções não vem apenas das metas corporativas, mas sim da necessidade de lidar com preconceitos, de quebrar estereótipos de incompetência e de provar seu valor continuamente.
Essa trajetória, muitas vezes, faz com que líderes incríveis se sintam sobrecarregadas, não por falta de competência, mas por um sistema que opera com uma régua injusta. A cobrança social e estrutural recai ainda mais para as mulheres negras, somando o peso do racismo ao da misoginia.
A Revolução Começa Com Escolhas
As mulheres negras que chegaram ao topo estão nos ensinando algo essencial: liderar não é se sobrecarregar pessoalmente, mas saber dividir e construir coletivamente.
Investir em lideranças femininas, especialmente negras, vai além do preenchimento de cotas. As empresas precisam mudar o ambiente, oferecer suporte e investir em práticas antirracistas e anti-machistas que garantam a retenção dessa liderança.
Essa transformação exige:
– Combate ao racismo estrutural e à desigualdade de oportunidades.
– Adaptação na cultura de trabalho, promovendo jornadas mais humanas.
– Construção de redes de apoio para garantir que o peso da liderança não seja solitário.
A nova geração de mulheres líderes está redefinindo o conceito de sucesso e ensinando que a verdadeira força está em saber dizer “não” para os ciclos tóxicos de exaustão.
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