No dia 4 de fevereiro de 2024, o Facebook celebrou seu 20º aniversário, marcando duas décadas de influência na forma como nos conectamos, compartilhamos e interagimos online. Enquanto refletimos sobre essa marca significativa, é importante examinar o papel da plataforma em relação às questões raciais. O Facebook, como uma das maiores redes sociais do mundo, tem tanto o potencial de promover a inclusão e a igualdade quanto de perpetuar o preconceito e a discriminação racial.
Os Aspectos Positivos:
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Conexão e Mobilização: Uma das maiores virtudes do Facebook é sua capacidade de conectar pessoas de diferentes origens raciais e étnicas. Grupos e páginas dedicados a causas e movimentos sociais oferecem espaço para a conscientização e mobilização em torno de questões raciais. O engajamento online pode promover solidariedade entre comunidades e ampliar o alcance das vozes marginalizadas.
Visibilidade e Representação: O Facebook proporciona uma plataforma para vozes e perspectivas marginalizadas serem ouvidas. Grupos e páginas criadas por e para comunidades raciais oferecem espaço para expressão, compartilhamento de experiências e construção de identidade cultural. Isso contribui para uma maior visibilidade e representação de grupos raciais minoritários na esfera digital.
Conscientização e Educação: A plataforma também desempenha um papel importante na educação sobre questões raciais. Recursos educacionais e notícias sobre racismo, discriminação e justiça social são amplamente compartilhados e discutidos no Facebook. Isso ajuda a aumentar a conscientização e promover a compreensão entre grupos raciais.
Os Desafios:
Discurso de Ódio e Racismo: Infelizmente, o Facebook também é usado como uma plataforma para disseminar discurso de ódio, racismo e preconceito racial. Comentários e postagens racistas podem perpetuar estereótipos prejudiciais e promover a intolerância e a discriminação. A falta de moderação eficaz pode permitir que essas mensagens prejudiciais se proliferem.
Em entrevista ao Mundo Negro, a jornalista Luciana Barreto destacou a maneira como 81% dos discursos de ódio racistas nas redes sociais são direcionados às mulheres negras. “Precisamos avançar muito ainda. Estamos na fase de reconhecimento e aceitação de que existe um problema grave. Cobrar das grandes empresas de tecnologia mecanismos eficazes para coibir a circulação desses discursos. Ainda não temos a responsabilização de quem realmente distribui esses discursos. Precisamos com urgência entender a força do que está acontecendo e, mais ainda, como esses discursos estão interferindo na sociedade. Sem isso, não avançaremos”, destacou a profissional.
Algoritmos e Viés: Os algoritmos do Facebook podem reproduzir e amplificar viés racial, resultando em discriminação algorítmica. Isso pode afetar o acesso equitativo a oportunidades, recursos e informações, exacerbando desigualdades raciais existentes. É importante que a empresa trabalhe para mitigar esse viés e garantir uma experiência justa para todos os usuários.
Em 2020, o Mundo Negro juntamente com Squid, Black Influence, Sharp e YouPix realizou um estudo mostrando que criadores não brancos, têm menos oportunidades e ganham menos que os brancos. Mesmo representando pelo menos 54% da população, os pretos que usam a Internet como ferramenta de trabalho para criar o que a gente consome nas redes sociais ganham bem menos que pessoas brancas fazendo o mesmo trabalho.
Um exemplo comparativo apresentado na pesquisa mostrou que em uma campanha que um influenciador branco recebe R$ 2.426,92 um negro recebe R$ 1.626,83 para fazer a mesma coisa. Uma diferença de 51,1 %. O valor é ainda menor se o produtor de conteúdo for indígena, como mostra o gráfico abaixo.
Falha na Moderação: A plataforma nem sempre é eficaz na moderação de conteúdo racista e prejudicial. A falta de ação rápida para remover postagens racistas e combater comunidades de ódio pode criar um ambiente tóxico e hostil para grupos raciais minoritários. Aprimorar os processos de moderação e implementar políticas mais rigorosas são passos essenciais para abordar esse problema.
Em suma, o Facebook tem desempenhado um papel complexo na esfera racial, oferecendo tanto oportunidades de conexão e conscientização quanto desafios relacionados ao discurso de ódio e discriminação. Ao comemorarmos seus 20 anos, é crucial continuar examinando criticamente seu impacto na dinâmica racial e trabalhar para criar uma plataforma mais inclusiva e equitativa para todos os usuários.