Mundo Negro

Novelinha do SBT: Racismo não é paranoia de negros

Imagem: Reprodução Youtube

Tão desonesto quanto culpar a saia curta da vítima pelo seu estupro, é desviar a responsabilidade do racismo, dos racistas para os próprios negros. Assim como a novela da filha do Silvia Santos, Iris Abravanel. “As aventuras de Poliana” mostrou em uma cena que gerou um bafafá nas redes sociais, muitas pessoas negras reproduzem esse discurso (criado por brancos), jogando a batata quente de um negro para outro e isentando pessoas brancas racistas, dos seus erros.

Na cena, a aluna negra Kessya ( a talentosa Duda Pimenta) é chamada pela coordenadora da escola Helô (Eliana de Souza) após encontrarem o nariz de uma escultura vandalizada por outros alunos em sua mochila. A acusação era de que Kessya teria quebrado a escultura  e guardado parte da peça com ela mesma. A aluna negra acha que a falsa acusação foi racismo, mas a coordenadora diz, docemente, que é coisa da cabeça dela.

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A filosofia do pior racista é o próprio negro tem algumas vertentes a serem analisadas. A primeira é de que negros veem racismo em tudo, como se os índices sociais que mostram que a  comunidade negra é a base da pirâmide social, a maioria dos desempregados, analfabetos, e as maiores vítimas de violência (homicídio e feminicídio) fossem frutos da nossa imaginação.

Avançamos sim, mas se na pirâmide social, um homem branco ganha mais que o dobro  que a mulher negra que está na base, convenhamos que a igualdade é distante. Para ser exato, de acordo com o Instituto Ethos, ela não chega em menos de 150 anos.

A segunda vertente é de que negros brigam entre si, se prejudicam entre si, são racistas entre eles.  Uma teoria que parece muito com as premissas da Carta de Lynch, que era basicamente um plano maldito para que negros escravizados não se entendessem. Acontece que nem todos os brancos se entendem, nem todas as mulheres, nem todos os Corintianos e obviamente, nem todas as pessoas negras. Porém na tentativa de desmoralizar o nosso direito à um debate intrarracial, há quem diga que brigamos por sermos racistas com nós mesmos. Isso é uma técnica que a branquitude usa para silenciar nossos debates.

A terceira vertente, usada pela coordenadora da escola da novela é que para nos vermos como iguais aos outros, precisamos fechar os olhos para o racismo. Se não falamos sobre ele, ele não existe, certo? Errado. Pessoas brancas racistas precisam ser confrontadas e punidas pelos seus atos, porque é assim que o mundo melhora.

Na cena da novela infantil do SBT, que chega ser horripilante,  Kessya, tem uma visão muito lúcida, que sua cor gera suspeitas, mas seus protesto foi silenciado, se tornou paranoia,  coisa da cabeça da criança. Isso é um perigo.

Mais uma vez a falta de um toque negro no roteiro, resultou em uma cena que pode ter gerado um estrago na cabeça de crianças negras e brancas, e até mesmo nos adultos desinformados.

Racismo não é ficção, nem paranoia. Quisera estivesse somente em nossa mente, como um pesadelo que cessa assim que abrimos os olhos. Não funciona assim e a Kessia está correta, a culpa é sempre dos racistas.

 

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