Mundo Negro

“Nossas demandas não se limitam a discussões sobre uso do banheiro”, diz Kyem Ferreiro, sobre realização da 1ª Marcha Transmasculina de SP

Foto: Reprodução/Instagram

A 1ª Marcha Transmasculina de São Paulo e da história do Brasil acontecerá na Avenida Paulista, no próximo domingo (03), às 14h. Idealizado pelo Instituto Brasileiro De Transmasculinidades – Núcleo São Paulo (IBRAT-SP), conjuntamente com uma rede voluntária, o evento representa um marco inédito na luta do movimento transmasculino do país, que pela primeira vez estará reunido em um grande ato de celebração e reivindicação por direitos.

“Vamos ocupar as ruas por visibilidade, resgate da memória, respeito e sobretudo para reivindicar nosso direito à vida com dignidade. Em todos os anos eleitorais as nossas pautas são vistas como moeda de troca ou irrelevantes seguida de declarações reducionistas como ‘não é hora de falar de pautas identitárias’. Ao ouvir comentários como esse imediatamente entendo que ainda não fomos vistos como pessoas, apenas como uma condição ainda sem direito à humanidade”, comenta Kyem Ferreiro, coordenador do IBRAT-SP e um dos idealizadores da Marcha.

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“Homens trans e pessoas transmasculinas existem no passado, no presente e no futuro” é o tema da edição de 2024. Não é de hoje que pessoas transmasculinas enfrentam desafios significativos que afetam sua qualidade de vida, acesso a direitos básicos e participação plena na sociedade em nível municipal, estadual e federal.

No dia do ato, o IBRAT-SP também lançará uma Carta de Compromisso com o Movimento Transmasculino a ser entregue às candidaturas que devem concorrer ao pleito nas eleições deste ano para que possam se comprometer e garantir compromisso com as
pautas transmasculinas em âmbito local e nacional.

“Pessoas transmasculinas sentem uma solidão ininterrupta em uma sociedade cis, e isso impacta diretamente na nossa saúde mental. A construção da marcha vai além da urgência de grito por direitos e visibilidade, mas também da necessidade de criarmos um senso maior de coletividade entre as transmasculinidades. Pensamos a Marcha para ser um espaço para nos vermos no outro e nos fortalecermos para as batalhas diárias que nos são intrínsecas. Marchar juntos para não perdermos mais ninguém. Marchar juntos para
melhorarmos nosso presente e futuro”, afirma Ravi Spreizner, vice-coordenador do IBRAT-SP e um dos idealizadores da Marcha.

Foi pensando nisso que o IBRAT-SP promoveu duas ações para a realização do ato: um financiamento coletivo para viabilização de recursos para a Marcha e a convocação de uma assembleia popular, realizada em 18 de fevereiro, na Casa de Acolhimento João Nery
(SP). Nesta última, estiveram presentes 49 pessoas, contando com a organização, com uma maioria expressiva de pessoas transmasculinas. A partir da assembleia foram criadas diversas comissões em que a rede voluntária está construindo de forma colaborativa as ações de comunicação, cultura, segurança, agitação e outras mobilizações para o evento.

“Assembleia popular não é algo novo na luta política, mas é para o movimento transmasculino. Isso nunca tinha acontecido antes dessa forma. Um dos meus anseios é que isso seja uma semente para que possamos aumentar o engajamento de pessoas transmasculinas na política em geral. Precisamos de mais pessoas como nós sendo referência e atuando como vetores de mudança. Cada um de nós somos potenciais transformadores dos rumos da história”, comenta Spreizner.

“Somos parte do povo e nossas demandas também são sobre teto, terra, educação, saúde, segurança alimentar, emprego, direitos trabalhistas, etc. Nossas demandas não se limitam a discussões sobre uso do banheiro, pois assim como a sociedade em geral precisa
de muito mais do que está posto para ter uma vida digna, nós também precisamos. Veja bem, o Brasil lidera a 15 anos o ranking mundial de violência contra população trans e mesmo nessas condições desumanizantes as nossas vidas e nossas pautas não são
urgentes? Não estamos alheios às reivindicações para que o Estado priorize e dê conta das necessidades do seu povo. Por isso vamos às ruas, nós não recuaremos. Nós marcharemos. Nós lutaremos. E é só começo”, reitera Kyem Ferreiro.

A concentração do evento acontecerá em frente ao MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand), a partir das 14h, e percorrerá até a Praça Dom José Gaspar. A 1ª Marcha Transmasculina também contará com apresentações artísticas, oficinas, além
de ações sobre saúde sexual com agentes de prevenção. Ao final do ato, haverá shows protagonizados por artistas transmaculinos.

O IBRAT já fez história antes
Em fevereiro de 2015, organizou o Primeiro Encontro Nacional de Homens Trans (ENAHT). Foi um marco importante para o movimento transmasculino no Brasil. O evento foi na cidade de São Paulo e reuniu homens trans e transmasculines de diferentes regiões do país para discutir questões relacionadas à identidade de gênero, direitos, saúde, visibilidade e outras demandas específicas da comunidade.

Por esse acontecimento, o 20 de fevereiro passou a ser considerado o Dia Nacional de Luta e Resistência de Homens Trans e Pessoas Transmasculinas, e fevereiro passou a ser considerado o Mês da Visibilidade Transmasculina.

O IBRAT-SP compartilha que a intenção era realizar a marcha em fevereiro, mas devido a quantidade de eventos carnavalescos já aprovados pela Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo e do policiamento específico para eventos, que prevê a segurança
nas vias públicas, a manifestação foi para a data mais próxima ao mês da visibilidade.

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