Após criticar pais que respeitam o processo de transição de gênero dos filhos ainda crianças dizendo: “quando se tornou uma boa ideia deixar uma criança tomar uma decisão de mudança de vida”, o cantor Ne-Yo se desculpou no Twitter/X e disse que pretende se “educar melhor sobre o assunto, para poder abordar conversas futuras com mais empatia”, escreveu ele na publicação na noite de domingo (6).
I’d like to express my deepest apologies… pic.twitter.com/M5aTFN40tn
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— NE-YO (@NeYoCompound) August 7, 2023
O músico de 43 anos, afirmou que refletiu sobre o assunto e então se desculpou pelas palavras ditas anteriormente. “Depois de muita reflexão, gostaria de expressar minhas mais profundas desculpas a qualquer pessoa que possa ter ferido com meus comentários sobre paternidade e identidade de gênero”, escreveu. “Sempre defendi o amor e a inclusão na comunidade LGBTQI+, então entendo como meus comentários podem ter sido interpretados como insensíveis e ofensivos.”
No último sábado, viralizou um trecho de uma entrevista de Ne-Yo para o VladTV em que o artista questionou “quando se tornou uma boa ideia deixar uma criança tomar uma decisão de mudança de vida”.
“Sinto que os pais quase esqueceram qual é o papel de um pai. Se o seu garotinho vier até você e dizer: ‘Papai, eu quero ser uma garota’. Você simplesmente vai deixar ele seguir com isso? Ele tem 5 anos… Se você deixar esse garoto de 5 anos decidir comer doces o dia todo, ele vai fazer isso. Quando se tornou uma boa ideia deixar uma criança de 5 anos, deixar uma criança de 6 anos, deixar uma criança de 12 anos tomar uma decisão de mudança de vida por si mesmo? Quando isso aconteceu? Eu não entendo”, disse ele.
Mas por que as falas de Ne-Yo são transfóbicas?
Ao criticar o processo de transição de crianças, Ne-Yo não considerou a existência de protocolos e do acompanhamento profissional que existe para que tudo seja feito de forma segura para pessoas trans.
Primeiro homem trans a participar do MasterChef Profissionais 2018, na Band, o chef Thales Alves, de 30 anos, falou sobre a importância dos pais terem acesso a informações que possam apoiar os filhos. “Nossas crianças estão salvas, nossas crianças estão seguras. Eu, enquanto criança trans, gostaria de ter tido informações. Informações para não ficar tão perdido. Informações para que meus pais tivessem apoio”, contou.
Ele explicou que no Brasil, as alterações hormonais são permitidas só a partir dos 16 anos. “Alterações com uso de bloqueadores hormonais: 16 anos. Uso de hormônio para redesignação e reafirmação de gênero: 18 anos”, enfatizou.
Thales Alves também ressaltou que no caso dos pais que percebem ou são procurados pelos filhos que entendem que são pessoas trans, equipes multidisciplinares podem ser buscadas para auxiliar a criança. “Psicólogos, psiquiatras, assistência social, grupos para mães de crianças trans e grupos de trabalho com pessoas trans. Os chamados ambulatórios trans são equipados com equipes multidisciplinares para atender estas demandas”, explicou.
No caso do Brasil, as resoluções são do Conselho Federal de Medicina que em 2019 atualizou as regras para aperfeiçoar o atendimento a pessoas trans. De acordo com o artigo 5º da Resolução CFM nº 2.265/2019, o atendimento às pessoas transgêneros deverá ser feito por uma equipe médica multidisciplinar composta por pediatra — no caso do paciente ser menor de 18 anos —, psiquiatra, endocrinologista, ginecologista, urologista e cirurgião plástico, sem prejuízo da participação de outros profissionais da saúde.
Nesse mesmo ano, a resolução reduziu de 18 para 16 anos a idade mínima para início de terapias hormonais. Na época foram estabelecidas regras para o uso de medicamentos para o bloqueio da puberdade das pessoas maiores de 16 anos. A resolução também diz que: “crianças ou adolescentes transgêneros em estágio de desenvolvimento puberal Tanner I (pré-púbere) devem ser acompanhados pela equipe multiprofissional e interdisciplinar sem nenhuma intervenção hormonal ou cirúrgica”.