Mundo Negro

“Não quero ser a única”, diz Mayara Aguiar, mulher preta e diretora da nova novela da Globo Cara e Coragem

Foto: Cris Vicente.

“Carioquíssima”, como ela mesma se define, Mayara Aguiar é uma das diretoras da próxima novela das 19h da TV Globo, Cara e Coragem, que estreia na próxima segunda-feira (30). O frio na barriga pelo novo trabalho e a alegria de estar assumindo esse novo desafio na carreira chamam a atenção na conversa com a diretora de 34 anos, que há oito trabalha na emissora dos Marinho.

Mayara é uma das poucas figuras negras que trabalham como diretores na emissora, e a primeira mulher negra a atuar na teledramaturgia. “Hoje em dia, quando eu tô trabalhando, eu ouço praticamente todos os dias, o avanço que é o meu corpo retinto ali. Apenas agora, em 2022, existe uma mulher preta retinta que faz teledramaturgia ali dentro. Reforço outros nomes que estão galando espaços como a Naina Ramos, que é uma documentarista maravilhosa, mas fazendo novela, só eu”, conta May, como também é conhecida.

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Apesar disso, a presença de homens negros diretores já é mais palpável na emissora, o que ela comemora. “Tive a alegria e felicidade de trabalhar com homens negros irmãos de luta, como Jeferson De, Luiz Antônio Pilar, Lázaro Ramos, esses homens eu já via ali e considero um avanço”, avalia a diretora que não quer ficar no papel de única por muito tempo. “É uma responsabilidade gigante, é uma honra absurda, mas eu não quero ser única. Revejo todos os dias os meus pactos sociais para que isso não aconteça, para que eu não fique sozinha. Espero que a gente consiga melhorar isso” projeta.

Apesar de ser o primeiro trabalho de Mayara em uma novela, recentemente ela já atuou como diretora do especial de 20 anos do programa Super Bonita, do GNT, onde ela dirigiu Taís Araújo – que é uma das protagonistas de Cara e Coragem – pela primeira vez. “Poder dirigir um programa que é conhecidíssimo no canal a cabo, que começou lá atrás falando de beleza e avançou de tal modo que hoje fala de autocuidado, autoconhecimento, de respeito pelo corpo e debate sobre o que é estética, então, eu me senti muito honrada também por poder dirigir a Taís Araújo, que é uma mulher que eu sempre admirei, e agora estamos trabalhando juntas de novo”, revela.

Antes de chegar ao atual momento na carreira, Mayara percorreu um longo caminho que sempre veio permeado pela arte. Conheceu o teatro aos 15 anos e desde então, nunca mais parou, embora tenha sido necessário se dedicar a outras profissões simultaneamente para conseguir se sustentar. “Tive que viver outras coisas porque a minha família é muito simples, então, fui operadora de telemarketing, fui monitora de criança em parquinho de shopping, garçonete, enfim, tive um mergulho de outros trabalhos até poder pagar as minhas contas com a arte, e ela sempre esteve comigo”, relembra.

Filha de uma auxiliar de enfermagem e um auxiliar de cartório, a cineasta também já trilhou um caminho pelas ondas do rádio, onde aprendeu mais sobre voz e escuta, um aprendizado que carrega até o dias atuais.

Por falar em voz, o trabalho de direção de Mayara em breve vai parar nas telonas do cinema, já que ela foi convidada para dirigir a cinebiografia da Dama do Samba, Dona Ivone Lara. “Em 2024 vamos colocar isso no mundo, eu tô muito feliz, muito nervosa, mas muito honrada de fazer parte disso, especialmente porque fala muito da minha ancestralidade”, diz a diretora, que não perde a oportunidade de curtir um domingo no Cacique de Ramos.

Além disso, um longa metragem de autoria de Mayara também deve ganhar o mundo em 2024. O filme “Teto”, criado em parceria com Marina Burdman, vai contar a história de amizade de duas mulheres negras. “Sem nenhum tiro, sem uma violência, só duas mulheres pretas que são amigas e têm um teto, e dividem o lar, é um filme lindo que eu tenho o maior orgulho”, conclui Mayara.

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