Mundo Negro

Mulheres negras são as principais vítimas da mortalidade materna nas áreas periféricas de SP

Foto: Reprodução/Freepik

O relatório de saúde do município de São Paulo, publicado pelo Insper, que analisou os dados de mortalidade materna entre 2010 e 2019, trouxe à tona uma realidade alarmante: mulheres negras (pretas e pardas) enfrentam riscos desproporcionais durante a gravidez e o parto. Embora o número total de óbitos maternos entre mulheres brancas seja ligeiramente maior, o impacto sobre a população negra é especialmente preocupante, revelando profundas desigualdades raciais e regionais.

Entre os 845 óbitos maternos registrados no período, 426 ocorreram entre mulheres brancas (50,4%), enquanto 397 óbitos foram de mulheres pretas e pardas (47%). A princípio, esses números podem parecer próximos, mas a situação se agrava ao analisar o contexto por trás dessas mortes.

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Distribuição Populacional e Desigualdade no Risco

Mulheres negras representam uma menor proporção da população total em São Paulo, especialmente nas regiões centrais da cidade, onde a infraestrutura de saúde é melhor. Isso significa que, proporcionalmente, as mulheres negras estão morrendo em maior número em relação à sua representação na população. A maioria dessas mortes ocorre em áreas periféricas, como Grajaú, Cidade Ademar, Jardim Ângela, Capão Redondo, Itaim Paulista, e Brasilândia. Essas regiões, que sofrem com a falta de serviços de saúde adequados e com condições socioeconômicas desfavoráveis, concentram as maiores taxas de mortalidade materna entre mulheres negras.

Em contraste, as mulheres brancas que vivem em regiões mais centrais e privilegiadas, como Lapa, Perdizes, Consolação e Itaim Bibi, também enfrentam mortalidade materna, mas em um contexto de maior acesso a cuidados de saúde. No entanto, mesmo em áreas centrais como Sé e Moema, onde a infraestrutura é mais robusta, as taxas de mortalidade materna para mulheres brancas ainda são elevadas, refletindo desigualdades dentro do próprio grupo.

Acesso Desigual à Saúde

Para muitas mulheres negras, o acesso à saúde de qualidade é um desafio diário. Nas regiões periféricas, onde a maioria dessas mulheres reside, a distância até unidades de saúde, a falta de recursos médicos e até casos de discriminação no atendimento tornam o caminho até um parto seguro muito mais difícil. A ausência de pré-natal adequado, o atendimento insuficiente durante o parto e a falta de cuidados pós-parto aumentam os riscos de complicações graves que poderiam ser evitadas.

Impacto Socioeconômico

A desigualdade racial se sobrepõe a uma desigualdade socioeconômica. Mulheres negras, muitas vezes, enfrentam condições de vida mais precárias, com menos acesso a educação, emprego e renda. Esses fatores limitam suas oportunidades de buscar e receber cuidados de saúde adequados, resultando em taxas mais altas de mortalidade materna. A falta de políticas públicas eficazes que atendam às necessidades dessas populações agrava ainda mais a situação.

Desigualdade Regional

Os distritos com maior número de óbitos maternos estão concentrados nas zonas periféricas de São Paulo. No Grajaú, por exemplo, foram registradas 38 mortes maternas, refletindo a escassez de serviços de saúde e a vulnerabilidade socioeconômica da região. Outros distritos periféricos, como Cidade Ademar, Jardim Ângela, Capão Redondo e Itaim Paulista, também registraram números elevados de óbitos, reforçando a correlação entre localização geográfica e risco de mortalidade, principalmente entre mulheres negras.

Por outro lado, regiões centrais como Sé e Marsilac destacam-se com altas taxas de mortalidade materna entre mulheres brancas. Mesmo em áreas centrais como Lapa e Mooca, onde a infraestrutura de saúde é teoricamente superior, as desigualdades internas evidenciam que as mulheres brancas dessas áreas também enfrentam riscos significativos.

Conclusão

Esses dados revelam que a mortalidade materna entre mulheres negras é um reflexo de desigualdades estruturais na cidade de São Paulo. Enquanto as mulheres brancas que vivem em regiões mais centrais e com melhor infraestrutura têm maior acesso a cuidados de saúde, as mulheres negras, especialmente aquelas que vivem nas periferias, estão morrendo em proporções alarmantes devido à falta de recursos e suporte adequado.

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