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O Movimento Black Money (MBM) , Inventivos e RD Station realizaram uma pesquisa com o perfil dos empreendedores negros no Brasil. A iniciativa Afroempreendedorismo Brasil. A iniciativa teve como principal objetivo entender as formas de empreender e os desafios encontrados na trajetória de empreendedores pretos e pardos no país.
Os resultados tiveram amostra feminina predominante, com as mulheres negras cis representando 61,5% do recorte da pesquisa e os homens pretos cis representando 36,4%. A pesquisa mostrou que os afroempreendedores são em sua maioria jovens adultos, sendo 35,8% pertencentes a faixa etária entre 25 e 34 anos de idade.
O afroempreendedorismo é, em sua maioria, feminino, solitário e está fortemente ligado ao comércio, à comunicação e à indústria de cuidados. Saúde e estética representam 14,3% da fatia encabeçada por pessoas negras, seguido pelo E-commerce e varejo, ambos com 10,4% e em terceiro lugar agências de marketing e publicidade com 8,4%. “As indústrias predominantes refletem uma herança ancestral de cuidados coletivos, mas também, infelizmente, a herança escravocrata de estar a serviço do outro ou da outra”, diz Nina Silva, CEO do Movimento Black Money.
Um exemplo bem-sucedido no ramo estético é a Zarah Flor Estética e Laser, fundada pela empresária Zarah FLor (35). Com público majoritariamente composto por mulheres negras, Flor usou as dificuldades de trabalhar em regime CLT após o nascimento da primeira filha como trampolim para começar a empreender. “Comecei a empreender em 2014, quando nasceu minha primeira filha. Não tinha com quem deixá-la e não podia cumprir a jornada CLT. Comecei praticamente sem nada, só eu e minha maca. Usava o que faturava para investir em capacitação. Trabalhei sozinha até 2018, quando comecei a contratar e expandir. Eu trabalhava com laser e sempre via como as mulheres negras eram mal atendidas nas clínicas e como o laser queimava a nossa pele, porque ninguém tinha se dedicado a criar um método que nos atendesse. Decidi desenvolver meus próprios protocolos, pois não existia. Por conta das dificuldades burocráticas e exigências, tivemos muitas barreiras para encontrar um espaço. Por 5 anos dividimos o imóvel com outras pessoas e isso nos impedia de crescer. Tive que pedir ajuda para financiar as máquinas e só consegui alugar um lugar maior quando o proprietário flexibilizou o seguro-fiança por causa da pandemia. Meus principais desafios são marketing, vendas e sistema de agendamento. Tenho uma clínica em São Paulo e uma filial no Rio de Janeiro”, diz Zarah.
Embora 61,9% dos afroempreendedores tenham ensino superior, apenas 15,8% possuem renda familiar superior a 6 salários mínimos, o que coloca a necessidade financeira como principal motivo para a abertura de negócios. Outro fator são as dores que pessoas pretas passam e veem, que acaba se tornando uma força motriz para empreender. Um exemplo é o empresário Maurício Delfino, de 45 anos. Ele fundou a Da Minha Cor, primeira marca a pensar em toucas de natação para cabelos afro e volumosos. “Ainda lembro da cena durante a minha infância de mulheres alisando seus cabelos com ferro quente para não serem incomodadas pelos patrões. Elas tinham de deixar de ser quem eram para serem aceitas. Foi essa recordação que me inspirou a criar a Da Minha Cor em 2018. Ao ver a dificuldade que negros e negras tinham para usar toucas de natação, decidi investir na ideia de criar modelos para cabelos afrovolumosos”, diz Delfino.
Embora o negócio tenha dado certo e hoje a Da Minha Cor forneça até produtos descartáveis para fábricas e hospitais, ainda hoje enfrenta percalços ao tentar linhas de crédito. “Se eu tenho uma ideia brilhante, o banco pede a minha casa de garantia. Se eu me arrisco a aceitar isso e consigo fazer vender, o dinheiro do pagamento fica retido, porque o meu cliente é visto como suspeito. Se você não tem musculatura, inteligência para lidar com isso, você não aguenta. Já tive dinheiro de venda retido pelo banco simplesmente por ser uma alta quantia vinda de um país africano”, conta.
O acesso a crédito e preconceito racial ainda são os maiores obstáculos para que uma pessoa negra possa iniciar um negócio. 40,4% dos entrevistados relatam que suas maiores dificuldades vieram do processo de concessão de empréstimos, seguido do racismo, com 30,7%. Para Alan Soares, CEO do MBM, o crédito solidário (em que uma pessoa leva mais de um avalista), as cooperativas de crédito para afroempreendedores, linhas exclusivas do BNDES (ações afirmativas) são possíveis soluções para o problema. “Mas a influência do racismo estrutural não para por aí”, diz Soares.
Outro obstáculo relatado pelos pesquisados é o desconhecimento de estratégias digitais (50,9%) e de métodos para tornar seus negócios rentáveis (59,2%). Com a identificação dessa dificuldade potencializada pela pandemia do novo coronavírus o MBM o Mercado Black Money, marketplace voltado para empreendedores negros, atingindo um crescimento de mais de 1000% de afroempreendedores cadastrados e no número de compradores no e-commerce.
Os impactos da pandemia aliado à dificuldade de conseguir crédito por causa do racismo foram relatados por Marcelo Duarte, (48) fundador da Marcelo Duarte Sports, empresa de treinamento esportivo. Em 2020, o governo informou que iria disponibilizar uma linha de crédito para pequenos e médios empresários, incluindo MEI. Imediatamente busquei as informações e providenciei toda a documentação para que pudesse solicitar essa linha de crédito, que tinha a promessa de liberação em até 48h. Fiz três tentativas; cada tentativa tinha em torno de 7 a 10 dias para receber o feedback de positivo ou negativo, sendo que tinha colegas brancos que partiram para o mesmo cenário e tiveram o feedback em 48h como era promessa do governo e com taxa de juros menores. Em uma das tentativas houve uma parte emblemática. Em uma conversa com a gerente do banco, ela me disse que seria mais fácil se eu enviasse uma foto minha para que as pessoas pudessem ver quem estava pedindo o crédito. Eu não tinha nenhuma restrição ou problema bancário que pudesse negar a linha de crédito. Em contato com outros afroempreendedores, soube que passaram por situações semelhantes em outras instituições bancárias”, revela.
Hoje, às 16h no Social Media Day, Nina Silva do Movimento Black Money comentará a pesquisa com detalhes e vai discorrer sobre os achados da iniciativa