Você já parou para pensar sobre quanto custa a maternidade no mercado de trabalho? Agora, adicione a isso o recorte de raça e tente mensurar o preço que as mulheres negras pagam por exercerem esse direito.
Ela é competente. Entregou todos os projetos. Cumpriu prazos e superou expectativas. Porém, quando a maternidade chegou, também veio um fardo adicional que ninguém incluiu no plano de carreira: o custo silencioso, e muitas vezes invisível, de ser penalizada. Para mulheres negras, essa penalidade vem acompanhada de camadas extras de discriminação e racismo estrutural.
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Esta é a realidade de várias mulheres que enfrentam, duplamente, a chamada “Motherhood Penalty”, a penalidade da maternidade. Um fenômeno cruel que se torna ainda mais excludente, pois une os impactos do sexismo à interseccionalidade racial. Para uma mulher negra, os obstáculos que surgem após a maternidade não são apenas frutos do machismo, mas de um sistema que frequentemente subvaloriza o seu potencial desde o início.
Como se Expressa Essa Penalidade nas Mulheres Negras?
Além das formas comuns de penalização – como promoções negadas, exclusão de projetos estratégicos e aumento de desigualdade salarial – as mulheres negras enfrentam barreiras adicionais:
→ Subestimação constante: Antes mesmo de se tornarem mães, muitas mulheres negras já lidam com expectativas profissionais mais baixas e desconfiança em relação às suas competências. Após a maternidade, essa visão se agrava.
→ Dupla cobrança: O imaginário de que a mulher negra “aguenta tudo” e é “forte por natureza” coloca uma pressão desumana. Ela precisa ser uma mãe perfeita e uma profissional impecável, mesmo quando os fatores externos conspiram contra sua progressão.
→ Racismo no ambiente de trabalho: A exclusão não ocorre apenas por ser mãe, mas também por ser uma mulher negra em um espaço que muitas vezes privilegia corpos e histórias distintas das suas.
Impactos no Mercado de Trabalho
Estudos confirmam que mães negras são mais penalizadas do que mães brancas – tanto em oportunidades quanto em salários. Para elas, a maternidade funciona quase como uma sentença que reforça segregações preexistentes. Isso não acontece por falta de competência, mas por um sistema enviesado, que mede mulheres negras com uma régua ainda mais injusta.
Apesar do cenário desafiador, é possível agir para transformar essa realidade. Um mercado de trabalho verdadeiramente comprometido com a equidade não só de gênero, mas também racial, pode começar com passos fundamentais:
↳ Enfrentar vieses interseccionais: É essencial que empresas reconheçam como gênero e raça se interseccionam na maternidade. Políticas que combatam ambos os tipos de discriminação são imprescindíveis.
↳ Avaliar desempenho com consciência racial: Reconhecer e valorizar talentos negros, incluindo os desafios que enfrentam, e promover avaliações justas e sem vieses.
↳ Incorporar interseccionalidade nos planejamentos de carreira: Os planos de carreira devem considerar todas as camadas de exclusão que atuam sobre mulheres negras mães, transformando a maternidade em um elemento integrado.
↳ Implementar ações afirmativas para mulheres negras: Criar oportunidades específicas para que mães negras avancem de maneira equitativa é tão importante quanto incluir a maternidade nos diálogos corporativos.
Não basta falar de equidade de gênero sem falar de raça. Não basta oferecer benefícios sem entender as estruturas silenciosas que prejudicam mais profundamente as mulheres negras, ser aliada das mães não é uma concessão: é uma responsabilidade. É sobre dividir o peso, transformar estruturas e criar um mercado onde todas as mulheres – e, em especial, mulheres negras – possam prosperar.
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