O engenheiro mecânico, Lucas Lima, 24 anos, morador do Morro do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro, quer trazer o acesso a tecnologia para a favela. Lucas criou uma impressora 3D com sucata e teve reconhecimento em premiações por causa da sua criação.
Em entrevista ao G1, o engenheiro conta que cultura e educação são indispensáveis para a formação de um cidadão, mas que para o desenvolvimento do indivíduo no mundo capitalista é necessário atrelar a tecnologia a estes dois pilares.
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“Eu quero ver jovens periféricos, que a sociedade não dá nada por eles e os tratam como uma simples estatística, serem desenvolvedores de tecnologia. […] Se ofereço tecnologia aos jovens de uma comunidade, aumento as chances de fazerem eles crescerem igualmente aos jovens da Zona Sul que têm acesso a tudo”, diz.
O primeiro contato de Lucas com uma impressora 3D foi há alguns anos, estava bem longe de sua realidade, custava cerca de R$ 15 mil e ele não tinha como pagar. Foi então que teve a ideia de ir em ferros-velhos em volta do Complexo do Alemão, do Morro do Adeus e assim conseguiu pegar motores e outras peças. Após dois meses de pesquisa ele conseguiu criar uma graber, um modelo aberto, simples e eficiente que faz impressão 3D com diversos polímeros.
Com sede de conhecimento, continuou estudando sobre programação e vasculhando nos lixos, até chegar a um modelo que imprime só com um tipo de polímero e tem potencial para produção em larga escala. A criação foi batizada de “Maria”, em homenagem à mãe. “A Maria é um modelo que eu imagino, no futuro, estar em todos os colégios públicos do Rio de Janeiro. A Maria é o meu xodó, pelo que dedico mais tempo“.
Desde criança ele já criava objetos diversos. Desmontava brinquedos para, a partir deles, construir novos. “O que me motivou a ter uma máquina dessas é poder criar o que eu quiser. É como se ela fosse o limite máximo da minha imaginação. E se eu dou uma impressora 3D a um jovem da comunidade, ele pode fazer tudo o que quiser”.
Atualmente, ele trabalha para aprimorar a impressora. “Eu quero que a Maria seja não apenas um produto, mas uma ferramenta de transformação. Eu quero que o jovem periférico que não tem condições de comprar uma impressora top de linha possa comprar a Maria e começar seus passos no mercado de tecnologia”, reitera. “Acho que até o final desse ano já tem as primeiras Marias nas ruas”, adianta.
No dia 7 de outubro ele recebeu o primeiro reconhecimento público do projeto. Foi vencedor do programa Shell Iniciativa Jovem, no qual concorreu com outros 55 empreendimentos. Ganhou o prêmio principal, de R$ 8 mil, além do Prêmio Popular, que é definido por votação do público presente no evento, um prêmio extra de R$ 2,5 mil. Após 13 dias, mais um reconhecimento, foi uma das 15 startups selecionadas do programa start da Ambev, ganhou R$ 50 mil para utilizar no negócio e três meses de aceleração em São Paulo.
“Eu vejo, daqui 5 ou 6 anos, as comunidades do Rio virando praticamente Wakandas, tendo jovens negros fazendo aplicativos impressoras 3D, criando máquinas. É isso o que eu quero para minha empresa. Não é apenas fazer um produto. O que eu quero é transformação“, finaliza.