Mundo Negro

Moda negra é sobre acessórios e roupas étnicas?

Foto: Reprodução/Lisa Folaiywo

Há um equívoco comum em pensar que a moda negra se resume a acessórios e roupas com estampas étnicas. Embora essas estampas possuam um  valor cultural intangível  e, na diáspora, representem de forma marcante o resgate da cultura africana que foi algo de insistentes tentativas de apagamento (que ainda perduram), elas são apenas uma das muitas expressões do design negro. Criadores negros têm ampliado os horizontes e impactado as percepções da moda com ideias inovadoras, que incluem referências do movimento afrofuturista, elementos das religiões de matriz africana e inspirações do cotidiano que se entrelaçam com a vida e a história das comunidades negras em diferentes lugares do mundo. 

Se as estampas produzem o entendimento visual literal de que aquele produto tem ligação com África, ainda que exija um olhar mais apurado para entender seus diferentes significados, as releituras e novas criações de  estilistas negros são um exemplo de como a moda afro vem crescendo. A designer nigeriana, Lisa Folawiyo, da marca Jewel by Lisa, que já vestiu  Lupita N’yongo e Solange Knowles, traz em suas peças reinterpretações das estampas, utilizando tecidos africanos tradicionais com técnicas modernas de construção de vestuário.

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Foto: Reprodução/Lisa Folaiywo

Ao trazer uma memória de infância, Folawiyo conta como a mãe vestia ela e os irmãos: “Ela era muito criteriosa [sobre] como todos os quatro filhos se apresentavam ao mundo em termos do que vestíamos e, inconscientemente, eu me tornei muito consciente das roupas, de como eu queria parecer. Além disso, minha mãe é de Trinidad e Tobago, e acho que isso [inspirou] meu amor por cores e estampas”, contou em uma entrevista concedida para a revista norte-americana Essence, ao lembrar de como a mãe a influenciou.

Foto: Reprodução/Instagram

No Brasil, Karla Batista, fundadora da Azulerde, marca de acessórios de moda, traz no DNA do seu negócio o design contemporâneo e já enfrentou dificuldades em ser vista como uma marca afro por suas peças não conterem representações do que se imagina que vem de África: “Acredito que ter um design mais contemporâneo é um deles. Enfrentei múltiplas dificuldades por não ser uma marca preta que utiliza elementos como búzios e estampas mais expressivas. Nesse processo de afirmação de marca, tive que fortalecer muito o branding para que todos pudessem entender a afro-contemporaneidade das minhas criações”, revelou.

Enquanto a Azulerde propõe um design afro-contemporâneo, marcas como a Santa Resistência, da estilista Mônica Sampaio, também são exemplos de como os elementos de culturas africanas tradicionais se misturam às novas referências de criação de moda e mostram que falar de África e de diáspora está além dos estereótipos. Na última edição do São Paulo Fashion Week, realizado em outubro, Sampaio apresentou sua coleção “Manifesto Ancestral”, que segundo o diretor Rodrigo França: “A coleção é um convite à reflexão sobre a moda como um espelho do passado e uma janela para o futuro, onde cada peça se torna um manifesto vivo, ecoando a força de um povo que transcende o tempo e o espaço”.

As inúmeras possibilidades de conceitos e ideias que podem ser criados tendo como referências a cultura e a técnologia de povos africanos, afrobrasileiros e outras diásporas é o que permite que criadores negros não sejam colocados em uma escala de segmentação limitada, e também é o que os estabelece como designers que estão moldando o futuro da moda negra.

Esse conteúdo é fruto de uma parceria entre Mundo Negro e Instituto C&A.

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