Texto: Rachel Maia
Há algo de revolucionário quando uma mulher negra amarra um turbante, quando um homem negro veste uma estampa inspirada em símbolos africanos, quando uma marca nasce com o propósito de exaltar raízes que, por muito tempo, foram marginalizadas. Isso não é apenas moda — é um ato de resistência, identidade e movimento.
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Num país onde a população preta e parda é maioria — 56% dos brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — e enfrenta os maiores índices de desigualdade social, empreender torna-se, muitas vezes, uma questão de sobrevivência. Mas também é, cada vez mais, um ato de reinvenção e afirmação. É sobre criar com propósito, gerar renda com consciência e romper com narrativas que nos foram impostas.
Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), 51% dos empreendedores no Brasil são negros. A maioria começa sem capital, sem crédito e sem apoio. Mas o que eles têm — e não é mensurado em planilhas — é força ancestral, visão de futuro e uma criatividade que pulsa em cada detalhe.
Afroempreendedorismo: transformar o presente e desenhar o futuro
A moda afro-brasileira é a vitrine desse movimento, marcas como Santa Resistência, Meninos Rei, Dendezeiro, Moikana Afro Wear, Ateliê Mão de Mãe, entre tantas outras, estão ganhando espaço não apenas nas passarelas, mas nas conversas, nos editoriais, nas ruas e nas redes. Não é só sobre vender roupas — é sobre pertencimento, cultura e economia.
O relatório Afroempreendedorismo Brasil, da PretaHub, mostrou que 80% dos negócios liderados por pessoas negras foram criados por necessidade. Mas o que nasceu da urgência, hoje, se transforma em potência cultural e econômica. E a pergunta que precisa ser feita é: como fomentar o acesso a recursos financeiros para esses talentos? Não há mais tempo para invisibilidade — agora é hora de reconhecer, valorizar e investir em quem transforma o país com criatividade, coragem e ancestralidade.
Cada empreendedor negro que rompe o ciclo da informalidade contribui para o aquecimento da economia, impulsiona a geração de empregos com foco em diversidade e fortalece a inclusão produtiva. Iniciativas como o Programa Nacional de Fomento ao Empreendedorismo Negro, lançado em 2023 pelo governo federal, são fundamentais — mas ainda insuficientes diante do que precisa ser feito.
Chega de romantizar a resiliência. É preciso transformar discurso em ação e garantir que os empreendedores tenham acesso a políticas públicas com recorte racial e de gênero, crédito, presença em editais e espaço nas mídias. Pois essas soluções criativas que, mesmo diante da escassez, protagonizam uma revolução silenciosa, potente, transformadora e de impacto positivo para toda a sociedade, podem fazer ainda com os recursos necessários.
O afroempreendedorismo não é tendência. É futuro. E o futuro não pede licença — ele chega, colorido, estampado, com gingado, com propósito e com memória. E se o Brasil quiser se reinventar como nação, precisa reconhecer essa força criativa que faz a diferença na economia e na sociedade — inserindo, potencializando e reconhecendo a cultural afro-brasileiro. Porque, quando um povo se reconecta com suas raízes, não há estrutura que o contenha. Há apenas espaço para florescer e vencer.