“Nossa marcha para a liberdade é irreversível. Não devemos permitir que o medo fique no nosso caminho.”
Mais um ciclo se completa e celebramos a memória daquele que inspirou diversas gerações na luta pelos direitos humanos. Nelson Mandela nasceu no dia 18 de julho de 1918, na aldeia de Mvezo, Transkei, África do Sul. Em sua homenagem, a Assembleia Geral da ONU (2019) escolheu essa data como o “Dia Internacional Nelson Mandela”. A luta que Madiba (apelido de infância) assumiu na defesa do povo negro começou na época em que era estudante de Direito na Universidade de Fort Hare. A conceituada instituição era um celeiro da minúscula classe média negra. Madiba era bolsista. Lá, participou de reuniões e cursos com militantes socialistas, comunistas e pan-africanistas. Esse ímpeto pela política ocorreu por conta das injustiças que presenciou dentro e fora da universidade.
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Nesse contexto, ingressou no Congresso Nacional Africano (CNA). Esse movimento de libertação da África tinha como prática a formulação de petições, mas, após a eleição de Mandela para a executiva, os rumos mudaram. O partido resolveu a agir duramente contra a repressão do Estado. A luta armada se tornou necessária. O país havia mergulhado em um dos períodos mais cruéis e repugnantes da história. A segregação racial foi transformada em política de Estado com a vitória do Partido Nacionalista (1948); as leis implantadas (Apartheid) determinavam que pessoas brancas e pessoas negras não poderiam ocupar os mesmos lugares. Os espaços públicos eram dedicados separadamente para cada grupo racial: banheiros e bebedouros, escolas e universidades, os assentos nas praças e nos transportes públicos, os casamentos inter-raciais foram proibidos, etc.
No entanto, a radicalidade de Mandela ganhou impulso no episódio conhecido como Massacre de Shaperville. Os negros protestavam contra a lei (Lei do Passe) que obrigava os negros a portarem cartões com registro oficial informando se poderiam circular na área em que se encontravam. Diante do protesto, o Estado respondeu com uma brutalidade sem tamanho. Dezenas de pessoas negras foram assassinadas e quase duzentas ficaram feridas. Nelson Mandela escreveu em seu manifesto que defendia a luta armada “no início de junho de 1961, após uma longa e ansiosa avaliação da situação sul-africana, eu e alguns colegas chegamos à conclusão de que, como a violência neste país era inevitável, seria irrealista e errado que os líderes africanos continuassem a pregar a paz e a não-violência, numa altura em que o Governo responde às nossas exigências pacíficas com a força”.
Durante a luta contra o apartheid até a sua prisão, Mandela recebeu diversas acusações: violação da Lei de Proibição do Comunismo, incitação à greve, viagem sem passaporte válido, etc. Em 1964, o sistema o condenou à prisão perpétua pelo crime de sabotagem e planejamento de invasão armada.
A África do Sul tornou-se um caldeirão de violências em que o regime racista atacava cada vez mais os civis, e as mobilizações exigindo a liberdade de Nelson Mandela saíram das fronteiras do país, internacionalizaram. As negociações com o importante preso foram intensas. Ele tinha muita influência mesmo com a liberdade suspensa, e até recebeu a seguinte proposta: impedir a luta armada para ser libertado. Não aceitou.
No dia 11 de fevereiro de 1990, conquistou as ruas. Meses depois, as leis segregacionistas foram abolidas e, em 1993, dividiu o prêmio Nobel da Paz com o presidente Frederik Willem de Klerk, responsável pela libertação e negociação com o herói sul-africano. No ano seguinte, Madiba foi eleito presidente da África do Sul. O primeiro negro a ocupar esse cargo.
E, no dia 5 de dezembro de 2013, faleceu aos 95 anos. Que Mandela siga eterno na memória de todos os povos que lutam por um mundo melhor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOEHMER, Elleke. Mandela: O homem, a história e o mito. Tradução: Denise Bottmann. Porto Alegre–RS: L&PM, 2014.
MANDELA, Nelson. Autobiografia de Nelson Mandela – Um longo caminho para a liberdade. Lisboa: Planeta, 2009