Mundo Negro

Mais de 300 objetos históricos são encontrados na obra do metrô de SP, região do antigo Quilombo Saracura

Foto: Jose Miguel Gomez/Reuters

Mais de 300 artefatos históricos, como louças, cerâmicas, vidros e solas de sapato, foram encontrados no sítio arqueológico identificado durante a obra da futura Estação 14 Bis, da Linha 6-Laranja, do metrô de São Paulo. O inédito relatório aponta que parte dos itens são possivelmente do início do século 20, quando o Quilombo Saracura existia na região central da cidade de São Paulo, às margens do córrego de mesmo nome, nos primórdios do bairro do Bixiga.

O relatório aponta que “a profundidade dos vestígios parece aproximá-los dos períodos em que o Córrego Saracura ainda corria a céu aberto e aquilombados viviam à sua margem. Caso isto seja comprovado na escavação arqueológica planejada, esses materiais certamente serão remanescentes do Quilombo Saracura, cuja localização é historicamente comprovada”.

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“Os conjuntos materiais coletados representam um acervo diversificado em termos de materialidade e funcionalidade, mas que estão intimamente relacionados ao cotidiano das pessoas, agregando utensílios domésticos, medicamentos, restos de produção artesanal, equipamentos de trabalho e restos alimentares”, completa o documento.

A declaração parcial foi enviada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pela A Lasca Arqueologia, responsável pelo acompanhamento da obra. A lista, ainda não divulgada publicamente, cita 316 itens encontrados, além de outros objetos, durante atividades de monitoramento e em poços-testes pontuais.

Uma prospecção arqueológica mais ampla é estimada para começar em setembro ou outubro, após obras de estruturas subterrâneas da estação que darão segurança para trabalhos de até três metros de profundidade. O início das escavações foi autorizado pelo Iphan, nas imediações e precisou interromper parte da obra no local.

Os artefatos estão divididos em duas classificações: a de maior interesse arqueológico, descobertos em abril deste ano, porque estão em maior quantidade, com mais de 300 fragmentos, concentração e profundidade (de dois a quatro metros), “como se fossem bolsões ou locais de descarte de longa duração”, de acordo com o relatório.

A outra classificação está relacionada aos objetos coletados mais superficial e isoladamente, nas camadas de aterramento da área. Nesse caso, há a dificuldade da identificação de origem, pois podem ser provindos de ocupações urbanas mais recentes ou trazidos juntamente com o aterro.

“Interpreta-se que estes objetos tenham sido descartados em lixeiras próximas às antigas residências do quilombo, em um período em que a sua formação original já tivesse vivenciado modificações, com a ocupação se espalhando além do fundo de vale para as vertentes do córrego Saracura; assim, crescia a população do bairro, em muito formada pelos descendentes dos aquilombados”, diz o relatório.

Coletivos do movimento negro, moradores do bairro, sambistas da tradicional escola de samba Vai-Vai, pesquisadores e outros ativistas, criaram uma mobilização pela preservação do sítio quando ele foi descoberto e reivindicam a mudança do nome da estação para “Saracura Vai-Vai” a fim de marcar a história negra do Bixiga e do Vai-Vai, que teve a quadra cinquentenária demolida para implantação da linha de metrô. “Não somos contra o metrô, somos contra o apagamento histórico”, diziam os cartazes espalhados pela cidade, em ato realizado neste período.

Fonte: Estadão Conteúdo

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