Nos últimos anos, o nome de Lelia Gonzalez teve um aumento de 250% nas buscas da internet, sendo mencionada por militantes e lembrada em documentários, a intelectual tem ficado cada vez mais conhecida no país.
Para melhor contar a sua história e lutas, a família da ativista criou o projeto Lélia Gonzalez Vive, em parceria com a Ong Nossa Causa.
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O projeto reúne escritos da intelectual e disponibiliza na internet. Com o objetivo de democratizar o acesso às ideias de Lélia em uma linguagem mais acessível, e com design voltado para o digital. Dessa forma, mais pessoas poderão conhecer o trabalho e história da ativista de forma acessível.
“Tudo foi feito para facilitar a leitura e expandir o pensamento dela. É muito importante a leitura de sua obra, para a gente entender a situação real da sociedade brasileira, principalmente da parte negra da população. Lélia te carrega para o livro e são pensamentos fortes, falados de maneira engraçada” explica sua neta — Melina de Lima.
Melina lembrou que com a menção a Lelia no documentario “Amarelo: é tudo pra ontem”, do rapper Emicida, lançado em dezembro de 2020 pela Netflix, a busca pelo nome da intelectual teve um grande aumento.
“O documentário do Emicida deu muita visibilidade para a Lélia, um boom de seguidores no Instagram. Nós estamos sempre a par do que está acontecendo e cuidamos para que o legado dela seja respeitado, atuando e verificando se o que é dito é verdade” afirma Melina que já precisou combater séries de fakes sobre a ativista.
“Ela já foi citada como lésbica, coisa que não era. Lélia nunca assumiu sua sexualidade desta forma. Creio que isso foi dito, porque, quando ninguém falava sobre isso, a pauta LGBTQI+ já estava na pauta dela. Muita gente confundiu. É um orgulho para mim, como mulher negra e lésbica, saber que minha avó tinha total consciência não só da questão racial, como também de gênero e sexualidade” diz Melina.
Lélia Gonzalez levantou debates sobre raça e gênero, denunciou o racismo e o sexismo na década de 60 contribuiu para a fundação do Movimento Negro Unificado (MNU) e do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), além de ter integrado o primeiro Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e atuado nos debates para elaboração da Constituição de 1988.
Grande parte dos escritos originais de Lélia Gonzalez estão guardados em um terreiro de candomblé. O terreiro foi o local escolhido pela ativista antes de sua morte, e não está disponível ao público.
O Projeto “Lélia Gonzalez Vive” é uma conquista de mulheres negras, a professora Flávia Rios, professora adjunta da Universidade Federal Fluminense (UFF) e integrante do Comitê Científico do AFRO/CEBRAP, tem ligação direta ao projeto. Flavia vem pesquisando a vida, lutas e obra de Lélia González desde os anos 2000.
“Há 20 anos atrás, comecei o trabalho de reorganizar e trazer as obras de Lélia. Desde então, temos muitos avanços e mais informações, além do interesse de jovens de encontrar e analisar essas obras. As grandes editoras comerciais também estão interessadas em publicar, e este tem sido um movimento cultural de divulgar o pensamento de intelectuais como Lélia.” conta Flávia.
Informações: O Globo