Mundo Negro

Jornalistas negros e periféricos lançam guia sobre alimentação saudável para crianças de escolas públicas

Crédito: Divulgação

2024 é um ano de eleições municipais. E o que seria mais valioso debater senão a alimentação das nossas crianças e como ela acontece em diversas cidades brasileiras? A Énois Laboratório de Jornalismo junto às iniciativas Carta Amazônia (PA), Nonada Jornalismo (RS), Nós Mulheres da Periferia (SP), Teatrine TV (MS) e Tejucupapos (PE) acreditam que esta pauta é urgente. 

E é pensando nisso que, recentemente foi lançado o Pratinho Firmeza Brasil, um guia que traz estratégias educacionais de escolas públicas das cinco regiões do Brasil voltadas para o direito à alimentação saudável na infância. É a segunda edição do guia que tem foco no público infanto-juvenil e, desta vez, comemorando a sua abrangência nacional. Baixe aqui: pratofirmeza.com.br.

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A primeira edição do Pratinho Firmeza foi feita nas periferias de São Paulo, trazendo a conexão entre as receitas de família, o lugar das crianças na cozinha e as possibilidades de comer bem e a preço justo com as crias nos rolês periféricos. Agora, foi colocado o espaço da escola como centralidade do debate. 

Para muitas crianças que vivem em situação de insegurança alimentar, em sua maioria nas periferias do nosso país, a refeição escolar pode ser a única do dia. É tamanha a responsabilidade que, no período de isolamento social na pandemia da Covid-19, muitas escolas públicas brasileiras chegaram a distribuir cestas básicas e outros tipos de alimentos para as famílias de estudantes, como garantia de alimentação enquanto as aulas estavam suspensas. 

Cecília Amorim, coordenadora do Pratinho Firmeza Brasil, destaca a importância da alimentação como ferramenta de transformação social. “Sou uma pessoa que vem de escola pública, de uma família sem recursos financeiros. E então a alimentação das escolas pra mim era a principal refeição do dia. Repensar a merenda escolar, como faz o guia, é importante para combater a insegurança alimentar que existe ainda hoje”.

A realização do guia também marca a comemoração de 15 anos da Énois, em 2024. A organização que atua fortalecendo o ecossistema do jornalismo local celebra esses expressivos anos de caminhada fazendo aquilo que representa a essência do seu trabalho: realizar em rede e impulsionar o jornalismo diverso quando o assunto é território, raça e gênero.

O que você encontra no guia 

O que o Pratinho Firmeza Brasil mostra é que dá para fazer muita coisa bacana quando o assunto é escola pública e direito à alimentação saudável na infância, o que precisa é a garantia de estrutura, investimento e iniciativa do poder público. 

Com uma linguagem lúdica que dialoga diretamente com as crianças e jovens, o livro é guiado pela personagem fictícia Ayó, uma menina negra, de 6 anos. Ela é uma criança com deficiência física e, por isso, está sempre acompanhada da sua cadeira de rodas enquanto conduz a narrativa Pratinho Firmeza Brasil.  Ayó se apresenta, começa explicando o que é uma horta e a sua relação com a terra desde pequeninha e também como ela se dá na horta da escola. 

É desse ponto de partida que ela leva o leitor para as reportagens feitas pelas cinco iniciativas de jornalismo local parceiras da Énois no projeto, nas cidades de Belém (PA), Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), Campo Grande (MS) e Camaragibe (PE). As reportagens focam nas crianças e suas relações com a alimentação no âmbito escolar e são acompanhadas do quadro “O caminho da merenda”, que traz detalhes sobre o planejamento, a produção e o fornecimento da merenda em cada uma das cinco escolas. 

O leitor confere também uma receita regional que faz sucesso com a criançada. É alimentação saudável, reivindicação de direitos e políticas públicas e diversidade regional da nossa cultura alimentar. 

Ao final do guia, há um jogo de tabuleiro “O que tem no pratinho?”, que tem o objetivo de fazer as crianças e suas famílias refletirem sobre o que é ou não um alimento saudável. 

O Prato Firmeza 

O Prato Firmeza é o primeiro guia gastronômico a mapear restaurantes, bares, lanchonetes e carrinhos de comida das periferias brasileiras. Em suas três primeiras edições (2017, 2018 e 2019), trouxe estabelecimentos que estão fora do radar da gastronomia da cidade de São Paulo, a partir do olhar de jovens repórteres locais formados pela Escola de Jornalismo da Énois.

Em 2020, a quarta edição do Prato Firmeza deu um passo muito significativo, aproximando os debates levantados pelo programa à luta antirracista. Com uma equipe 98% formada por pessoas negras, mapeou empreendimentos de pessoas negras, contando com produção jornalística dos coletivos Agência Mural, Alma Preta, Periferia em Movimento, Preto Império e Vozes das Periferias e parceria com a Feira Preta

Em 2021, o projeto recebeu o Prêmio Jabuti na categoria Economia Criativa, pelo Prato Firmeza Preto. E também organizou junto com data_labe e LabJaca o Prato Firmeza RJ (Rio de Janeiro). Já em 2022, em parceria com PerifaCon e redação do Alma Preta, foi realizado o Prato Firmeza Geek, que apresentou cozinheiros inventivos do universo nerd, das periferias de São Paulo. 

Em 2023, o guia ganha abrangência nacional com a edição “Prato Firmeza: um diálogo entre campo e cidade”, que evidenciou o caminho que o alimento faz até chegar em estabelecimentos de comida das periferias de 10 capitais do Brasil, abordando também a temática da agricultura familiar e produtores locais. No mesmo ano, a Énois também lançou o Pratinho Firmeza SP. 

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