Texto: Ivair Augusto Alves dos Santos
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil volta a ter uma pauta antirracista e com prioridade para o continente africano.
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Depois de mais de uma década, o Itamaraty começa a dar passos na direção de retomar o tempo perdido nas relações com o continente africano. Desde o governo Dilma que África não tem merecido a devida atenção. Os países africanos estão hoje entre aqueles com as maiores taxas de crescimento do mundo.
Esta semana o Ministro Mauro Vieira ofereceu um almoço para os Embaixadores do grupo africano em Brasília. O continente africano, em razão de vínculos culturais e históricos e de importantes fatores políticos e econômico-comerciais, é de interesse estratégico permanente para o Brasil. Esta prática diplomática havia sido ignorada nos últimos anos.
O presidente Lula telefonou para o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, ontem, 21 de março de 2023, Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial. Com o comando da Secretaria Geral do Itamaraty, a Embaixadora negra Maria Laura da Rocha retomou o Núcleo Diplomacia e Negritude. No Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, o Itamaraty anunciou uma série de iniciativas de promoção da igualdade racial.
No ano de 2023, o Itamaraty, em parceria com outros ministérios, irá oferecer 60 bolsas para negros para se prepararem para ingressar na carreira diplomática. Será criado o prêmio “Milena Oliveira de Medeiros”, a ser concedido ao aluno cotista negro ou aluna cotista negra com melhor desempenho no Curso de Formação de Diplomatas, além de medalha e estágio em posto no exterior ou matrícula em curso relacionado à atividade diplomática.
O prêmio reconhece o desempenho dos alunos cotistas. Presta também homenagem à diplomata Milena Oliveira de Medeiros, bolsista do Programa de Ação Afirmativa, que nos deixou prematuramente no exercício de suas funções, mas continua a ser fonte de inspiração para seus colegas.
Essas iniciativas são importantes diante do passado que anulou qualquer iniciativa de promoção da igualdade racial e reduziu drasticamente as relações com o continente africano. Depois de 20 anos o contexto é diferente e os desafios não são menores.
A comunidade negra ainda está muito distante de reconhecer que política exterior é uma política pública que tem tudo a ver com nosso quotidiano. Os desafios de crescimento do país, a empregabilidade da juventude negra, passam pelo continente africano. É necessário repensar o modo como se tem feito as coisas até aqui. Hoje há uma exigência de investimentos de alta qualidade no setor de energias, transporte, educação, saúde e na investigação. No reconhecimento da autonomia estratégica do continente africano, mudança na relação nutrida por “uma nova maneira de pensar, que inclua todo o ecossistema, e não apenas a ajuda financeira”.
Devemos trabalhar para combater os estereótipos sobre a África e nos colocar como parceiros na busca de soluções em conjunto. E para isso a comunidade negra, jovens negros universitários precisam colocar no seu radar de perspectivas de trabalho e empreendedorismo o continente africano.