Neste Dia de Combate à Intolerância Religiosa, um novo monitoramento feito pela Ogilvy Brasil e Eixo Benguela evidencia o forte preconceito a religiões de matriz africana no Brasil. No atual cenário do país, as ofensas não se limitam mais a invasão e ataques a terreiros e outros templos religiosos. Com a possibilidade do anonimato da internet, o espaço virtual se tornou o grande universo para ataques às religiões. Esse é o cenário observado pela pesquisa “Intolerância Religiosa e seus Reflexos nas Redes Sociais”, estudo produzido pelo Eixo Benguela, coletivo de promoção a diversidade racial da Ogilvy Brasil, em parceria com as áreas de Data Intelligence e Social Media da agência.
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A curadoria identificou as ofensas, violências e ataques mais comuns feitos às religiões de matriz africana na internet, e não à toa, religiões como o Candomblé e Umbanda se destacaram pelo volume de menções. Os termos mais associados negativamente a elas foram “volta para o mar, oferenda”, com 34.164 menções, e “chuta que é macumba”, com 53.742 menções, no período de 2018 a 2021. Já a palavra macumbeiro (a), foi mencionada mais de um milhão de vezes (1.321.128) no mesmo período. Vale lembrar que nessa ocasião, majoritariamente, o termo é usado de maneira pejorativa, apesar de também ser usado entre os praticantes do Candomblé.
A pesquisa “Intolerância Religiosa e seus Reflexos nas Redes” foi elaborada combinando diversas ferramentas e recursos de pesquisa online. Através da Nuvem de Palavras relacionadas ao termo “intolerância religiosa” nas redes sociais, fica também evidente que a temática está diretamente ligada a assuntos como “racismo”, “crime”, e outras palavras correlatas, como “respeito” e “direitos”. Vale lembrar que o Código Penal Brasileiro tipifica em seu Art. 208 como crime a intolerância religiosa no país.
Fora da internet, o cenário de preconceito religioso se repete. Segundo dados do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, os boletins de ocorrência sobre discriminação religiosa somaram 261 registros no segundo semestre de 2020. Esses são os dados mais atualizados disponíveis pelo Disque 100, canal federal de denúncias. Vale lembrar que cada Estado brasileiro tem secretarias específicas que também recebem denúncias. O Candomblé lidera a lista de vítimas (23%), seguido pela Umbanda (14%), Catolicismo (14%) e Espiritismo (12%).
REAÇÃO E REFLEXÃO
Mais do que evidenciar as formas de violências e agressões às religiões de matriz africana presentes nas conversas nas redes sociais, o estudo tem objetivo de trazer impacto positivo para o Dia do Combate à Intolerância Religiosa. Segundo Nancy Silva, gerente de estratégia de conteúdo da Ogilvy, e integrante do coletivo Eixo Benguela, a principal missão é sensibilizar sobre a importância de debates mais saudáveis e de mais respeito em relação a fé.
“Chegamos à conclusão de que a maioria das conversas sobre intolerância religiosa na internet são estimuladas por notícias ou situações envolvendo violência, ataques e crimes, sobretudo, em relação as religiões de matriz africana. Essas conversas, combinadas ao preconceito racial e o clima polarizado das redes, apenas fortalecem o ciclo da violência”, pontua.
Como forma de informar possíveis vítimas em relação aos seus direitos, o levantamento traz ainda informações de órgãos públicos, da Constituição Federal e do Código Penal que amparam as pessoas em relação ao seu direito de expressar sua fé.
“O Dia de Combate à Intolerância Religiosa nunca foi debatido como data de reflexão. Até porque descobrimos através do interesse das pessoas em buscas no Google que há muita dúvida para entender o termo ‘intolerância religiosa’. A proposta com o estudo é trazer a conversa de forma construtiva e educativa, inspirando uma troca mais respeitosa e empática. A fé é uma escolha muito íntima e um direito que deve ser exercido de forma livre, como é assegurado pela constituição”, finaliza Nancy.
O Dia de Combate à Intolerância Religiosa (21 de janeiro) foi criado no Brasil em homenagem a todas as pessoas, que assim como Mãe Gilda, sacerdotisa do Ilê Axé Abassá de Ogum, foram vítimas de violência verbal, física e patrimonial.