A marca baiana Dendezeiro,assinada pelos designers Hisan Silva e Pedro Batalha, adicionou ao seu site oficial um provador virtual, uma ferramenta que possibilita acrescentar as medidas necessárias para criação de suas peças. A ideia é caminhar na contramão do que foi regra na indústria da moda, utilizando uma tecnologia capaz de incluir diversos públicos em suas modelagens.
“A Dendezeiro é uma grife que prioriza a diversidade de corpos e a pluralidade das pessoas. Entender que cada corpo tem um desenho, um tamanho e sua singularidade, fez a gente desenvolver modelagens inteligentes e técnicas de amarrações para abraçar diversos corpos”, contaram Hisan e Pedro.
Ideia desenvolvida pela Sizebay (empresa que conecta conhecimentos de modelagem), o provador virtual possibilita que o cliente acrescente informações como altura, peso e idade, além de ter um regulador que permite a melhor recomendação individualizada de tamanho. Agora, é possível identificar o tamanho ideal antes de finalizar o pedido.
A grife é conhecida por trabalhar com uma estética agênero que caminha para o lugar onde ser diferente é normal. “Agora queremos dar um passo adiante, tornar a compra online ainda mais inclusiva, mais plural e mais segura para nossos clientes. Nosso corpo precisa e merece ser respeitado dentro da moda e a Dendezeiro é a casa que vai fazer isso acontecer”, destacam.
De acordo com os criadores da Dendezeiro, a instalação da ferramenta reforça o compromisso da marca, fundada com base criativa nas diversidades culturais afro-brasileiras e com DNA agênero das produções, que representam a pluralidade das pessoas através de coleções representativas.
A parte inicial do evento acontece entre os dias 21 a 23 de abril
O Movimento Black Money, o hub de inovação da comunidade negra, promove a terceira edição do MBM Experience – evento que potencializa a criatividade da comunidade negra. Na edição deste ano, o evento vem ainda mais inovador, em dois formatos: hackaton + painéis, proporcionando uma maratona de processos formativos e compartilhamento de conhecimentos sobre negócios e novas tecnologias.
A primeira fase, o InovaHAcK acontece entre os dias 21 a 23 de abril, no Centro Empresarial Itaú Conceição em São Paulo e com highlights sendo transmitidos nas redes do MBM. Cerca de 120 jovens negros estarão reunidos em uma maratona com workshops em WEB3, acompanhamento de mentores e os desafios das equipes envolvendo prototipagem, design e desenvolvimento de soluções.
O objetivo do evento é estimular o trabalho em equipe, os participantes terão acesso a um pacote de ferramentas para solucionar os desafios propostos reunindo pessoas dispostas a trabalhar através do espírito empreendedor, colaboração e inovação.
“O evento visa seguir os pilares: futuro, tecnologia e comunidades. A busca do desenvolvimento das nossas próprias soluções para sustentabilidade e melhores acessos à comunidade negra, dentro da nossa própria cosmovisão, usando a tecnologia como meio” diz Nina Silva, CEO do Movimento Black Money.
Grupos com até 05 participantes serão formados para receberem mentorias durante toda a jornada, desde a validação do problema até à construção e apresentação do pitch para uma banca julgadora.
Este ano, a primeira edição presencial MBM Experience, oferecerá 30 horas de experiências com desenvolvimento de soluções focadas em criação de código, desenvolvimento de protótipos e workshops sobre os temas: metamarketing; afrofuturismo; investimentos; tecnologia; metaverso; startups; inovação; Web 3.0.
Todos os grupos participantes apresentarão suas soluções à banca que irá avaliar alguns critérios como criatividade, inovação, impacto, escalabilidade, equipe, viabilidade e apresentação. Os três grupos que melhor atenderem aos critérios estabelecidos serão premiados. 1º lugar R$10 mil reais, 2º lugar R$7 mil reais e 3º lugar R$3 mil reais.
Além de todos os participantes estarem sendo observados como um potencial talento a ser contratado por uma organização parceira.
O evento conta com o apoio e patrocínio do Sebrae e Mover, tendo o Site Mundo Negro e o Portal Terra media partners.
“Para o MBM esse evento é de extrema importância, é sobre a construção de marca dentro da comunidade negra, através do apoio à diversidade e inclusão no mercado de tecnologia”, diz Alan Soares – Fundador e CSO do Movimento Black Money.
No dia 25 de março, será inaugurado a nova sede da Diáspora Galeria, em Pinheiros, São Paulo, com promoção a reflexões sobre o papel social e político das galerias de arte no país.
O evento começará a partir das 13h, com uma cerimônia de emplacamento em homenagem ao engenheiro e ativista André Rebouças, importante personagem na luta abolicionista do país, cujo sobrenome nomeia a importante avenida no qual a galeria se localiza, em parceira com o Guia Negro.
A partir das 15h, será feito o lançamento do projeto Galeria-Escola, que visa estimular a organização coletiva de pessoas de recortes socialmente racializados para atuar artística, política e culturalmente no circuito das artes contemporâneas.
Em 27 de maio, a galeria realizará uma segunda inauguração com “caráter mais mercadológico”. A partir da idéia de ‘Afeto’, o galerista cita os escritos da autora e ativista bell hooks, que nomeia o amor como ação, derivando daí “a necessidade de fazer do afeto uma estratégia” no qual a Diáspora se coloca como central na conexão, partilha e acolhimento de redes afetivas entre os três grupos que a compõem – as comunidades negras, indígenas e asiáticas.
Todas as atividades são gratuitas e abertas ao público. Há acessibilidade para cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção.
Inauguração Diáspora Galeria – Afeto 1º Ato Cerimônia de emplacamento Rebouças e lançamento da Galeria-Escola
Data: sábado, dia 25 de março de 2023 Horário: 13h às 19h Endereço: Av. Rebouças, 2915 – Pinheiros
Após a abertura no dia 25, a visitação do espaço será realizada por agendamento
A ex participante do BBB 23, Tina Calamba, 29, utilizou suas redes sociais para relatar que quase ficou cega após utilizar uma pomada capilar modeladora. “Eu tive um evento, fiz um penteado correndo. Eu fiz um coque, puxei todo o cabelo. Nesse dia, eu estava muito atrasada“, começou a relatar. “Aí tive a ideia de molhar o meu cabelo e depois aplicar essa pomada para poder prender o meu cabelo com mais facilidade por conta da correria. Meu cabelo ainda não tinha secado devidamente, ainda escorrendo alguns pingos de água. Fui para o evento, mas estava me sentindo completamente exausta”, contou ela.
Tina relatou que passou a enfrentar uma forte irritação nos olhos e que teve uma noite difícil, até decidir procurar o médico. “Acordei de madrugada. Graças a Deus, eu não estava sozinha. Aí minha prima me acompanhou no hospital. Eu chorava sem ter que chorar, estava tendo uma crise, principalmente no olho direito. Cinco minutos depois eu já não estava mais vendo nada, eu precisava confiar meus olhos para outra pessoa. Foi bem complicado”, destacou a influenciadora.
A ex participante do BBB 23 relatou que ficou com danos colaterais e que ainda está se recuperando. Através do tratamento médico, ela conseguiu voltar a enxergar. “Me trouxe alguns danos colaterais. Eu tive no hospital, eu tive as duas córneas das vistas queimadas por causa desse produto“.
Nos comentários da publicação, Tina revelou informações do produto que quase a deixou cega, uma pomada modeladora da marca Zhang Hair. “Recado importante para todas as pessoas, principalmente meninas pretas e adeptas de pomadas para cabelo! Atenção aqui meus diamantes, vamos ter cuidado e cautela ao escolher nossos produtos“, pontuou ela.
Foto: Chelsea Lauren/REX/Shutterstock ; Associated Press.
O rapper Diddy, 53, está trabalhando em uma oferta para comprar o grupo de mídia BET (Black Entertainment Television). O empresário, rapper e produtor musical está buscando fundos de investidores negros para ajudar a financiar o acordo. “A mídia é a indústria mais poderosa do mundo, mas é a indústria em que nós [negros] temos menos propriedade, influência e controle”, declarou Diddy através das redes sociais. “É hora da BET ser propriedade de negros novamente, para que tenhamos o poder de contar nossas próprias histórias, controlar nossa própria narrativa! Isso não é sobre mim, é sobre nós!”.
Em uma declaração para o site Variety, Diddy afirmou que a aquisição da BET seria o próximo passo em seu objetivo de construir uma “potência de mídia global de propriedade negra” para competir com grandes empresas de mídia como a Disney e a Comcast. Recentemente, foi anunciado que o bilionário Tyler Perry também possui interesse em comprar uma participação majoritária do BET Media Group.
Foto: Our Fair Share.
Dirigido pelo CEO Scott Mills, o grupo de mídia BET inclui a BET, BET+, VH1 (que foi transferida para o grupo em uma reestruturação na Paramount em novembro passado) e a produtora da BET, a BET Studios. A aquisição permitiria que Diddy ampliasse sua influência na indústria do entretenimento e ajudasse a promover a representação e diversidade na mídia.
Segundo o Wall Street Journal, primeiro a publicar a notícia sobre o interesse da Paramount Global em vender a BET, “a decisão de considerar a venda de uma participação majoritária dos ativos, que atendem principalmente ao público negro, faz parte do o esforço da gigante do entretenimento para obter recursos para reforçar seu principal serviço de streaming Paramount + e sua plataforma de streaming gratuita Pluto TV, apoiada por anunciantes, disseram algumas das pessoas.”
Numa ação inédita, o Ministério da Cultura realizará uma seleção pública para levar empreendedores do Hip Hop para participar da 7ª edição do Mercado de Indústrias Culturais Argentinas (MICA), que ocorrerá entre os dias 1º e 4 de junho no Centro Cultural Kirchner, em Buenos Aires. Serão selecionados 90 empreendedores culturais para participar de rodadas de negócios e atividades formativas no evento.
As inscrições para o Edital de apoio à área do Hip Hop estão abertas até às 18h do dia 31 de março de 2023 através deste link. Mais de 300 inscrições foram recebidas até o momento. O valor total de R$ 793 mil destinado ao Edital será utilizado para viabilizar a ida, permanência e retorno ao Brasil dos selecionados.
Foto: Kiko Silva/Prefeitura de Fortaleza.
O Edital contempla produtores(as), grupos, companhias, coletivos, associações, cooperativas, redes, agentes, corpo técnico e artistas da área do Hip Hop. São elegíveis projetos multidisciplinares envolvendo os elementos do Hip Hop, tais como Breaking Individual/Grupo, DJ Individual/Grupo/Beatmakers, Graffiti, MC/Beatbox Individual/Grupo, Batalhas (MC’s, Beatbox, Beatmakers, Breaking e DJ), bem como outros projetos, como Debates, Exposições, Intervenções Artísticas, Vivências em Podcast, Literatura, Palestras, Saraus ou Slams.
O chamamento público também está aberto aos empreendedores culturais e criativos do audiovisual, circo, dança, teatro, design (incluindo moda), editorial, música e games. O regulamento completo do Edital também está disponível neste link. Um tutorial para efetivar a inscrição está disponível clicando aqui. No registro, os empreendedores culturais deverão escolher o perfil de participação (vendedor ou comprador). Entre os critérios de avaliação estão a diversidade, a representatividade, a inclusão e a criatividade das propostas.
Foto: Reprodução/Redes Sociais ; Tom Barreto/Equipe Globo.
Um novo levantamento feito pelo Instituto Qualibest, e divulgado pela Forbes Brasil nesta quinta-feira (16), revelou os nomes das mulheres mais admiradas do Brasil. A atual Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, 65, foi a mulher negra mais lembrada pelos brasileiros, seguida pela atriz Taís Araujo, 44.
Foram ouvidas mais de 1506 pessoas, de diferentes regiões do país, dentro da pesquisa. A presença de Marina Silva no ranking, citada por 2,5% dos entrevistados, reforça sua imagem perante os brasileiros, principalmente após o maior destaque no cenário político do país, associado à sua luta constante em questões ambientais e de mudança climática. Taís Araujo, por sua vez, citada por 1,7% dos entrevistados, também figurou a lista do ano passado. Sua imagem é, frequentemente, associada a uma pessoa de opiniões sinceras e com uma carreira bem sucedida no mercado.
Foto: Tom Barreto.
“Se por um lado as artes já eram espaços com uma forte presença feminina, vemos agora mulheres do espectro político aparecerem no ranking e se destacarem“, conta Daniela Malouf, diretora-geral da Qualibest. Apesar dos nomes apresentados, dentro do ranking geral de 10 mulheres mais admiradas, apenas duas personalidades negras foram citadas.
A Câmara Municipal de Florianópolis rejeitou o título de cidadão honorário ao cantor Gilberto Gil, na última terça-feira (14). Foram oito votos favoráveis, seis contrários e duas abstenções. Para aprovação é preciso reunir no mínimo 12 votos.
Esta é a segunda vez que os vereadores rejeitam o título ao Gil. Em 2020, a iniciativa foi aprovada na primeira votação, mas a proposta não teve a maioria absoluta.
Além de ser vencedor do Grammy, Gilberto Gil ocupa uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, é embaixador da ONU (Organização das Nações Unidas) e foi nomeado como “Artista pela Paz” pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
O título homenageia pessoas não nascidas em Florianópolis, mas que prestaram serviços relevantes não só à cidade, mas à humanidade. Mas o vereador Gilberto Pinheiro (Podemos), disse que a honraria serviria como “incentivo ao uso de entorpecentes” na cidade, em referência ao dia em que o cantor foi flagrado com maconha e preso no centro de Florianópolis, em 1976.
No período da ditadura militar, a legislação ainda não reconhecia uma pessoa como usuária de maconha, apenas como traficante ou viciado. Sob orientação do advogado, o cantor na época se declarou como viciado e foi condenado a um ano de prisão. Depois o juiz substituiu por uma internação em hospital psiquiátrico. Gil ficou internado por um mês e manteve acompanhamento médico a cada 10 dias até o cumprimento da pena.
No dia 26 de março, o cantor Gilberto Gil vai se apresentar na Maratona Cultural em comemoração ao aniversário da cidade. A proposta dos vereadores Carla Ayres (PT) e Afrânio Boppré (PSOL) era prestar uma homenagem ao músico durante sua passagem.
Nesta madrugada, durante a festa do BBB 23, os homens negros – sempre taxados de agressivos pela ótica racista dos outros participantes – protagonizaram cenas de muito afeto. Ricardo Alface pediu a Sarah Aline em casamento, Gabriel Mosca se declarou para a Bruna, mas levou um fora e Cezar Black dançou muito, chorou e foi dormir.
Enquanto isso, os brancos do camarote, atual líder Mc Guimê e Cara de Sapato, protagonizaram cenas horríveis de assédio a noite inteira contra Dania Mendez, uma participante visitante em um “intercâmbio”, do reality La Casa De Los Famosos, no México.
“Se ontem no lugar de Guimê e Sapato fosse Alface e Cezar Black, hoje todos nós tínhamos acordado com uma expulsão na casa”, afirma a influencer Preta Demais no Twitter. “Se Guimê e Sapato fossem neigros, ceis já tavam espumando pedindo expulsão”, diz a artista Preta Araújo.
para de fingir q vcs não sabem disso. se ontem no lugar de guime e sapato fosse alface e cezar black hoje todos nós tínhamos acordado com uma expulsão na casa kk enfim segue o game
A jornalista Tia Má se pronunciou sobre o caso envolvendo o assédio do Cara de Sapato, além da Marvvila e Fred Desimpedidos mexerem na bolsa da Dania logo após sua chegada na tarde desta quarta-feira (15). “É ruim de ver…porque gera gatilhos, toda mulher já teve seu corpo invadido. A questão é que a cara de bom moço, a aparência, faz com que muita gente amenize a situação. O que aumenta a violação. Dania chegou do Mexico, teve sua bolsa aberta para que fosse comprovada a sua identidade. Isso não é uma bobagem. É a crença equivocada que pode sim adentrar nas intimidades de uma mulher”.
Já a Mc Carol, não poupou palavras para falar do Mc Guimê no Twitter e defender a amiga Lexa, esposa do funkeiro. “Como que um macho com a aparência de um rato, faz isso em rede nacional? EU ESTOU INCRÉDULA! A autoestima do homem me assusta, porque namoral… Tem que ter muita autoestima e falta de senso, para fazer isso com uma mulher LINDA como Lexa! Quando eu digo “linda” é por dentro E por fora!”, afirma.
Não queria me pronunciar mas eu não estou me aguentando!!! Mano como que um macho c a aparência de um rato, faz isso em rede nacional? EU ESTOU INCRÉDULA! A autoestima do homem me assusta, porque namoral… Tem que ter muita autoestima e falta de senso, p fazer isso com uma
A famosa pergunta frontal que Frantz Fanon faz em sua obra Pele Negra e Máscaras Brancas, continua a ser uma pergunta que vale milhões, apesar do autor fornecer elementos consistentes para repensarmos nossa negritude. Nos últimos anos recebemos uma enorme onda de produções afrocentradas ao alcance de muitos de nós, ou seja, o conhecimento está aí, circulante, embora as dificuldades perdurem principalmente no que tange nossas relações afetivas.
Devo confessar que passo o dia olhando e escutando mulheres negras incríveis, com toda a amorosidade do mundo, entretanto, com um extremo pesar, com aquela tristeza vivida no coletivo. Então, eu ativo a Dororidade de Vilma Piedade para dar conta das injustiças materiais e simbólicas direcionadas a nós. Não posso negar que meu lugar de técnica e profissional da saúde requer o máximo de neutralidade, contudo, enquanto negra e mulher, também sou atravessada por este sócio-histórico-cultural. E tá ok, do contrário, não teria mínimas condições para garantir um atendimento de qualidade ao meu público.
Este artigo tem o intuito de insistir na urgente necessidade de homens negros descolonizar seus afetos, assumir responsabilidade afetiva e repensar em sua contribuição ativa no sofrimento psíquico e emocional de mulheres negras. Reconheço que falo de um lugar pontual, mas, será que é NORMAL ouvir diariamente histórias de mulheres negras que são constantemente escondidas, invisibilizadas, reduzidas a lanche da madrugada e tratadas como um objeto qualquer? Quem está mentindo? A conta não fecha. Não se trata de uma história somente, são relatos sistemáticos e recorrentes, alguns até assumem a esfera pública expondo a inconssistência de homens negros ao transformar seus discursos em práticas responsáveis.
Decerto que a descolonização dos afetos é uma tarefa coletiva, mas devemos levar em consideração a existência de uma dificuldade maior por parte dos homens negros diante desta tarefa. As mulheres avançaram mais, é visível. Seja pelo machismo, seja pela herança patriarcal, os homens negros parecem ser mais acometidos quando o assunto é aprofundar relações com mulheres negras e entregar valores adequados à elas.
Uma vez, há muito tempo atrás, eu ouvi de um afrocolombiano radicado no Brasil a seguinte fala: “mulheres negras não aceitam um fato concreto, que elas preferem homens negros e ficam com brancos por falta de opção. Já os homens negros gostam de mulheres brancas e negras, e na verdade, nós preferimos as mulheres brancas porque são menos problemáticas, são mais funcionais e por isto vocês têm inveja das mulheres brancas”. Foi uma fala dolorosa de ouvir mas pareceu o desvendar verdadeiro sobre o que a maioria dos homens negros pensam sobre nós e ocultam. Pela primeira vez na vida, estava diante de um homem negro honesto, e de alguma forma agradeci, foi pedagógico.
A construção da subjetividade negra é um percurso extremamente difuso e repleto de disfuncionalidades, visto que na medida em que o sujeito negro é moldado, ele introjeta a lógica de seu opressor assumindo valores dissonantes com sua realidade enquanto sujeito e negro. O resultado é uma realidade psíquica em que o inconsciente é degradado pela devastação que o racismo causa. Uma vez ouvi de uma psicanalista negra ao qual tenho como referência, que apesar de nossos esforços, nosso inconsciente é bem branco, pois é isso que o Ocidente produz.
Essa fala parece estar alinhada com Frantz Franon quando ele diz que “por mais dolorosa que possa ser para nós essa constatação, somos obrigados a fazê-la: para o negro há apenas um caminho. E ele é branco”. Todos esses fatores afetam algo que é fundamental para a sobrevivência de todo sujeito, o desejo. O sujeito da psicanálise é aquele que deseja, isso que faz a vida acontecer, o sujeito transitar, se mover. O que acontece no processo da construção do sujeito que tem seu desejo deslocado? Afinal, o que o homem negro deseja realmente?
A autora Oyèrónké Oyêwumi em seu livro “A invenção das mulheres: construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero“, destaca esse deslocamento do desejo do homem negro como um dos resultados da colonização das mentes e dos corpos negros. A autora diz: “O olhar que os nativos direcionam para a cidade dos colonos é um olhar de luxúria, um olhar de inveja, expressa o sonho de posse dele: sentar à mesa do colono, dormir na cama do colono, com a esposa dele, se possível”. O tempo passou e o que mudou? Muito pouco.
A introjeção desse ideal de feminino branco faz com que homens negros mesmo em relações com mulheres negras reproduzam em alguma medida a desumanização, a objetificação e a negação do status de feminilidade à nós negras. É um valor social constantemente subtraído, como se fosse um lugar incomum a ser ocupado, e a mensagem subliminar é: meu desejo não está em você, tu não vale o investimento afetivo. E aqui é crucial diferenciar desejo e objetificação. O resultado é homens negros interagindo com mulheres negras de forma superficial, utilitária, desrespeitosa e animalizante, desconsiderando a dor e adoecimento que causa às mulheres negras.
Novamente nos deparamos com uma realidade dura, ser jogada naquele lugar comum por aqueles que esperamos o mínimo de humanidade. A autora Grada Kilomba em seu livro “Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano“, diz que mulheres negras são pessoas desaparecidas: “Quem tem pouco ou nenhum poder é assim categorizada não apenas porque não tem nada,mas porque não é nada”. Sendo assim, não é de surpreender que mulheres negras lindas, inteligentes, potentes, bem sucedidas, carinhosas e disponíveis para viver uma relação saudável, encontram-se solteiras e batendo cabeça por aí. Todas essas qualidades muitas vezes são motivos de retaliação, de castigo. Parece uma mensagem, como ousa ser mulher e plena? Sem perceber, ou até intencionalmente, o homem negro tende a repetir lógicas opressoras machistas e permeadas pelo pensamento colonial.
E o que deseja a mulher negra? Pode a subalterna desejar? O autor Renato Noguera em sua obra “Por que amamos”, ao ressaltar a Filosofia Dagara no livro “O Espírito da Intimidade” da autora Sobonfu Somé, destaca a intimidade como um caminho fundamental para a saúde dos relacionamentos e da vivência do amor. A intimidade requer reciprocidade, respeito pelo outro e principalmente abertura para uma entrega afetiva. A superficialidade e as múltiplas violências que os homens negros impõem às mulheres negras, seja por atitudes questionáveis, seja por subtração de possibilidades, está totalmente contrário com a proposta de experiências propositivas tanto do individual quanto no coletivo. Quando uma de nós denuncia a negligência e a incongruência de um homem negro, revivemos coletivamente todo um histórico de dor e invisibilidde. É triste. Será que é possível um dia a mulher negra estar no desejo do homem negro? De verdade?
Faço votos que sim.
Shenia Karlsson é Psicóloga Clínica, Especialista em Diversidade, Escritora, Colunista, Consultora de Diversidade e Inclusão e Diretora no Instituto da Mulher Negra de Portugal.