Uma entevista exclusiva da professora, filósofa e uma das maiores estudiosas dos direitos das mulheres negras, Angela Davis, à apresentadora Aline Midlej, do ‘J10’, será exibida na GloboNews no próximo domingo, dia 30, às 17h. Entre os temas abordados, Angela falou sobre as investigações do caso da morte da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, assassinados em 2018.
“Não tenho tanta certeza de que simplesmente levar à Justiça os indivíduos envolvidos em seu assassinato trará justiça para Marielle porque acho que a justiça é um fenômeno muito maior. Não se trata apenas de punir os responsáveis. Justiça significaria atingir os objetivos que ela tinha para esta cidade, para as favelas, a desmilitarização da polícia, o fim do encarceramento racista injusto de tantas pessoas”, afirma.
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“Eu acho que muita coisa será necessária para alcançar justiça para Marielle, mas acho que é bom que as pessoas saibam que aqueles envolvidos estavam no topo da hierarquia da polícia. Acho que é importante que eles saibam que ela representava um perigo tão grande para o ‘establishment’ que eles desenvolveram essa conspiração que levou ao seu assassinato”, acrescenta.
Angela falou ainda sobre a importância dos movimentos sociais na transformação da sociedade. “Acho que a política é muito complicada e nem sempre são os líderes políticos que conseguem trazer clareza para a situação, que conseguem imaginar um futuro melhor. Eu sempre gosto de apontar que é muito importante participar da arena eleitoral, sair e votar, mas temos que reconhecer que não são geralmente os políticos que mudam o mundo. Se eu olhar para os Estados Unidos, eu não posso apontar para um único presidente que fez algo significativo em termos de transformação do mundo”, aponta a filósofa.
“Mas eu posso apontar para movimentos, eu posso apontar para massas de pessoas que tiveram uma visão coletiva e que se manifestaram e lutaram até que venceram. Portanto, acho que é sempre importante ter isso em mente. Acho que muitas vezes investimos muito do nosso poder na arena eleitoral. E, é claro, considerando o que enfrentamos nos EUA hoje, eu realmente preciso enfatizar que o voto não será tanto sobre o candidato que nos conduzirá na direção da liberdade, mas sim sobre o candidato que ajudará a criar um terreno para que massas de pessoas se tornem coletivamente ativas para pressionar na direção da liberdade”, defende.
A filósofa disse também o que pensa sobre o avanço da extrema direita no mundo, além de outros temas, como violência policial, desigualdade social, feminismo, mudanças climáticas e educação. Angela esteve no Rio de Janeiro na última semana para participar do painel de abertura do Festival LED – Luz na Educação, realizado pela Globo e Fundação Roberto Marinho, em parceria com a Editora Globo.