Em 10 anos, pelo menos 30 lideranças quilombolas foram assassinadas, revela levantamento divulgado pela CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos), que aponta como o assassinato brutal da Mãe Bernadete, de 72 anos, em seu terreiro de candomblé, na noite desta quinta-feira (17), pode se juntar a mais um caso sem solução.
A entidade diz que os crimes estão relacionados à disputa fundiária. A maioria das vítimas se concentram na Bahia, onde a líder quilombola foi morta, com 11 casos registrados, em seguida aparece Maranhão e Pará, com 8 e 4 casos, respectivamente. Além disso, a maioria liderava territórios quilombolas e foi vítima do uso de armas de fogo.
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A Yalorixá Bernadete era Coordenadora Nacional da CONAQ e liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho. Em nota, Biko Rodrigues, coordenador da entidade lamenta os crimes cometidos contra as comunidades. “O caso de Mãe Bernardete se junta a esses assassinatos que estão sem resolução nenhuma. Essa situação é muito grave. Trinta pessoas tiveram as vidas ceifadas ao longo dos anos. Queremos cobrar do Estado brasileiro uma posição. Não dá para o Sistema de Justiça ignorar as violências que acontecem nos territórios quilombolas”.
“Existe uma disputa por terra muito ferrenha da qual nós negros e negra, apesar de estarmos nos territórios há mais de 400 anos, foi negado a nós o direito à terra. Isso é fruto do racismo fundiário que existe no país e esse racismo é responsável por deixar pessoas longe da terra”, completa o coordenador.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), dois homens usando capacetes, entraram no terreiro onde estava a Yalorixá, acompanhada dos 3 netos. Eles levaram os netos para um quarto e dispararam 14 tiros no rosto da quilombola.
Em julho deste ano, a Mãe Bernadete falou sobre as ameaças e violência contra as comunidades quilombolas em encontro com Rosa Weber, ministra do STF (Supremo Tribunal Federal). “Recentemente perdi outro amigo e uma amiga em um quilombo. É o que nós recebemos: ameaças, principalmente de fazendeiros, de pessoas da região”, lamentou.
Seu filho, Flavio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como ‘Binho do Quilombo’, também foi brutalmente assassinado em 2017 com 12 tiros no rosto, dentro de seu carro, nas proximidades da Escola Centro Comunitário Nova Esperança, situada em Pitanga dos Palmares.