No conjunto habitacional onde moram Gabriela, Moisés e Benyamin Luiz, uma família negra atípica da cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, enfrenta momentos de perigo e experiências desesperadoras. O casal compartilhou nas redes sociais um grande desentendimento com os vizinhos do local, que não compreenderam nem respeitaram as características da família.
Gabriela e Moisés são autistas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade. O filho de 8 anos, Benyamin, tem síndrome de Down, é autista e surdo. No condomínio popular, um grupo de rapazes que também reside no local tem o hábito de fumar cigarro e maconha embaixo da janela da família, ação que com o tempo foi se tornando insustentável.
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Preocupado com o bem-estar de seu filho autista, Moisés pediu educadamente para que o grupo fumasse e fizesse barulho em outro local. Infelizmente, a ação resultou em agressões verbais e ameaças direcionadas à família. Sentindo-se inseguros, o casal e o filho decidiram deixar o apartamento em busca de paz. “Não estou bem, tento entender tudo isso. Estou paralisada e revoltada por sempre fazer o certo e sofrer a vida toda. Cadê os movimentos sociais, de direitos humanos? Quem nos ajuda é tão pobre quanto nós. Há cinco dias que só falo sobre nossa situação e ninguém que eu já ajudei com meu trabalho me estendeu a mão. Somente o líder de um quilombo de pessoas com deficiência me procurou. O resto está mais preocupado com as celebridades, se pardo é preto. Cadê o povo que levanta bandeira do autismo?”.
A família tem enfrentado uma situação conturbada há cinco anos e já fez reclamações formais ao síndico, mas sem sucesso. Eles também relataram da falta de apoio dos governantes e de órgãos competentes para lidar com o caso. “O próprio ‘presidente’ [do conjunto habitacional] ontem abordou gritando acusando eu de de espancar meu filho entendeu? Foi uma coisa horrível“, relata Gabriela. Agora, o casal está recorrendo à Justiça, buscando segurança e paz.
Além de sua própria luta, Gabriela também oferece apoio a outros moradores com deficiência no prédio. “Perceba que ninguém quer saber de pessoas pretas e pobres com deficiência”, relatou ela. Recentemente, a família conseguiu registrar dois boletins de ocorrência pela Internet, incluindo os nomes dos vizinhos responsáveis pelas ameaças. Gabriela filmou as intimidações mais recentes, compartilhou os vídeos nas redes sociais e os incluiu no registro. “Queremos paz, temos responsabilidade com nosso filho”, diz o casal. “Até a polícia quando a gente aciona, demora uma eternidade. Isso que é uma realidade (…) A ideia é irmos para um lugar melhor“.