Um estudo mostrou que a linhagem materna da população brasileira é formada geneticamente, em sua maioria, por DNA africano e indígena. Os dados, compartilhados pelo laboratório Genera, mostram que no país a linhagem paterna é majoritariamente europeia, o que pode ser justificado pelo histórico genocida que tirou a vida dos homens negros durante a colonização e pela violência sexual que foram submetidas as mulheres negras e indígenas nesse período.
Os dados do estudo, publicado pela Folha de S. Paulo, que analisou mais de 260 mil DNAs coletados para testes de ancestralidade realizados pelo laboratório, mostram que a linhagem paterna concentra mais de 80% de códigos genéticos comuns na Europa, enquanto África corresponde a 15% dos códigos, Américas e Ásia 3% e Ásia, enquanto de outros povos somam 0,4%.
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A região Norte do Brasil possui 51% das linhagens maternas vindas das Américas e Ásia, seguidas 26% de África, e 18% provenientes da Europa.
Já a região Nordeste reúne o maior número de descendentes de linhagem materna africana, esse número chega a 40%, enquanto os descendentes de linhagens maternas de América e Ásia, somam 35%, e Europa, 21%.
Na região Centro-Oeste, 37% descendem de mulheres das Américas e Ásia, 31% de África e 27% da Europa.
Enquanto no Sudeste as linhagens maternas são predominantes de três regiões globais, sendo 35% da Europa, 31% de América e Ásia e 27% de África. O estudo concluiu que apenas 4% pertencem a outras linhagens mapeadas.
Na região Sul, as linhagens maternas provenientes da Europa aparecem com mais frequência, somando 55%, enquanto América e Ásia somam 26% e África 11%. Outras regiões correspondem a 7%.
Renan Barbosa Lemes, doutor em genética humana e de populações pela USP, contou que o DNA mitocondrial, de onde vem a linhagem materna, é mais diverso em razão da colonização, que trouxe, inicialmente, um grande número de homens da Europa: “Nessa cultura do estupro normalizada durante a colonização, homens europeus tinham filhos com mulheres negras vindas da África ou com as indígenas, que também eram escravizadas”, disse.
De acordo com Ricardo di Lazzaro Filho, doutor em genética e biologia evolutiva e fundador da Genera, as linhagens revelam a herança genética recebida de pais e mães biológicos. O primeiro através do cromossomo Y, recebido e transmitido por pessoas biologicamente identificadas como do sexo masculino e o segundo transmitido pelo DNA mitocondrial, que é transmitido pelas mães.