O estudo “Envelhecimento e Desigualdades Raciais”, feito pelo Itaú Viver Mais, em parceria com o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), identificou que a desigualdade racial impacta na vida da população negra também no envelhecimento. Segundo a pesquisa, São Paulo e Salvador são as capitais mais desiguais para a população negra acima dos 50.
O estudo, lançado no dia 19 de maio, foi realizado em três capitais brasileiras, São Paulo, Salvador e Porto Alegre. Foram entrevistados 1.462 pessoas, na faixa dos 50 anos ou mais, e analisaram 11 indicadores que compõem o envelhecimento ativo: autoestima; bem-estar; saúde: acesso e prevenção; atividades físicas; mobilidade; inclusão produtiva; inclusão digital; segurança financeira; capital social; práticas culturais; e exposição à violência.
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Entre os indicadores do Índice de Envelhecimento Ativo, cinco deles se destacaram em questão da desigualdade racial, territorial e de gênero, sendo mais evidente na vida de pessoas negras. São eles: Inclusão produtiva, Segurança financeira, Exposição à violência, Saúde e Inclusão digital.
Em inclusão produtiva, que analisou subsistência e fontes de renda, a população negra tem os piores rendimentos financeiros. Em média, em Salvador e São Paulo as mulheres negras tiveram o pior desempenho, seguido pelos homens negros. De modo geral, as mulheres negras são as mais impactadas neste caso, enquanto o homem negro supera a mulher branca em algumas faixas de idade.
Em segurança financeira, que avalia a segurança e a condição de pagarem suas contas mensais, evidencia ainda mais o primeiro indicador. Em todas as cidades e idades acima dos 50 a população negra recebe menos e possui mais dificuldade de pagar suas contas. Em Salvador, 50% das mulheres negras, entre 60 e 69 anos, disseram ter dificuldade em pagar suas despesas, já as mulheres brancas, na mesma faixa etária, apenas 10% sentem dificuldade.
Dados da Pnad ainda mostram ainda mais o peso da diferença. A média salarial das pessoas brancas acima dos 50 anos é de R$ 3000, enquanto a maior média salarial da população negra acima dos 50 anos é R$1.724.
Já em exposição a violência, a desigualdade racial pesa ainda mais que a de gênero. Em São Paulo, homens negros são os mais afetados pela violência em todas as faixas etárias, enquanto em Salvador são as mulheres negras as mais afetadas na maioria das idades.
Um dos fatores importantes após os 50 anos, a saúde, é também um dos mais desiguais. Nas três capitais o estudo identificou que homens e mulheres brancas possuem mais acesso à saúde de qualidade, incluindo atendimento, remédios e assistência. No caso da saúde privada, os brancos continuam sendo os mais beneficiados.
Mesmo a tecnologia e o acesso ao mundo digital sendo algo mais presente em todas as faixas de idades, a população acima dos 50 é a que menos tem presença digital. Mas no caso da população negra, são os que mais possuem acesso à internet em todas as capitais.
De modo geral, o racismo estrutural e as políticas públicas garantem que a população negra tenha os piores salários, acesso a saúde, segurança e qualidade de vida. Isso faz com que a população negra, de um modo geral, não chegue na “melhor idade” com seus direitos básicos garantidos.
O estudo mostra que a desigualdade racial no envelhecimento é um assunto que precisa ser debatido. O sistema racista está tirando das pessoas negras o direito de envelhecer. Um direito que nunca foi dado.
“Além de explicitar as dificuldades que a população negra enfrenta para um envelhecimento ativo e saudável, os resultados dessa empreitada apontam que há um campo fértil de possibilidades de intervenção para os setores público, privado e terceiro setor. O estudo reforça a necessidade de uma discussão ampla acerca de iniciativas e oportunidades para este segmento populacional, além de mais investigações sobre as desigualdades raciais no envelhecimento”, concluiu o estudo.
Para acessar o estudo completo é só clicar aqui.