O Movimento Meninas Crespas, criado pela professora Perla Santos, surge na EMEF Senador Alberto Pasqualini, após uma das alunas ser vítima de racismo. Em decorrência disso, Perla passou a conversar com as crianças no intervalo sobre cabelo crespo e negritude. Apesar de atualmente lecionar em outra escola, a EMEF Mário Quintana, os encontros acontecem na Casa Emancipa do bairro Restinga .
As alunas decidiram tomar uma atitude para combater as inúmeras “brincadeiras” racistas baseadas na textura do cabelo ou na cor da pele, e sentiram a necessidade de conhecer a história negra para além da escravidão.
Notícias Relacionadas
“Esse processo levou à constituição de um grupo, do qual se aproximaram pais, mães e outros familiares para a promoção de atividades dentro e fora da escola. Tal processo coletivo nos permite trocar experiências, valorizar a nossa estética, nossos crespos, celebrar nossa ancestralidade e elaborar ações e atividades culturais e pedagógicas”, explica Perla.
As principais bases utilizadas pela professora são a estética, a dança negra e o resgate da História Africana e Afro-Brasileira. O projeto visa valorizar o cabelo crespo, resgatar a identidade negra e o poder do feminino.
A partir dos encontros no recreio, foi solicitado à direção da escola uma sala para realizar as reuniões. “Os alunos inscritos no projeto, cerca de 40, entre meninas e meninos, foram divididos em duas turmas: turma Dandara e Malcolm X. Os encontros, que se iniciam sempre por uma roda de conversa, contextualizam situações, analisam fatos e debatem assuntos relacionados à população negra”, conta.
Para as crianças é ensinada dança afro e são criadas as performances que o grupo apresenta em eventos. Também a partir dos encontros, as famílias passaram a se aproximar e participar das oficinas e rodas de conversa.
Os encontros acontecem aos sábados, na Casa Emancipa, onde outras famílias da região são acolhidas. Para atender a comunidade em geral, na qual país e mães fazem parte da diretoria, estão criando o Instituto Meninas Crespas.
“Nas rodas de conversa, de forma coletiva, escolhemos que ações faremos. Estamos com uma biblioteca afrocentrada e comunitária para que as pessoas do bairro tenham acesso à história negra. Também estamos escrevendo cartas de empoderamento para mulheres da Casa Mirabal, um local que acolhe mulheres vítimas de violência doméstica, pois acreditamos na ideia de empoderar-se e empoderar outras, ou seja, só estou bem se estamos bem”.
Para espalhar informações sobre a África e poesia negra, foram confeccionados cartazes para serem fixados no bairro e, assim, multiplicar o aprendizado, além da gravação de um documentário para registro de todo e projeto e histórias.
“Temos aulas de Iorubá, pois defendemos uma educação bilíngue (Português/Iorubá), com um mestre/Griô, aproximando os saberes da educação formal com a informal e valorizando os conhecimentos dos mais velhos (Princípio Africano). As mães também têm aulas de dança, partindo da ideia da dança como autocuidado”, diz a professora.
Tanto os alunos, quanto os pais e parceiros, têm responsabilidades. Um grupo é responsável pela divulgação (Faceboook, email e Instagram), outro grupo é responsável por receber os visitantes e explicar como o projeto se organiza. Nas rodas de conversa, surgem as novas ações do grupo, que se organiza dividindo tarefas.
“Após cada ação, de forma coletiva, avaliamos a atividade, anotamos o que poderia melhorar e cada um faz uma autoavaliação. Também criamos as regras, que por ter sido construída de forma coletiva, faz com que cada aluno se sinta convocado a seguir“.
O projeto é conhecido fora do Brasil. Em 2018, a professora Perla esteve em Portugal, na Escola da Ponte, para um intercâmbio. “Nessa experiência pude apresentar como é nosso trabalho no Movimento Meninas Crespas. Este ano, fui reconhecida pela Marca Boticário, como uma das cinco mulheres que fazem a diferença no Brasil, devido ao trabalho no projeto”, finaliza.
Para saber mais, acesse: https://www.facebook.com/MeninasCrespasRestinga.