Um ano e meio após sua inauguração, a loja física de Jaciana Melquíades que foi fortemente abraçada pela comunidade enfrenta um momento difícil devido a pandemia.
Jaciana nos conta um pouco sobre o ano mágico da loja, em que conseguiu empregar pessoas e levar muita alegria e representatividade para os lares de milhares de crianças pretas.
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“No ano da inauguração a repercussão foi incrível, as bonecas foram recebidas de um jeito perfeito, esse primeiro ano da loja foi muito bom, foi um ano de muitas vendas e com pessoas muito felizes pela existência desse espaço. A comunidade abraçou ‘Era uma vez o mundo'”.
Jaciana fala sobre a importância que a sua loja tem no mercado, sendo resistência e mudando a infância de muitas crianças.
“Hoje no mercado a gente tem 7% de bonecas negras, é uma dificuldade muito grande você entrar numa loja típica e conseguir encontrar uma boneca negra. Mas, nós estamos falando também de criar representatividade para as crianças, construir um lugar onde elas consigam se ver e existir. Esse lugar de existência que a gente cria com uma loja, e incluir esse brinquedo no mercado é permitir que crianças negras cresçam mais saudáveis do que as crianças que estão mergulhadas só em uma realidade racista.”
A criadora fala da importância da permanência da loja neste momento e sobre suas tentativas de divulgação das bonecas durante a crise do covid-19.
“Nossas crianças que estão conseguindo fazer o isolamento vivem uma série de processos e distúrbios, sentem medo, pânico e a incerteza de como a vida vai ser daqui para frente, então tem muita criança desenvolvendo depressão nesse momento. Mas tem também uma outra realidade, daquela criança que sequer consegue ficar confinada, e está exposta ao risco. Essa criança que na grande maioria vai ser uma criança negra, que está aí nas periferias e mesmo que saiba que tem que fazer isolamento, não tem condições.”
“Então nós iniciamos na ‘Era uma vez o mundo’ a distribuição de informativos para criança, criamos peças de informação, com a boneca usando máscara, ensinando a usar a máscara, a boneca ensinando a fazer a higiene da máscara e a fazer máscaras de tecido com roupas de casa e etc. É uma forma inclusive de acessar esse público infantil e fazer com que ele tenha um pouco mais de consciência, e mostrar como é que ele precisa se proteger. Falando com uma linguagem que acesse as crianças, e dê também um pouco de conforto a elas, porque uma criança sem informação é uma criança que fica com muito medo e elas precisam se sentir seguras neste momento.”
Com o fechamento das lojas e quiosques parceiros a “Era uma vez o mundo” que atualmente conta com 5 funcionários e sustenta essas famílias se encontra em um momento delicado, e depende da migração dos seus clientes do ambiente físico para o digital.
“Como pequenos empreendedores, todo o dinheiro que entrou no ano anterior, nós investimos no nosso negócio, não tínhamos recursos necessários para nos segurar neste momento de crise. Diferente das empresas grandes, não temos condições de ficar 3-6 meses sem vender, com o fechamento das nossas lojas em março, agora em maio nós começamos a sentir o peso de não estar vendendo. Fiz uma postagem nas redes sociais contanto nossa realidade, e como estamos em um momento muito próximo de quebrar se não retomamos as vendas. Toda nossa receita vinha desses pontos de vendas que agora estão fechados, precisamos salvar nosso negócio. A movimentação que fazíamos no espaço físico vamos fazer no digital.”
Comecei a empreender como a grande maioria de mulheres pretas que são empreendedoras no Brasil: por necessidade. Nada dessas coisas que narram o faturamento de um milhão no primeiro ano de funcionamento. E como quase toda empreendedora igual a mim, estou quebrando.
Segue o fio: pic.twitter.com/XzP3laFtPF— Jaciana. (@Jacianaa) May 14, 2020
Desde 2013 a “Era uma vez o mundo” vem transformando a infância de crianças pretas, lutar pela permanência desse espaço é contribuir para uma infância com muita representatividade e menos racismo.