Mundo Negro

Entre a imagem de força e o direito ao cuidado: mulheres negras e a solidão no trajeto

Ao longo da história, a imagem da mulher negra foi moldada a partir de atributos como força, resiliência e capacidade de enfrentar qualquer desafio. Essa construção social, repetida em ditados, campanhas e narrativas midiáticas, é vista por muitos como elogio — afinal, quem não gostaria de ser associada à coragem?

Mas essa mesma imagem tem um custo invisível: ela retira de nós o direito à vulnerabilidade. Pressupõe que possamos suportar sozinhas todas as pressões, violências e inseguranças, como se pedir ajuda fosse sinal de fraqueza. Essa expectativa se infiltra até nas situações mais cotidianas, inclusive na forma como nos deslocamos.

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Para muitas mulheres negras, voltar para casa depois do trabalho ou da faculdade não é apenas uma questão de tempo e distância. É uma operação mental de segurança. Escolher a rota mais movimentada, mesmo que mais longa. Avisar alguém quando sai e quando chega. Fingir estar ao telefone para inibir aproximações. Manter as chaves na mão, os vidros fechados, a atenção redobrada.

Essa rotina, que deveria ser exceção, se torna regra. E ela é validada pelos números: 97% das mulheres brasileiras dizem sentir medo ao se locomover nas cidades, segundo pesquisa Instituto Patrícia Galvão + Locomotiva (2024). Um dado que fala mais sobre o ambiente em que vivemos do que sobre as mulheres que o habitam.

Nesse cenário, a tecnologia aparece como uma aliada possível — não para substituir políticas públicas ou mudanças estruturais, mas para oferecer suporte imediato quando necessário. O OnStar, sistema presente no Chevrolet Tracker, é um exemplo. Entre suas funções, está o Acompanhamento de Trajeto, no qual especialistas monitoram, em tempo real, o percurso da motorista, quando ela solicita, até a chegada ao destino.

Imagine a cena: é noite, e uma mulher dirige sozinha para casa. Ao notar que uma moto mantém a mesma distância atrás dela por vários minutos, ela aciona o botão do OnStar no painel. Em segundos, um operador responde, acessa o GPS do veículo e inicia o acompanhamento. Durante todo o trajeto, mantém contato por voz, orienta sobre possíveis desvios e, caso necessário, aciona as autoridades. Ao chegar, confirma que ela entrou em casa em segurança antes de encerrar o atendimento.

Para mulheres negras, que historicamente carregam a responsabilidade de cuidar de todos e de si mesmas sem rede de apoio formal, ter um recurso como esse é mais do que conveniência. É uma forma de transformar o deslocamento solitário em algo menos sobre sobrevivência e mais sobre tranquilidade.

O cuidado não deveria ser exceção. E segurança não deveria depender de estratégias individuais. Mas enquanto a realidade não muda, toda ferramenta que amplie a sensação de amparo é um passo na direção certa.

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