O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que se aproxima, consolidou-se como a principal porta de entrada para o Ensino Superior no Brasil e uma ferramenta crucial para a mobilidade social. Contudo, a jornada da juventude negra para acessar e prosperar neste exame é um reflexo contundente das profundas e persistentes desigualdades raciais e sociais que estruturam a educação brasileira.
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Apesar de inegáveis avanços, como as políticas de ações afirmativas, a juventude negra segue enfrentando barreiras severas:
- Evasão e Atraso Escolar: Em 2023, cerca de 72,5% das 9 milhões de pessoas que não haviam concluído o ensino médio eram pretas ou pardas. A evasão é acentuada por fatores como dificuldades financeiras (42% dos casos), responsabilidades familiares e problemas de transporte.
- Baixa Representatividade no Superior: Esses desafios culminam em uma presença significativamente menor de jovens negros aptos a realizar o ENEM e ingressar no ensino superior. Atualmente, a presença de negros entre 18 e 24 anos atinge apenas 19,3%, em forte contraste com os 36% entre os brancos.
- Desigualdade de Infraestrutura e Rendimento: Estudantes pretos, pardos e indígenas frequentemente estão em escolas com pior infraestrutura (Governo Federal, Nota Técnica sobre Desigualdade Racial na Educação). Essa disparidade se reflete no desempenho: em 2023, a média de candidatos pretos e pardos no ENEM foi muito inferior. Apenas 8% dos candidatos pretos obtiveram nota acima de 600 pontos em Matemática, contra 20,2% dos brancos.
- Acesso a Cursos de Prestígio: Mesmo com o impacto positivo da Lei de Cotas, que elevou a presença de negros nas universidades federais para 49% em 2024 (comparado a 20% em 2009), a representação em cursos de maior prestígio e remuneração, como Medicina, ainda é muito baixa.
Políticas Afirmativas: A Luta Pela Permanência
A Lei de Cotas, juntamente com o ENEM, Sisu, ProUni e FIES, foi um divisor de águas, garantindo o acesso à universidade historicamente negado a dezenas de milhares de jovens negros.
No entanto, a luta pela inclusão não pode parar na matrícula. É fundamental fortalecer as políticas de permanência, garantindo:
- Bolsas de estudo;
- Auxílios moradia e alimentação;
- Apoio psicopedagógico.
Essas medidas são cruciais para que a juventude negra que ingressa pelo ENEM consiga concluir o curso com sucesso e ter uma experiência universitária digna.
Garantir que o ENEM seja, de fato, para a juventude negra exige um esforço que transcende a prova. Passa por combater o racismo estrutural desde a Educação Infantil, investir em infraestrutura nas escolas públicas e fortalecer as políticas de acesso e permanência no Ensino Superior.
Deixar a juventude negra para trás é abrir mão de uma parte significativa do futuro do Brasil. A luta por um ENEM inclusivo e por uma educação antirracista é, portanto, uma luta urgente por um país mais justo, equânime e potente.
Fontes:
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua)
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP)
Censo da Educação Superior
Microdados e Notas Técnicas do ENEM
Governo Federal/Ministério da Educação (MEC)
Dados sobre a implementação e impacto da Lei de Cotas (Lei nº 12.711/2012)
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