Empreendedores negros de diferentes regiões do país se organizaram para lançar na última terça-feira, (18), o manifesto “Por outra história econômica para a população negra na Democracia Brasileira!”.
O documento, elaborado por empreendedores cuja atuação passa por áreas distintas da luta por igualdade e bem viver, busca colher assinaturas de empreendedores, intelectuais, pensadores e atores sociais negros ou simpatizantes da pauta em diferentes áreas de atuação. O texto pontua a realidade vivenciada por esses empreendedores em um cenário de luta por igualdade, que ainda dialoga pouco para melhoria de suas realidades, que pode se tornar ainda mais agravante caso o governo Bolsonaro continue.
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O texto afirma que “não existe democracia em um Estado estruturalmente racista”. O manifesto além de pontuar a maneira com os governos considerados democráticos atuaram na realidade das empreendedoras e empreendedores negros, aponta ainda como mesmo nestes governos, esses continuam enfrentando desafios seja para obter acesso a crédito, gerir suas finanças, bem como encontrar apoio qualificado para os modelos de negócios que desenvolvem, faz um contraponto sinalizando que essa situação pode ficar ainda mais complicada em um governo onde as identidades individuais, coletivas, sociais e culturais não são fortalecidas.
De acordo com Katiúcha Watuze, Comunicóloga, Empreendedora social e co-fundadora do Pretaria.Org no estado do Rio de Janeiro, o cenário de total desamparo, não só torna naturalizadas as práticas discriminatórias e os absurdos que alcançam o lugar comum. Para ela, manter um governo insensível aos diferentes atores do país, faz com que elementos racistas que precisam ser combatidos continuem enquanto ameaça não só aos negócios com viés racial, como também às vidas negras.
De acordo com Luciane Reis, pesquisadora e mestra em desenvolvimento e gestão social pela faculdade de administração da UFBA, e fundadora do Mercafro uma empresa voltada para curadoria de conhecimento econômico com viés racial, no estado da Bahia, “garantir a existência de governos que combatam a exclusão e o apagamento identitário, de forma a garantir o acesso à cidadania e a revogação dos diferentes processos de espoliação econômica, social e cultural é fundamenta para construção de um pais que tire a economia negra de uma invisibilidade e apagamento que ignora sua importância junto a economia brasileira”. Investir em pesquisa para que o desenvolvimento econômico e sustentável que o país defende esteja alinhado a uma prática de gestão empresarial e empreendedora mais inclusivas e com equidade é fundamental na nova realidade que buscamos ter”. Conclui.
Para Douglas Moura, relações públicas e criados da Elo Negro, agência de afrocomunicação, empresa preta voltada para a criação de estratégias de comunicação com viés racial do estado de São Paulo, “não é possível a empreendedores negros de diferentes setores se alinhar a uma possibilidade de governo de extrema-direita. Não é mais uma questão de representatividade apenas, é sobre a possibilidade de pessoas negras terem dignidade para criar, produzir e usufruir do bem-viver”. Moura considera que para combater práticas individuais e coletivas de racismo, é preciso tirar a economia negra da invisibilidade – economia essa que, em um universo de 56% da população autodeclarada negra, tem mais de 40% de adultos que empreendem sobre o viés racial, movimentando mais de R$ 1,7 trilhões, valor significativo para economia do país. Conclui
A diversidade de empreendedores que emprestam sua experiência, vivência e olhares para o documento que é apresentado a sociedade, aponta para a necessidade mais do que urgente da presença de gestores públicos que coloquem os demarcadores de raça e gênero enquanto elementos importantes para formulação de políticas públicas e iniciativas que revertam os problemas causados a essa parcela significativa da população, em especial na área empresarial e empreendedora. O estado brasileiro ao longo da história, causou danos que impactam de forma diferenciada sua população, e a continuidade de ambientes desfavoráveis a valorização de outros atores econômicos só deixa esses mais uma vez a mercê de uma ação genocida do atual presidente da República, sinaliza o documento.
Os empreendedores, pensadores e diferentes atores sociais que assinaram o documento não vão se omitir em cobrar responsabilidade de todos que pactuam com essa situação.
Clique aqui para ler e assinar o texto na íntegra
Link da petição: l1nq.com/economianegra