O ex-goleiro e técnico, Edinho, está relembrando o legado de Pelé um ano após a morte do Rei do Futebol. Em uma entrevista concedida para o jornal Estadão, ele destacou o legado antirracista do pai, reforçando a genialidade de Pelé e como sua aclamação como Rei do Futebol teve um impacto revolucionário para a comunidade negra globalmente.
“A associação do negro com a excelência era uma coisa que não existia. Era um sub-humano, um humano de segunda classe, que jamais poderia atingir grandeza, excelência em qualquer campo. E ele mostrou o contrário, que o negro tem todo o potencial. Não só tem, como ele se tornou a maior referência do esporte no século. Essa contribuição é difícil de igualar”, disse Edinho na entrevista para o jornalista Gilvan Ribeiro.
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Edinho também rebateu as críticas sobre um possível não envolvimento de Pelé na luta contra o preconceito racial, contextualizando o período ditatorial no Brasil como um fator significativo: “O Pelé viveu numa época de ditadura no Brasil, numa realidade completamente diferente. As pessoas desapareciam nessa época, sumiam da face da Terra. Quem levantava a mão eventualmente acabava ficando sem a mão, e ele, mesmo assim, sempre com a cabeça erguida. Sempre representando o negro, sendo um representante do negro que o mundo inteiro tinha como referência, como inspiração.”
“O mundo inteiro podia olhar e falar: “Tem um rei preto lá no Brasil! Então, se tem um rei preto lá, eu posso ser um rei preto”. Todos os negros se sentiam representados por ele. Para mim, historicamente, isso vai ser um legado muito mais importante em se falando da luta do negro na humanidade do que ele possa ser cobrado no sentido prático, momentâneo. A sua história de vida foi a grande contribuição que ele fez pra humanidade, para o negro da Terra. Não é fácil saber se conduzir, saber entrar e sair, saber ser idolatrado e representar o país que muitas vezes não o tratou com respeito”, destacou.
Ele expõe as ameaças sofridas pela família durante esse tempo sombrio, revelando que agentes da ditadura chegaram a ir à casa de Pelé para ameaçar sua então esposa e deixar mensagens intimidatórias para o craque: “Minha mãe conta que houve uma dúvida se ele ia participar ou não da Copa de 70. Ele estava um pouco desiludido diante da última Copa em que se lesionou (1962) e da outra que não foi um sucesso (1966). Enfim, ele ponderou não participar. E em determinado momento, minha mãe falou que ele estava viajando e chegaram em casa dois homens de preto, entraram e falaram: “Olha, é o seguinte: melhor teu marido considerar, é bom ele jogar essa Copa, vai ser bom para vocês, vai ser bom para ele…” Isso mais de uma vez… e cartas anônimas. Embora o mundo já o reverenciasse como rei, no país dele era mais um preto que estava a comando do interesse do Estado ali do momento, que tinha ele como o grande garoto-propaganda”, revelou Edinho.