“Calma amor, tem dias que a gente não está bem. Eu acordei pensando em nós e em tudo que a gente viveu”. É com pedido de paciência e amor que começam os versos de ‘Calma, respira’, da cantora e rapper Drik Barbosa com participação de Péricles. A faixa é o terceiro lançamento do Projeto Nós, iniciado no ano passado, que é “guiado por diferentes olhares, como o do autocuidado, o da ancestralidade, o do afeto e o do diálogo”. A canção será lançada hoje, 19h, com clipe produzido pela Lab Fantasma.
O refrão nasceu nas mãos do produtor Evandro Fióti, que descartaria a canção, mas a segunda chance veio com a identificação de Drik com a mensagem falando diretamente à sensibilidade da cantora. “ Já começa falando para ter calma e era tudo que eu estava precisando, que eu estou precisando. Acho que a maioria de nós. Então bateu muito forte. Eu disse ‘Fióti, pelo amor de Deus, vamos construir essa música pro projeto (Nós)’, para ser uma das músicas porque tem tudo a ver com o que eu estou falando, sobre reumanização, sobre saúde mental, sobre como se apoiar coletivamente”, explica Barbosa, que se juntou a sua irmã e instrumentista Kelly Souza e Fióti para fundir vivências e terminar ‘Calma, respira’.
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Tanto no EP de estreia ‘Espelhos’, de 2018, como no debute de 2019 (‘Drik Barbosa’), a artista traz faixas que misturam Hip-Hop, Rap, R&B, mas também o romantismo característico do pagode, inclusive nas harmonias, como foi o caso da canção ‘Tentação’, encontro com os baianos do ÀTTØØXXÁ. O novo single é um pagode cru, com força orgânica dos instrumentos do estilo e a voz inconfundível e poderosa do ex-líder do Exaltasamba, Péricles. “No momento que a gente foi para o estúdio eu tinha determinado que o estilo seria o pagode, porque é parte do ‘Nós’ reverenciar outros gêneros para além do R&B e Hip-Hop que eu já faço, reverenciar gêneros que já fazem parte de mim, da minha identidade musical, da minha autoestima, da minha história como pessoa preta. Pagode tem que estar e pensou pagode já vem o Péricles. Não o conhecia para além de fã”, explica Drik, fã do estilo que ouvia quando cabulava aula com os colegas na adolescência.
Com a ponte feita pelo selo Lab Fantasma, Péricles ouviu e se sentiu tocado, dando parte de sua assinatura ao trabalho.
O ano pandêmico atrapalhou os planos de muitos artistas e no caso de Drik Barbosa não foi diferente. A pandemia interrompeu os projetos da primeira turnê internacional da rapper. O oxigênio para tempos sombrios vem da música, mesmo que não possa dividir o calor das composições com o público. Apesar de vivermos numa época de singles, a artista pensa em trabalhar melhor o álbum anterior e criar para o próximo.” Eu amo álbuns, amo criar, as pessoas adoram ouvir e isso é especial (…) Eu tenho muito isso de ouvir de cabo a rabo”, diz.
Gloria Groove, Karol Conká, Luedji Luna, Rael e Emicida são alguns dos nomes que já dividiram o microfone com Drik Barbosa. Com apenas 29 anos ela coleciona participações de artistas consagrados da cena independente. Para futuros singles do atual projeto, Drik diz que terá feat, mas não pode revelar. Entre sorrisos largos a única informação é que já cantaram juntos antes, o que não é uma pista tão clara para os curiosos.
Acostumada a transitar entre versos românticos e letras de empoderamento feminino, Drik sente que está num momento de buscar serenidade entre os dois lados. “ Inclusive ‘Calma, respira’ está sendo um respiro para mim agora porque eu estou passando por dias muito difíceis e ela está sendo um antídoto para mim e isso está sendo muito foda (…) nesse momento eu estou pensando em como encontrar minha energia para conseguir continuar lutando, caminhando, denunciando. É um momento de muito autoconhecimento na minha vida. Tanto que eu estou mais quietinha que normalmente, inclusive nas minhas redes sociais porque eu estou aqui tentando entender as coisas para não me precipitar e compartilhar coisas sem entender o que está acontecendo em mim”, reflete.
Evitando usar palavras pesadas, Barbosa se diz, no mínimo, decepcionada com o governo do país, mas evita deixar de sentir esperanças diante do quadro atual. Tem usado a pandemia para criar, mas não acha que artistas devem se posicionar se estiverem numa situação difícil no campo pessoal, como foi seu caso que enfrentou um problema de saúde grave na família e não pôde se engajar na campanha de protestos contra o atual presidente da República. “Eu não posso dizer que tal artista tenha sanidade para falar sobre o que está acontecendo no mundo porque eu não sei o que ele está passando”, opina.
Para o lançamento de ‘Calma, respira’, que acontece hoje, 19h, em todas as plataformas e com clipe lindo lançado no Youtube, Drik Barbosa deixa um recado a quem ouvir: “Olhe ao redor e valorize as pessoas que você tem perto. Continue se cuidando e entenda que todas as nossas atitudes no mundo nos afetam, que a arte continue sendo uma forma de união entre a gente. Que a gente tenha responsabilidade, que a gente vote certo no ano que vem. Vou estar aqui me cuidando para criar e continuar lançando cada vez mais coisas que fazem as pessoas sorrirem, refletir, fazer as pessoas se sentirem potentes como elas são e logo a gente vai estar perto, vai estar gritando nos palcos da vida. Estou com a expectativa muito grande para esse dia, vou chorar emocionada , mas é uma troca que público e artista estão precisando”, conclui.