Um registro histórico encontrado pelo jornal Folha de S. Paulo no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul expõe como proprietários de escravizados evitaram o recrutamento militar durante a Guerra da Cisplatina (1825-1828). O manuscrito, datado do período do conflito, mostra que os senhores enviavam cativos e libertos para lutar em seu lugar.
O documento contém um abaixo-assinado de fazendeiros da Vila de Cachoeira, liderados por Antônio José de Menezes. Nele, os estancieiros argumentam que já cumpriam seu dever ao fornecer homens para a guerra: “O suplicante (…) pagou a seus próprios custos homens libertos e escravos, vestiu-os, armou-os e proveu-os de tudo necessário para a guerra (…), colocando-os em campanha”. Os senhores pediam isenção do alistamento alegando que sua ausência prejudicaria a segurança local. “Se nos retirarmos, os desertores e malfeitores se unirão aos escravos”, advertiam no documento.
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A Guerra da Cisplatina, entre o Império brasileiro e as Províncias Unidas do Rio da Prata, foi marcada por dificuldades de recrutamento. Como explicou o historiador Mário José Maestri Filho, “no século 19, os ricos e seus filhos só iam para guerra quando queriam”. A prática de enviar substitutos, principalmente escravizados, era comum desde o período colonial.
Alguns escravizados, porém, viam no conflito uma chance de liberdade. Tropas adversárias ofereciam alforria aos que desertassem. O naturalista francês Augustin de Saint-Hilaire registrou que os soldados negros das tropas inimigas se destacavam por sua coragem, pois “lutavam por sua própria liberdade”.
Legado
O documento ilustra como a escravidão se entrelaçou com as estratégias militares do Império. A descoberta reforça o papel dos escravizados como instrumento nas disputas de poder do Brasil Imperial, onde eram frequentemente usados como recursos descartáveis.
Com informações da Folha de S. Paulo