Por Alan Soares
No Brasil de 2025, a palavra “crédito” designa duas realidades radicalmente opostas. Para uns, é alavanca de enriquecimento, ferramenta de multiplicação patrimonial, estratégia sofisticada de construção de império. Para outros, especialmente para a população negra, é uma armadilha de sobrevivência, mecanismo de endividamento estrutural, caminho sem volta para a inadimplência e a exclusão.
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Esta não é apenas uma diferença de grau, mas de natureza. O sistema de crédito brasileiro não é neutro. Ele foi desenhado, historicamente, para transferir riqueza de baixo para cima, dos pobres para os ricos, dos negros para os brancos. E compreender essa dinâmica é fundamental para entender como o racismo estrutural se perpetua através das finanças.
O Abismo em Números: Quando os Dados Revelam o Racismo
Os dados de 2024 e 2025 revelam uma crise de endividamento sem precedentes, mas que atinge as classes sociais e as raças de maneiras brutalmente desiguais.
81% das famílias com renda de até três salários mínimos estão endividadas, com 37% inadimplentes e 18% sem condições de quitar seus débitos. Em contraste, 66% dos ricos (acima de 10 salários mínimos) estão endividados, mas apenas 14% inadimplentes e só 5% sem condições de quitar.
A aparente contradição, os pobres terem mais dívidas que os ricos, apesar de terem menos acesso a crédito revela algo fundamental: os pobres se endividam para sobreviver; os ricos se endividam para enriquecer.
E quando adicionamos a dimensão racial a essa equação, o quadro se torna ainda mais brutal. A população negra representa 56% dos brasileiros, mas 72,9% dos desempregados. Mesmo quando conseguem trabalho, ganham em média 66% do salário de pessoas brancas. Mulheres negras enfrentam taxas de desemprego mais que o dobro das de homens não negros.
No mercado de crédito especificamente, empreendedores negros têm crédito negado três vezes mais que empreendedores brancos, mesmo representando 53% dos micros e pequenos empreendedores do país. Quando conseguem crédito, frequentemente recebem condições piores: maiores taxas de juros, menores limites e prazos mais curtos.
Esta é a face do racismo financeiro: não apenas negar oportunidades, mas cobrar mais caro por elas quando finalmente são concedidas.
Rodar da minutagem 2:26 até 3:28 https://www.youtube.com/watch?v=e3_TniHlH0Q&list=RDe3_TniHlH0Q&start_radio=1
Como os Ricos Usam o Crédito: A Alavancagem como Acumulação
“Rico sempre financia”, afirmou Caio Mesquita, CEO do Grupo Empiricus, explicando como utilizou alavancagem financeira para adquirir uma propriedade de R$ 8 milhões, que quatro anos depois estava valendo R$ 20 milhões, com um ganho de R$ 15 milhões “sem nem mesmo precisar usar o próprio dinheiro”.
Esta lógica, pegar emprestado para enriquecer, é o oposto absoluto da experiência da população negra e pobre com o crédito. Para os ricos, o crédito permite:
Preservar liquidez: O dinheiro que seria usado na compra à vista permanece disponível para outras oportunidades de investimento.
Alavancar patrimônio: Com o mesmo capital, é possível adquirir múltiplos ativos, multiplicando exponencialmente os ganhos quando esses ativos se valorizam.
Acessar dinheiro barato: Brasileiros ricos costumam contrair empréstimos, muitos denominados em dólares, usando garantias como ações, com juros muito inferiores aos praticados para a população em geral.
Fazer o dinheiro trabalhar: Comprar um imóvel financiado e alugá-lo, usando a renda do aluguel para pagar as parcelas, permite aquisição de patrimônio com custo líquido próximo de zero.
A XP, a maior corretora independente do Brasil, abriu um banco oferecendo empréstimos onde indivíduos podem tomar crédito usando como garantia o dinheiro em fundos de investimento. Ou seja: você pega emprestado dinheiro do banco usando seu próprio dinheiro investido como garantia, mas mantendo esse dinheiro rendendo.
Esta é a mágica da alavancagem para os ricos: eles podem, simultaneamente, usar o dinheiro (via crédito) e mantê-lo (via investimentos que servem de garantia). O crédito não os empobrece, ele os enriquece.
Como os Pobres e Negros Usam o Crédito: Sobrevivência como Endividamento
Para a população negra e pobre, o crédito opera em uma lógica completamente oposta. Quando 81% das famílias com renda de até três salários mínimos estão endividadas, não estamos falando de estratégias de alavancagem patrimonial. Estamos falando de pessoas que usaram o cartão de crédito para comprar comida, que pegaram empréstimo para pagar remédio, que entraram no carnê da loja porque o salário não chegou até o fim do mês.
O endividamento da população negra tem características estruturalmente distintas:
1. Crédito de Alto Custo: A média de juros do rotativo do cartão era de 455% ao ano em 2023. Mesmo com as novas regras limitando a 100% ao ano em 2024, a situação permanece brutal. 75% dos brasileiros parcelam suas compras, e o cartão virou saída para necessidades básicas.
2. Ausência de Garantias: Sem patrimônio acumulado, resultado de séculos de escravização e exclusão , a população negra não consegue acessar linhas de crédito mais baratas. Paradoxalmente, quem menos precisa de crédito consegue crédito mais barato. Quem mais precisa, paga mais caro. Trata-se de uma verdadeira corrida dos ratos.
3. Uso para Consumo, não Investimento: O crédito não financia ativos que se valorizam ou geram renda. Financia despesas de consumo que não deixam nenhum resíduo patrimonial. A dívida permanece, mas o bem consumido já se foi.
4. Ciclo de Re-endividamento: 20,8% dos brasileiros destinaram mais da metade dos rendimentos às dívidas em janeiro de 2025. Quando um terço da renda vai para pagar dívidas, é impossível acumular poupança ou investir. Qualquer imprevisto gera novo endividamento.
5. Discriminação Algorítmica: Os sistemas automatizados de credit score reproduzem vieses raciais históricos. Morar em determinados bairros, ter determinados nomes, frequentar determinadas escolas… tudo isso é capturado por algoritmos que penalizam pessoas negras, mesmo quando têm perfil de risco similar ao de pessoas brancas.
A Herança Escravocrata do Sistema de Crédito
Para compreender por que o sistema de crédito opera como máquina de reprodução do racismo, precisamos retornar à nossa formação histórica.
Em torno da escravidão construiu-se uma ética do trabalho degradado, uma imagem depreciativa do povo, uma indiferença moral das elites em relação às carências da maioria, e uma hierarquia social de grande rigidez vazada por enormes desigualdades.
A escravidão não terminou em 1888. Ela se metamorfoseou, adaptou-se, encontrou novas formas de perpetuação. E uma das mais eficazes é justamente o sistema financeiro que nega sistematicamente crédito à população negra ou o concede em condições predatórias.
Durante a escravidão, a justificativa ideológica era que pessoas negras eram naturalmente inferiores. Após a abolição formal, essa justificativa se tornou insustentável legalmente. Mas o sistema precisava de uma nova narrativa para legitimar a continuidade das exclusões.
Entra o sistema de crédito baseado em “risco”. Agora, a narrativa não é mais que pessoas negras são naturalmente inferiores. É que elas são “mais arriscadas”, que “não têm histórico de crédito”, que “não têm garantias suficientes”. A conclusão prática é a mesma: elas não merecem crédito ou devem pagar mais caro por ele. Ou seja, a justificativa mudou da biologia para as finanças.
Este é o golpe de mestre da ideologia: transformar uma injustiça histórica e estrutural em “avaliação técnica de risco”. Os descendentes de escravizados, sistematicamente impedidos de acumular riqueza, capital e patrimônio por séculos, são agora informados que se não conseguem crédito, é porque são de “alto risco”.
O Lucro sobre o Endividamento Negro
A dívida da população negra não é apenas um problema social. É um negócio altamente lucrativo.
O sistema financeiro brasileiro lucra espetacularmente com o endividamento da população pobre e negra através de juros estratosféricos, multas, tarifas e renovação perpétua de dívidas que nunca são quitadas completamente.
Enquanto isso, o número de brasileiros bilionários chegou a 60 em 2024, acumulando R$ 943 bilhões, um crescimento de quase 38% de suas fortunas em um ano. De janeiro a setembro de 2024, as isenções fiscais para grandes empresas chegaram a quase R$ 111 bilhões.
A equação é clara: os pobres e negros pagam juros absurdos que enriquecem bancos, enquanto os ricos recebem isenções fiscais que empobrecem o Estado. E então o Estado, sem recursos, corta gastos sociais, forçando mais pessoas ao endividamento privado para acessar serviços que deveriam ser públicos.
A Taxa Selic: Arma de Classe e Raça
O Comitê de Política Monetária do Banco Central aumentou a Taxa Selic para 15% em 2025.
Como observa Maria Lúcia Fattorelli, coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, “o que adianta aprovar um pacote de cortes na casa de R$ 30 bilhões se, a cada 1% de aumento da Taxa Selic, cresce em R$ 55 bilhões os gastos com a chamada dívida pública?”
A Selic opera como mecanismo de transferência de renda dos pobres e negros para os ricos e brancos através de múltiplos canais:
Encarece o crédito popular: Quando a Selic sobe, o trabalhador negro que precisa parcelar uma geladeira paga ainda mais.
Valoriza aplicações dos ricos: Quando ela sobe, quem tem dinheiro aplicado ganha mais (sem trabalhar, sem produzir, apenas por ter capita)l.
Drena recursos públicos: O pagamento de juros consome parcela gigantesca do orçamento que poderia ir para saúde, educação, políticas de igualdade racial.
Mantém o desemprego: Juros altos desestimulam investimento produtivo. Resultado: mais desemprego, que afeta desproporcionalmente a população negra.
“A Selic é apresentada como instrumento técnico neutro. Na prática, é uma arma que transfere renda sistematicamente dos trabalhadores negros para os rentistas brancos.”
O Movimento Black Money: Construindo Autonomia Financeira Negra
Diante desse cenário devastador, em 2017, Nina Silva e Alan Soares fundaram o Movimento Black Money (MBM) com uma missão clara: desenvolver inserção e autonomia da comunidade negra na era digital, rompendo com a dependência de um sistema financeiro estruturalmente racista.
Inspirado no pan-africanismo e nas experiências de comunidades negras norte-americanas, o MBM parte de uma constatação simples mas poderosa: se a população negra representa 56% dos brasileiros e movimenta R$ 1,9 trilhão por ano, por que esse dinheiro não circula dentro da própria comunidade, gerando empregos, oportunidades e autonomia para pessoas negras?
Estudos mostram que, nas comunidades asiáticas dos EUA, um dólar circula por até 28 dias antes de sair da comunidade. Entre judeus, 19 dias. Em áreas predominantemente brancas, 17 dias. Mas na comunidade negra, o dólar vive apenas 6 horas.
O Movimento Black Money atua em múltiplas frentes para mudar essa realidade:
1. Educação e Capacitação: Afreektech
O Afreektech é o braço educacional do MBM, oferecendo bolsas de estudo gratuitas em cursos de Transformação Digital, Carreiras Tech, Marketing Digital, Inteligência Artificial, Ciência de Dados e Programação, Empreendedorismo, entre outros.
A lógica é clara: se o sistema financeiro tradicional nega crédito a empreendedores negros porque “não têm planejamento”, “não têm estrutura”, “não sabem gestão de caixa”, o MBM oferece a capacitação necessária. Mas não qualquer capacitação, mas uma que reconhece as barreiras estruturais específicas que a população negra enfrenta.
Como explica Nina Silva: “O afroempreendedor está numa questão de sobrevivência. Não tem estrutura, não tem planejamento, não tem plano de caixa, não sabe quanto vai rodar. A gente tenta tratar [este déficit] e impulsionar”.
2. Serviços Financeiros: D’Black Bank
O D’Black Bank é uma fintech 100% digital, desenvolvida por pessoas negras que vivenciam as mesmas dores do público-alvo, oferecendo serviços financeiros com taxas justas e incentivos sociais a projetos educacionais.
Enquanto empreendedores negros têm crédito negado três vezes mais em bancos tradicionais, o D’Black Bank trabalha para oferecer:
- Maquininha de cartão “Pretinha”: Com taxas menores que as praticadas pelo mercado, já funcionando em afronegócios de diversas cidades brasileiras.
- Cartão de crédito e conta digital: Com menores burocracias e condições mais justas, funcionando com bandeiras tradicionais.
- Microcrédito: Projeto em desenvolvimento para oferecer crédito comumente negado a afroempreendedores, de cartões com limites mais altos a empréstimos com juros acessíveis.
- Educação financeira: Conteúdos e formação para que a população negra desenvolva consciência e autonomia sobre suas finanças.
A proposta não é apenas criar “mais um banco”, mas um negócio social onde o lucro retorna para a própria comunidade através de investimentos em capacitações e projetos educacionais. É fazer o dinheiro trabalhar para a emancipação da população negra, não para sua exploração.
3. Networking e Conexões: Happy Hours
O MBM promove encontros regulares entre empreendedores e profissionais negros para formar networking, conectar talentos, encontrar investidores e criar uma rede de apoio mútuo.
No mercado de tecnologia, onde a ausência de diversidade é o terceiro maior desafio para o ingresso de pessoas negras, criar comunidades de aprendizagem e apoio é fundamental. Essas redes não apenas facilitam o acesso a oportunidades, mas também criam modelos de referência, algo essencial quando apenas 29,5% dos cargos gerenciais no Brasil são ocupados por pretos e pardos.
4. Marketplace e Circulação: Mercado Black Money
O Mercado Black Money é uma plataforma online que conecta empreendedores negros e consumidores antirracistas, permitindo que o capital financeiro circule por mais tempo dentro da comunidade negra.
A premissa é simples: “Se não me vejo, não compro”. Mas também o inverso: “Se me vejo, escolho intencionalmente comprar de quem me representa”.
Atualmente, o marketplace reúne cerca de 2,5 mil empreendedores
5. Inovação e Tecnologia: MBM Inovahack
O MBM Inovahack reúne empreendedores, programadores, designers, cientistas de dados e outros profissionais de tecnologia para criação de soluções colaborativas para problemas específicos da comunidade negra.
Nas últimas edições, o evento já mobilizou mais de 700 participantes, com 84% de participantes negros e 70% de mulheres. Os melhores projetos são premiados com mais de R$ 20 mil, bolsas de estudos e possíveis vagas em programas de capacitação.
É um espaço de protagonismo negro e periférico dentro do universo da inovação e tecnologia, que visa impulsionar o empreendedorismo e empregabilidade tecnológica.
6. Suporte Emergencial: Fundo de Apoio a Famílias Negras
Durante a pandemia, o MBM lançou campanha de crowdfunding para ajudar famílias que não conseguiriam manter as vendas ou o sustento. A iniciativa tem caráter emergencial e visa atender, preferencialmente, famílias negras lideradas por mães solo e afroempreendedores.
A lógica é de solidariedade prática: reconhecer que, em momentos de crise, a comunidade precisa se apoiar mutuamente, porque o Estado e o mercado tradicionalmente nos abandonam.
Por Que o Movimento Black Money Importa: Autonomia como Resistência
O Movimento Black Money não é apenas uma iniciativa de capacitação ou uma plataforma de negócios. É uma estratégia política de construção de autonomia econômica para a população negra em um país onde o sistema financeiro foi historicamente usado como ferramenta de dominação racial.
Quando Nina Silva diz que “não basta incluir trainees negros na empresa, é preciso enegrecer a lista de fornecedores”, ela está articulando uma visão profunda: a verdadeira transformação não vem de algumas pessoas negras sendo incluídas em estruturas brancas, mas de pessoas negras construindo suas próprias estruturas de poder econômico.
O MBM reconhece que a população negra não será salva por bancos tradicionais que historicamente a excluíram. Não será salva por políticas públicas que sistematicamente nos ignoram. Não será salva esperando que o sistema se torne menos racista.
A autonomia precisa ser construída, através de educação que nos qualifica para a economia digital, de serviços financeiros que servem nossas necessidades reais, de redes que nos conectam e fortalecem, de circulação intencional de dinheiro dentro da comunidade.
Como afirma Alan Soares, também fundador do MBM: “Retomar a nossa africanidade e a manifestação da nossa afro-brasilidade é trazer o nosso pensamento ao Sul e, realmente, trazer a essência das nossas raízes. Nós nascemos e somos oriundos de uma sociedade matriarcal e de uma sociedade comunitária”.
É essa ancestralidade comunitária que o Movimento Black Money resgata e atualiza para o século XXI: a compreensão de que nossa força está na união, de que prosperamos coletivamente, de que o dinheiro que circula entre nós nos fortalece a todos.
O Que Falta: Desafios e Caminhos
Apesar de seu potencial transformador, o Movimento Black Money e iniciativas similares enfrentam desafios estruturais imensos:
1. Escala: Seu impacto na área educacional é significativo, mas há mais de 9 milhões de pessoas negras desempregadas no Brasil. Como expandir o alcance sem diluir a qualidade?
2. Acesso a Capital: Até hoje, Nina e Alan são os únicos investidores do MBM. De forma proposital, querem manter controle e visão, mas é algo que limita a velocidade de crescimento.
3. Regulação Financeira: Operar serviços financeiros exige navegação complexa de regulamentações pensadas para grandes instituições, não para fintechs de impacto social.
4. Mudança Cultural: Fazer o dinheiro circular por mais tempo na comunidade negra exige transformação de hábitos de consumo arraigados por séculos de colonização.
5. Racismo Institucional: Mesmo empreendedores negros de sucesso enfrentam barreiras sistemáticas.
Mas esses desafios não diminuem a importância do trabalho. Ao contrário, a reforçam. Porque o Movimento Black Money está construindo algo que ninguém nos dará: autonomia. E autonomia não se pede — se conquista.
Alternativas Estruturais: O Que Mais Precisa Mudar
O Movimento Black Money é parte essencial da solução, mas transformação completa exige também mudanças estruturais de políticas públicas:
1. Teto para Taxas de Juros: Juros de 100% a 455% ao ano são agiotagem legalizada. Precisamos de limites máximos drasticamente mais baixos.
2. Crédito Produtivo Público com Recorte Racial: Bancos públicos oferecendo crédito para empreendedores negros com juros subsidiados e foco em geração de renda.
3. Cotas para Fornecedores Negros: Empresas públicas e privadas obrigadas a reservar percentual de suas compras para fornecedores negros.
4. Reforma Tributária Progressiva: Taxar fortunas, heranças, grandes rendas e usar recursos para financiar renda básica e serviços universais que reduzam a necessidade de crédito privado.
5. Auditoria da Dívida Pública: Questiona a legitimidade de uma dívida que cresce via Selic e drena recursos que poderiam financiar igualdade racial.
6. Regulação contra Discriminação Algorítmica: Algoritmos de credit score que reproduzem vieses raciais precisam ser auditados e regulados.
7. Reparações Históricas: Reconhecer que a escravidão gerou dívida histórica do Estado brasileiro com a população negra e que essa dívida precisa ser paga através de políticas robustas de reparação.
Conclusão: Dívida Tem Cor, Mas a Autonomia Também
No Brasil contemporâneo, o sistema de crédito/dívida funciona como um dos principais mecanismos de reprodução do racismo estrutural. Não apesar de como foi desenhado, mas exatamente porque foi desenhado para isso.
Para os ricos e brancos, o crédito é alavanca de acumulação. Para os pobres e negros, o crédito é armadilha de sobrevivência.
Quando 81% das famílias pobres estão endividadas, com 37% inadimplentes, quando empreendedores negros têm crédito negado três vezes mais, quando mulheres negras enfrentam desemprego duas vezes maior, não estamos diante de fracassos individuais. Estamos diante de um sistema que foi construído para produzir exatamente esses resultados.
Mas em meio a esse cenário devastador, o Movimento Black Money nos oferece algo precioso: uma visão de autonomia possível. A compreensão de que, enquanto lutamos por transformações estruturais, podemos também construir nossas próprias estruturas: de educação, de finanças, de circulação de riqueza, de apoio mútuo.
Como afirma Nina Silva, fundadora do MBM e reconhecida como a mulher mais disruptiva do Mundo: “Qual é a riqueza, o que você tem dentro de você e o que você pode fazer no seu dia a dia para enriquecer e investir na sua própria comunidade?” É isso o que o movimento coloca.
A dívida tem cor. O racismo financeiro é real. Mas a resistência também tem cor. E a autonomia que estamos construindo, passo a passo, bolsa por bolsa, empreendimento por empreendimento, negócio por negócio, é a prova de que outro futuro é possível.
Um futuro onde o crédito não seja armadilha, mas ferramenta. Onde o dinheiro circule dentro da comunidade, fortalecendo a todos. Onde pessoas negras não precisam implorar por migalhas de um sistema que nos odeia, mas construam suas próprias instituições que nos amam.
Esse futuro não virá de bancos tradicionais. Não virá de políticos que nos ignoram. Virá de nós mesmos – organizados, capacitados, conectados, fazendo nosso dinheiro trabalhar para nossa própria libertação.
O Movimento Black Money já está construindo esse futuro. E convida cada pessoa negra, cada aliado antirracista, a fazer parte dessa jornada.
Porque se a dívida tem cor, a autonomia também tem. E essa cor é preta.
Saiba mais e participe:
- Movimento Black Money: www.movimentoblackmoney.com.br
- Afreektech: Inscrições abertas para cursos gratuitos – www.afreektech.com.br
- D’Black Bank: Serviços financeiros de negros para negros
- Mercado Black Money: Compre de empreendedores negros
- Redes sociais: @movimentoblackmoney
A autonomia financeira da população negra não é um sonho. É um projeto. E você pode fazer parte dele.
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